Flávio Azevedo - Reflexões
Eu sempre me perguntei: “o que acontecerá por ocasião das mortes dos reis, Pelé e Roberto Carlos?”. Sempre apostei que quando isso acontecer haverá uma comoção nacional! Quiçá, internacional! Se você não acompanha futebol e/ou não tem o hábito de ouvir as transmissões pelo rádio, é possível que não conheça Luiz Mendes, o comentarista da palavra fácil.
Se você não conhece Luiz Mendes, certamente não conhecerá mais, porque às 10h15min do último dia 27 de outubro, aos 87 anos, ele morreu por complicações decorrentes de uma leucemia linfocítica crônica, como informou a assessoria do Hospital São Lucas, onde o comentarista estava internado desde o último dia 18 de outubro, no Centro de Tratamento Intensivo (CTI). Ele estava casado há 64 anos com a atriz e radialista Daisy Lucidi, com quem teve um filho, netos e uma bisneta.
Luiz Mendes tinha setenta e um anos de carreira e foi um dos fundadores da Rádio Globo. Aquele tradicional “minha gente” que ele sempre falava na introdução dos seus comentários, não será mais ouvido. Calou-se para sempre. Para nós jornalistas, Mendes, que era gaúcho de Palmeiras das Missões – torcedor do Botafogo no Rio, e do Grêmio, nos “pampas” – é uma espécie de Pelé. Ou seja, um craque, um fora de série!
Em mais de 70 anos de carreira, o radialista narrou fatos marcantes da história do futebol brasileiro, como a final da Copa de 1950, no Rio, quando o Brasil perdeu a final para o Uruguai; e a Copa do Mundo de 1958, a primeira das cinco conquistadas pela seleção brasileira.
Reconhecimento dos quatro grandes cariocas
O Botafogo divulgou uma nota oficial lamentando a morte do comentarista e decretou três dias de luto por conta do falecimento de Luiz Mendes, além de querer homenageá-lo com um minuto de silêncio antes da partida contra o Cruzeiro, neste sábado, pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro, no Engenhão.
Por meio de nota oficial, o presidente do Fluminense, Peter Siemsen, prestou condolências aos familiares de Luiz Mendes, ressaltando a "correção, simplicidade e ética profissional" do radialista. O Flamengo também divulgou uma mensagem de pesar no site do clube exaltando a "simplicidade, inteligência e cultura deste profissional exemplar".
O presidente do Vasco, Roberto Dinamite, foi mais um a lamentar o falecimento de um dos radialistas mais conhecidos do Brasil. “É uma perda e não digo apenas no aspecto da comunicação, mas também da história do futebol. Ele é um cara que merece todos os elogios. O apelido de "Palavra Fácil" não é a toa. Sabia usá-las para criticar ou elogiar, mas nunca precisou ofender ninguém. É uma referência que precisa ficar para todos no jornalismo. O Vasco sente muito. Precisamos de mais pessoas como ele”, disse o presidente vascaíno.
Vida dedicada ao jornalismo esportivo
No site G1, encontro um trecho interessante sobre esse monstro sagrado do jornalismo brasileiro (gênero esporte), que fica órfão de uma mente privilegiada. No livro "Minha gente – Luiz Mendes, o mestre da crônica esportiva do Brasil" (editora 7 Letras), a jornalista Ana Maria Pires narra a trajetória do radialista em 70 anos de carreira, desde o início como locutor de um serviço de auto-falante na cidade de Ijuí (RS), passando pela contratação pela Rádio Globo do Rio, no final de 1944, o casamento com a atriz Daisy Lúcidi, uma estrela das radionovelas nos anos 50, e suas experiências de cobertura 'in loco" de 13 copas do mundo de futebol.
Em depoimento no livro, Mendes descreve sua narração no famoso gol do Uruguai. "Eu próprio fiquei tão perplexo na hora do gol, que dei nove inflexões diferentes ao gol. Eu fui narrando normalmente, “Gol do Uruguai!”. Depois, Gol do Uruguai? Gol do Uruguai, senhores! Gol do Uruguai... Gol do Uruguai... E fui assim, trocando de inflexão, até chegar à nona. Acho que fiz aquilo para despertar a mim mesmo e começar a falar como havia sido o gol, o que tinha acontecido e o que poderia acontecer, pois faltavam poucos minutos para o final da partida. Naquele momento, senti que a Copa do Mundo estava indo embora como água que corre pelos vãos dos dedos, algo que não se consegue segurar. O sentimento era cristalino. (...) Foi uma coisa terrível", disse o radialista em trecho do livro.
Na obra, Mendes descreve também sua maior alegria com o futebol. "A cobertura da conquista da primeira Copa do Mundo pela seleção brasileira, em 1958, na Suécia, foi a emoção mais forte que vivi em minha vida profissional. Tanto que meus olhos se encheram de lágrimas tão logo gritei “Brasil, Campeão do Mundo de 1958.” Como dizem por aí, a primeira vez a gente nunca esquece!"
Além da Rádio Globo, Luiz Mendes trabalhou também na Rádio Farroupilha,TV Rio, TV Globo, Rádio Continental, TV Educativa e TV Tupi e escreveu quatro livros sobre futebol: "As Táticas do Futebol Brasileiro – Da Pelada à Pelé (1963), "As Táticas do Futebol (Antigas e Atuais) (1979), "Futebol Regras e Táticas (1979) e "Sete (7) Mil Horas de Futebol" (1999).
O nosso adeus e o nosso muito obrigado a Luis Mendes, o Comentarista da Palavra Fácil!
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário