Flávio Azevedo
A polêmica envolvendo a rejeição de quatro mensagens que o poder Executivo enviou a Câmara Municipal, na última semana, é o assunto do momento em Rio Bonito. Enquanto a Câmara de Vereadores cumpre o seu papel de fiscalizar, o poder Executivo, cinicamente, posa de vítima. Penso que nós podemos e temos o direito de discordar da decisão dos vereadores que integram as Comissões Permanentes, mas o circo que o prefeito, José Luiz Mandiocão (PP); está criando ao entorno disso é desproporcional e hipócrita ao extremo. Das quatro matérias rejeitadas, eu particularmente discordo de duas. Concordar ou discordar é o nosso papel, mas temos que aceitar, porque aos vereadores cabe essa decisão.
Penso que visitar uma história recente da política local irá refrescar a cabecinha de muita gente e comprovará a desfaçatez do chefe do poder Executivo e sua torcida organizada. Por exemplo: eu discordei da decisão do poder Judiciário, quando permitiu, durante as eleições de 2016, que o candidato Mandiocão, mesmo com contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e Câmara de Vereadores, participasse do processo eleitoral. Fui obrigado a entubar uma liminar suspeita, concedida de madrugada, durante um plantão Judiciário. À época, o desembargador que ofereceu a liminar, o Sr. Siro Darlan, estava em destaque na grande mídia por flagrante corrupção. Embora eu discordasse da decisão judicial, eu fui obrigado a aceitar.
Eu discordei também da forma como o poder Judiciário interferiu no poder Legislativo. Para quem não lembra, o poder Judiciário suspendeu a sessão Legislativa que rejeitou as contas referentes ao exercício 2012 de Mandiocão. A decisão fez com que os efeitos da reunião – a impossibilidade de participar das eleições de 2016 – fossem suspensos. A interferência de um poder no outro é uma aberração, mas nós tivemos que aceitar, porque cabe ao Judiciário esse papel. Podemos discordar, mas quem resolve são os desembargadores.
Também discordei do resultado das eleições de 2016, quando a maioria preferiu entregar o comando do município a um candidato que estava, por conta de barbeiragens administrativas, condenado a devolver R$ 12 milhões aos cofres municipais e pagar multa de R$ 4 milhões. Apesar disso, o povo insistiu em trazer Mandiocão de volta a Prefeitura. Eu discordei da maioria, mas fui voto vencido e fui obrigado a engolir a presença de Mandiocão na Prefeitura porque na democracia prevalece a soberania popular.
Em 2012, eu vi essa mesma maioria trazer de volta à Prefeitura de Rio Bonito, uma senhora que havia feito um péssimo governo (1997/2204), fez uma campanha mentirosa, arrastava 180 processos, mas participou do pleito e foi eleita. Fui contrário a presença dela na Prefeitura, mas novamente tive que aceitar a vontade da maioria popular. Por fim, eu fui obrigado a aceitar os dois últimos dela (2015/2016), período que se manteve no cargo de prefeita escorada nas decisões do picareta do ministro Napoleão Nunes Maia Filho, do Superior Tribunal de Justiça. Eu discordava das decisões do Napoleão, mas o ministro era ele e tive que entubar mais essa.
A atual divergência entre poder Executivo e Legislativo tem como pano de fundo o fato dos vereadores estarem buscando espaço no governo, através de cargos comissionados e contratos. Há quem critique e chame essa lógica de “toma lá dá cá”, o que podemos consideram uma postura recheada de cinismo e hipocrisia, uma vez que essa prática é antiga na política e tem o seu nascedouro nos acordos escusos propostos durante o período eleitoral. Estou falando de uma maioria que se troca por assessorias, carros agregados, adesivo por 10 litros de combustível, cargos, aprovação em processos seletivos fajutos, cimento, tijolo, areia, dentadura, carteira de motorista, dinheiro e o diabo...
É no mínimo irritante, ver, agora, muitos desses tipos posando de paladinos da Justiça, de defensores da moral e dos bons costumes, sobretudo porque há menos de um ano – no período eleitoral – muitos desses se portavam como cadelas no cio a se oferecer para esse ou aquele candidato. Agora, querem criticar meia dúzia de vereadores por conta de seus legítimos posicionamentos. Reitero que nós podemos discordar do posicionamento de cada parlamentar, mas sem circo e respeitando a prerrogativa de cada um.
Hipocrisia! Cinismo! O sujo querendo falar do mal lavado! O roto apontando falhas no descosido... Façam-me um favor!
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