sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Vamos falar da enfermagem?

Por Flávio Azevedo - Reflexões

A menina de um ano já tinha recebido alta. Só faltava retirar o esparadrapo que imobilizava a mão direita, onde ela havia tomado soro. De acordo com o pai, David Jeferson Bahia, a auxiliar de enfermagem foi tirar o esparadrapo da mão da menina com auxílio de uma tesoura. O pai pediu que ela tivesse cuidado, mas apesar do alerta, a profissional cortou a ponta do dedinho da mão direita da criança (foto 1). Em depoimento à polícia, a auxiliar de enfermagem, que foi afastada das suas funções, disse que estava com dificuldades para cortar o esparadrapo e por isso usou uma tesoura.

Já no dia quatro de dezembro do ano passado, o país se comoveu com a história da estudante Stephane dos Santos Teixeira, de 12 anos (foto 2), que morreu após receber vaselina líquida no lugar de soro fisológico. O episódio aconteceu no Hospital Municipal São Luiz Gonzaga, em São Paulo. Foram injetados cerca de 50 ml do produto na criança. A auxiliar de enfermagem admitiu ter confundido os frascos, que além de estarem guardados no mesmo lugar, eram idênticos.

No início desse mês, uma enfermeira (foto 3)teria injetado suplemento alimentar na veia de um garoto, segundo denunciou a família da criança, à polícia de São Paulo. O alimento deveria ter sido administrado numa sonda que vai direto para o estômago. O menino de quatro anos sobreviveu. O caso aconteceu no Hospital São Luiz, no Morumbi, também em São Paulo. A criança estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital.

O serviço de enfermagem é dividido em três categorias: auxiliar e técnico de enfermagem, e enfermeiro. O auxiliar precisa ter concluído o ensino fundamental e um curso técnico de 900 horas, que o capacita para trocar roupa de cama, cuidar da alimentação e da higiene do paciente, verificar a pressão arterial e aplicar injeções.

Já o técnico em enfermagem tem que ter ensino médio e curso técnico de 1,8 mil horas. É ele quem administra medicamentos que precisam ser infundidos com técnicas mais evasivas – como a aplicação de soro. O trabalho dessas duas categorias é supervisionado pelo enfermeiro, que tem que ter formação superior. Todos os procedimentos da enfermagem são de atribuição do enfermeiro. Nos últimos anos, por exemplo, esse profissional ganhou pertinências que eram executadas exclusivamente pelos médicos. Por exemplo, a realização de exame preventivo.

A reportagem que falou sobre a criança do dedinho decepado – Jornal Hoje, da TV Globo, da última segunda-feira (24) – noticiou que em 2010 foram registrados 250 casos de erros envolvendo profissionais de enfermagem, só em São Paulo, um problema que deve ser alvo da atenção das nossas autoridades. Porém, eu fiquei muito irritado quando o “cara de pau” do presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren) de São Paulo, o senhor, Cláudio Alves Porto, apareceu dizendo que “a formação profissional da enfermagem está muito fraca”. Segundo ele, “a gente vê claramente a deficiência na formação intelectual, na competência técnica destes profissionais”.

Diante dessa declaração, algumas perguntas reflexivas são importantes. Primeira: “o que Coren e o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) estão fazendo pela enfermagem, além de cobrar anuidades absurdas que custam quase o salário do mês desses profissionais?”. Segunda: o que os sindicatos fazem pela categoria, para que os profissionais de enfermagem tenham remuneração adequada e condizente com a responsabilidade da profissão, que trabalha com VIDA, a mercadoria mais valiosa da terra?”.

Terceira: “esses conselheiros – e alguns patrões – têm consciência, de que 90% dos profissionais de enfermagem trabalham em três, quatro lugares, para conseguir sustentar as suas famílias, porque o salário que recebem é ridículo?”. Quarta: “os conselheiros do Coren e do Cofen estão sabendo, que a carga horária de algumas instituições (12/36) precisa ser mudada com urgência, e o que estão fazendo sobre isso?”. Quinta: “as pessoas que lidam com esses profissionais tem conhecimento, que não são poucas as ocasiões, em que o profissional de enfermagem, só consegue dormir, na condução que o leva de um emprego para o outro?”. Sexta: “como o profissional vai se qualificar, se recebe salários ridículos que mal da comer?”.

Bem, feitas essas reflexões – têm outras, mas por enquanto ficamos nessas –, nós iremos questionar os profissionais de enfermagem, que infelizmente, continuam inertes e passivos diante da exploração a que são submetidos. Primeiro: “você sabia que sem a enfermagem um hospital não funciona?”. Segundo: por que a enfermagem é tão desunida?”. Terceiro: “por que o próprio profissional desvaloriza a profissão através de práticas e costumes duvidosos?”.

Quarto: “você sabia que a preguiça, as fofocas, o hábito de entregar colegas, coisas comuns à categoria – sobretudo no serviço público – são fatores que contribuem para que o patrão não valorize a enfermagem?”. Quinto: “você sabia que se for mais econômico e menos relapso, essa postura do contratante pode ser recompensada com valorização profissional?”. Sexto: “você sabia que os profissionais de enfermagem, exceto alguns de nível superior, são os que menos se valorizam?”.

Se profissionais de enfermagem, empregadores, Conselhos e Sindicatos colocassem em prática as 12 reflexões feitas nesse texto, notícias negativas sobre a enfermagem desapareceriam da mídia!

Um comentário:

  1. Flavio duas as minhas palavras,ao meu entender nos da equipe de enfgem temos muita força, so que estamos preocupados com coisinhas bobas para poder enxergar a verdadeira realidade, e digo mais que esta profissão é muito bonita e temos que valorizar mesmo o nosso serviço pois sem nos praticamente um hospital naõ funciona. Amo a minha profissão e ficaria muita contente se nos nos unissimos para mostrar a verdadeira enfermagem. e deveriamos sim cobrar dos orgaos competentes uma soluçao e não ficarmos militrados com as sua visitas.
    bjs

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