Flávio Azevedo
Semanalmente o jornal Folha da Terra
nos trás notícias da prisão de esticas e supostos traficantes em vários pontos
de Rio Bonito e região. Serra do Sambê, Praça Cruzeiro, Rio Vermelho, Mangueira,
Basílio, entre outras localidades, sempre estão na mídia por conta desse modelo
de criminalidade. Geralmente meninos muito novos, que enfeitiçados pelo ganho
fácil enveredam por esse caminho, muitas vezes sem retorno. O noticiário frequente
demonstra que embora esteja em número reduzido, a polícia está
trabalhando e prendendo.
Contudo, às vezes, até para o próprio
policial, o assunto acaba sendo irritante porque algumas perguntas não são feitas,
alguns questionamentos não são respondidos e sempre ficamos com a impressão que
às autoridades (e não estou falando da policia) não interessa a extinção desse problema, mas o controle dele. Como
acontece com algumas espécies de medicamentos, que são baseados em “vírus
atenuados” da própria doença que ele combate, o caso das drogas é atacado, mas
a impressão que temos é que esse negócio (que movimenta bilhões) não pode
acabar.
Todos nós sabemos que em Rio Bonito
não existe plantação de maconha e coca; todos nós sabemos que a cidade também
não conta com nenhum laboratório de refino; todos nós temos consciência que não
fazemos fronteira com outro país, sequer temos um porto em nossa cidade. Aliás,
a ferrovia que corta o município, há anos não funciona. Por aqui, o que nós temos
são duas rodovias importantes (BR – 101 e RJ – 124), rota obrigatória para tudo
que consumimos em nossa cidade.
É nessa hora que eu me pergunto se eu sou
mais inteligente que os outros ou se os outros estão se fazendo de besta. É
nessa hora que você é forçado a pensar que o tráfico de drogas é um negócio que
as autoridades querem apenas controlar e não aniquilar. Mas por que não esse
rentável negócio deveria ser extirpado, se alguém está lucrando com ele? Há anos
eu venho dizendo que o tráfico de drogas é um setor comercial como outro
qualquer.
Em Rio Bonito, por exemplo, além de não
ser interessante o seu extermínio, ainda existe a questão do usuário que, por
aqui, é o principal motor desse setor. De acordo com o chefe de investigação de
determinado delegado que passou pela 119ª DP, a nossa cidade merece uma ‘curetagem’
bem feita em suas entranhas, “mas o resultado disso surpreenderia, ou não, muita
gente”.
– Em Rio Bonito é mais fácil você investigar quem tem ficha limpa. Você terá menos trabalho, por que esses são muito poucos. Aqui é mais produtivo você procurar quem não está envolvido em sacanagem, quem não usa droga, quem não participa de ilegalidades, porque a grande maioria tem o rabo preso com alguma ilicitude e se a polícia for agir na forma da lei prende mais da metade da cidade – declarou aquele policial, acrescentando que não existe motivo para o pânico, porque essa é uma característica de todas as cidades de pequeno e médio porte.
– Em Rio Bonito é mais fácil você investigar quem tem ficha limpa. Você terá menos trabalho, por que esses são muito poucos. Aqui é mais produtivo você procurar quem não está envolvido em sacanagem, quem não usa droga, quem não participa de ilegalidades, porque a grande maioria tem o rabo preso com alguma ilicitude e se a polícia for agir na forma da lei prende mais da metade da cidade – declarou aquele policial, acrescentando que não existe motivo para o pânico, porque essa é uma característica de todas as cidades de pequeno e médio porte.
Essa declaração me deixou pensando sobre
os rumos que queremos dar para Rio Bonito. Você quando pensa está pensando para
quem? Você quando defende a legalidade está fazendo isso para quem? Você quando
prima pelos bons costumes... Zela moral, defende os valores, prega a
importância da família e enfatiza que é preciso se abster daquilo que é nefasto...
Está conseguindo ser ouvido? Está conseguindo ser entendido? Está conseguindo
ser compreendido? Ou está se tornando um estraga prazeres?
O ator Wagner Moura interpretou o "Coronel Nascimento". |
Aliás, como disse o fictício tenente
coronel, Nascimento no segundo filme (certamente o melhor), “o sistema entrega
a mão para salvar o braço... O sistema se reorganiza, articula novos
interesses... Cria novas lideranças. Enquanto as condições de existência do
sistema estiverem aí, ele vai resistir! Agora me responde uma coisa: quem você
acha que sustenta tudo isso? É... E custa caro... Muito caro! O sistema é muito
maior do que eu pensava! Não é a toa que os traficantes, os policiais, os
milicianos matam tanta gente nas favelas! Não é a toa que existem as favelas!
Não é a toa que acontece tanto escândalo em Brasília, que entra governo e sai
governo e a corrupção continua... Para mudar as coisas... Vai demorar muito
tempo. O sistema é foda! Ainda vai morrer muito inocente!”.
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