Flávio Azevedo
Não é uma fotografia tirada no Centro do Rio de Janeiro, mas em Rio Bonito. |
Noite de sábado
(12/09). Depois de assistir o espetáculo “Lisbela”, no Espaço Cultural Lona na
Lua, minha filha e eu fomos lanchar no Trailer Amarelinho, na Praça Dr. Astério
Alves de Mendonça, no Centro de Rio Bonito. Ainda dentro do carro chamou a
nossa atenção a figura de uma pessoa deitada no chão. Estávamos diante de alguém
que diariamente faz a calçada de cama, a soleira da porta de travesseiro e as
marquises de abrigo.
A minha filha me
olhou e perguntou: “pai, eu posso comprar um lanche para essa pessoa?”. Eu
mostrei a ela um pratinho e uma garrafa de refrigerante ainda cheia próximo
dela. No Amarelinho, o nosso amigo Leonardo explicou que quando ele chegou para
trabalhar aquela pessoa já estava ali. Ele contou que um cliente fez exatamente
o que a minha filha sugeriu: pediu dois lanches e levou um para aquela mulher.
Depois que ele levantou, veio ao trailer, pediu mais comida e Leonardo a
serviu.
É triste ver uma
pessoa, sobretudo numa noite fria e chuvosa, dormindo ao relento. Por isso eu
defendo a construção de um abrigo que receba essas pessoas. Mas a minha concepção
de abrigo é diferente do que vejo ser oferecido. Esclareço aos amigos que eu
sou técnico de enfermagem, conheço bem a dificuldade que é a relação com
moradores de rua e tenho total consciência de que essas pessoas sofrem sérios
transtornos metais, emocionais, sociais e espirituais. Essas situações as
arrastam para essa condição existencial degradante. Todavia, impor uma lógica
de existência que elas se recusam a viver tornam essas pessoas ainda mais
alijadas do convívio social.
Todos nós sabemos
também, que 99% dessas pessoas estão na rua, porque assim decidiram viver.
Outra realidade é que vários desses indivíduos têm família, algumas, inclusive,
com excelente condição financeira. Mas eu gostaria de me deter na questão do
abrigo, que precisa ser um lugar que receba a pessoa, ofereça um banho, algo
para comer e uma cama para dormir. No dia seguinte, se ela desejar ficar e se
tratar ótimo! Se não quiser, paciência! Mas sem essa de obrigar o sujeito a
“aceitar Jesus”, pegá-lo para criar; querer casar com ele etc.
Mas falando em
Jesus, toda essa conversa me lembra da pergunta feita por Ele quando contou a
parábola do Bom Samaritano (ilustração): “quem é o meu próximo?”. Segundo o
fundador do cristianismo, “o próximo é quem usa de misericórdia com quem necessita”.
Isso mostra que todos nós somos "o próximo" das pessoas que vivem em
condição de vida degradante e marginal. Baseado nessa lógica eu afirmo não ser
culpa da Prefeitura ou de qualquer governo essa situação, MAS DE TODOS NÓS!
O problema é que
nós tentamos forçar as pessoas a “aceitarem Jesus”, quando o próprio Jesus não
se impõe a ninguém. Ele fazia o milagre e o beneficiado ia embora. Ele morreu
na cruz por todos e não apenas por aqueles que O aceitam. Ou seja, Ele fez a
parte dEle e quem desejar aceitar ótimo! Deus respeita as escolhas das pessoas,
mas nós não agimos da mesma forma. Temos o mau hábito de forçar a barra e
queremos obrigar o sujeito a "aceitar Jesus".
Para provar o que
digo, eu convido você a visitar a história dos 10 leprosos. Eles foram
purificados por Jesus, mas o relato bíblico diz que apenas um deles retornou
para agradecer. Todavia, Jesus não retirou a cura dos nove que não agradeceram
o benefício que receberam. Ele apenas elogiou a iniciativa do que voltou para
agradecer. Portanto, esse papo de não vou ajudar por causa disso e daquilo é a
prova real de que no fundo nós não queremos é ajudar e não entendemos o sentido
de “próximo”.
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