Flávio Azevedo
O jornalista, William Waack; na bancada do Jornal da Globo. |
Entre outros temas, a polêmica da semana está fincada no afastamento do jornalista, William Waack, da programação da TV Globo. Além do Jornal da Globo, o apresentador também comandava o “Painel”, uma das melhores atrações da Globo News. Até onde se sabe, o afastamento de Waack teria sido motivado por conta de um vídeo onde ele aparece fazendo comentários racistas e depreciativos sobre os negros. A declaração do jornalista afrontou tudo que se prega de mudança em relação a discriminação e feriu de morte a carreira de um profissional extremamente qualificado.
O racismo que William Waack carrega com ele, até ofusca, mas não apaga o seu brilhantismo profissional. Também não muda a minha concepção pessoal de que ele é um dos grandes jornalistas do país. É lamentável que em 2017 ainda exista pensamentos discriminatórios contra negros, pobres, nordestinos, orientais, judeus, mulheres, gays e o mais grave: a ideia de que determinado comportamento e/ou atividade é “coisa de preto”.
Eu gostaria de aproveitar a oportunidade para destacar o cinismo de uma sociedade doente e extremamente hipócrita, que se habituou a fazer barulho com determinadas situações, sobretudo quando ela parte de um rico, um artista, um jogador de futebol, um político conhecido ou simplesmente alguém que tenha algum destaque na mídia.
O comentário polêmico foi feito com o também jornalista, Paulo Sotero; na época das eleições presidenciais nos EUA. |
O volume de comentários racistas, homofóbicos, excludentes, preconceituosos e discriminatórios; estão por toda parte. Nascemos fazendo piada com essas questões e por mais que se faça força, a mudança é lenta e gradual. É preciso falar, discorrer sobre o assunto, mas nessa altura do campeonato, o afastamento do William Waack das suas atividades, não muda em nada esse triste cenário de preconceito e discriminação que é uma das marcas do povo brasileiro.
Alguém disse que o Futebol é uma das poucas atividades em que se olha unicamente o talento. Seja negro, pobre, humilde ou portador de qualquer deficiência, se for craque, o Futebol abraça. Curiosamente, no Brasil os negros são maioria no Futebol. Entretanto, 99% deles, assim que conquista um mínimo de fama, logo esquecem suas namoradas pobres e negras da comunidade que moravam nos tempos de vacas magras e se enrabicham com atrizes e modelos loiras de corpos malhados e lipoaspirados.
A verdade é que, infelizmente, William Waack não é o único brasileiro preconceituoso. Outra verdade é que precisamos deixar a hipocrisia de lado! E mais verdadeiro ainda é o fato de que nós brasileiros somos essencialmente preconceituosos, racistas, homofóbicos e violentos. Graças a tantos movimentos de combate a essa postura, algum tipo de consciência está surgindo, mas é algo ainda incipiente. Ainda há muito a ser conquistado.
Aos 65 anos, William Waack, é filho de uma geração distante da atual. Mesmo com toda formação acadêmica, ele carrega traços de outros tempos. Eu costumo dizer que eu sou menos racista que meu pai; e minha filha será bem menos racista que eu. Isso se conquista com o passar do tempo. Finalizo parafraseando o próprio William Waack. Nma Audiência Pública, no Senado Federal, onde a pauta era os rumos da política externa brasileira, Waack começa sua intervenção assim: “é olhando para o óbvio que a gente percebe a situação e é ignorando o óbvio, que a gente tropeça, cai de quatro e dificilmente se levanta dependendo do tamanho da queda!”.
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