Para que serve as Associações de Moradores?

Flávio Azevedo - Reflexões

Quando eu culpo a população pelo desinteresse do poder público com a sociedade, sempre sou mal compreendido! Os meandros que envolvem as Associações de Moradores (entidades não governamentais criadas, exatamente, para cobrar realizações que não saem do papel, por ineficiência e/ou omissão da administração pública) são exemplos clássicos da picaretagem e da cara de pau do ser humano!

O mais comum (as exceções são raras) é a cooptação dos líderes comunitários (e eles adoram!). Eu, por exemplo, já conversei com vários desses líderes das cidades da nossa região, sobre os problemas das suas localidades, e a resposta que eu encontrei em algumas situações foi muito interessante. Um deles me disse: “eu não posso falar muita coisa, Flávio, porque a minha filha e minha mulher foram contratadas pela Prefeitura. Quer dizer... Se eu fizer alguma crítica, eu fico mal diante do chefe”.

Que tal essa desculpa?

Mas a coisa piora! Geralmente, diante dessa cínica argumentação, eu sugiro que o infeliz indique alguém que não esteja com o rabo preso. “Você não pode indicar alguém da diretoria da Associação de Moradores ou algum vizinho para falar no seu lugar?”. Resposta: “não... Se eu fizer isso vou ter que explicar o motivo pelo qual eu não posso falar, aí eu ficarei mal com os vizinhos, porque eles não sabem que tem gente minha trabalhando na Prefeitura”.

Bom, ao ouvir essa história estapafúrdia, apesar da vontade de vomitar, eu, curioso, questionei: “mas como assim? Os seus vizinhos não veem a sua mulher e sua filha saírem para trabalhar de manhã? Logo, eles sabem que trabalham na Prefeitura”. A resposta que o sujeito me deu é a cereja do bolo e eu nunca esqueço: “Não, elas só recebem! Elas não trabalham... Quer dizer, se os vizinhos souberem disso dá problema para mim”, contou o sujeito, logicamente todo sem graça.

Não é uma alegria ouvir uma história dessas? E, detalhe: isso é muito comum em ano eleitoral, época que as nomeações e contratações explodem! Em outubro vai todo mundo embora!

Outra realidade que prejudica as Associações de Moradores são os líderes comunitários que pretendem fazer da instituição, trampolim para a Câmara Municipal (ele quer ser vereador). Todavia, ele esquece que os seus vizinhos são tão pilantras quanto ele. Resultado? Ninguém vota nele, porque já se vendeu para outro candidato. Revoltado com o que ele classifica como “ingratidão dos vizinhos”, o tal líder comunitário abandona a Associação de Moradores, o que confirma que ele não tinha interesse nenhum nas causas comunitárias!

Diante desse cenário medonho e asqueroso, eu pergunto: Onde está o problema? Na pilantragem do político ou na desfaçatez do cidadão? A conclusão que podemos chegar é que a “Lei de Gerson” (farinha é pouca, o meu pirão primeiro!) é a única legislação que funciona em nosso país!

A foto de um belo pirão para ilustrar a frase mais emblemática para a nossa sociedade: "FARINHA POUCA, MEU PIRÃO PRIMEIRO!".