Flávio Azevedo
Integrantes da CORPEME desfilaram com uniforme escolar no último dia 07 de maio. |
Por ocasião do Desfile Cívico Escolar, um dos eventos em celebração aos 171 anos de emancipação político administrativa de Rio Bonito, a nossa reportagem recebeu denúncias sobre as condições em que estão as bandas das escolas municipais. Antes do desfile, o comentário entre os profissionais de Educação era de que as bandas iriam desfilar com uniformes precários, colados com cola quente, “porque há anos a Prefeitura não oferece novos trajes”. A precariedade dos uniformes também atinge os estudantes e muitos não desfilaram porque não tinham uniformes.
– Há bastante tempo as nossas bandas estão impedidas de participar de apresentações em concursos de bandas em outras cidades, porque não existe reconhecimento, valorização e incentivos por parte da Prefeitura. Ainda temos as nossas bandas, por conta da dedicação dos regentes e dos alunos. Os governos se repetem e se repetem também o desinteresse com esse segmento da Educação e da nossa Cultura – revela uma professora.
Um dos integrantes de uma banda da cidade destaca que Rio Bonito tem tradição nessa área e já participou de concursos e conquistou prêmios com as suas bandas. “Isso coloca os envolvidos num grau de importância que infelizmente não é reconhecido pela Prefeitura da nossa cidade, que deveria investir e incentivar essa nossa identidade”. Entre as bandas mais tradicionais está a COMDAM, do Colégio Municipal Drº Astério Alves de Mendonça. A fonte que conversa com a nossa reportagem afirma que inicialmente a COMDAM foi criada para representar Rio Bonito em concursos e eventos.
– A COMDAM, hoje, encontra-se em estado de decadência por falta de apoio da Prefeitura. Sempre ouvimos promessas de que iriam estruturar a banda para que ela seguisse sua missão de representando o município, mas entre prometer e cumprir existe uma longa distância. Atualmente a banda conta com a regência de Lucimar Quintanilha. Uso a palavra decadência para exemplificar a falta de estrutura, de uniformes, calçados, novos instrumentos e material de reposição – conta a nossa fonte, que faz uma revelação curiosa. “O uniforme usado pela banda, hoje, foi comprado de uma escola de outro município, um enorme desrespeito com a banda mais antiga de Rio Bonito”.
A CONDUQUE vem de Rio Seco é tem a regência de Senilto Alves.
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Outra revelação da nossa fonte denuncia que por conta do descaso da Prefeitura com a COMDAM, inúmeros alunos desistiram de participar. “Para conseguir desfilar esse ano (2017) foi feito um cata, cata, entre os integrantes de outras bandas. Só assim foi possível montar a COMDAM. A principal queixa de quem sai é a falta de uniforme”, declara a nossa fonte, que acrescenta outros fatores.
– Tudo é sempre muito difícil! Os gestores escolares acabam não tendo autonomia para decidir, para comprar um projeto pensado pelos regentes e alunos, porque precisam ser autorizados pela Secretaria Municipal de Educação, geralmente tocada por quem não entende nada de banda. E pior, as vezes o secretário até está interessado, mas ser autorizado pelo prefeito, que no caso de Rio Bonito, seja um ou seja o outro, não entendem bulhufas de banda e se metem a dar opinião – critica.
Também tradicional e uma representante importante de Rio Bonito a banda do Colégio Municipal Drº Kingston de Souza Motta, não tem história muito diferente. A banda conta com a regência de Lucimar Quintanilha; e também representava Rio Bonito em festivais e desfiles cívicos de outras cidades. Batizada como COMUKI, ela é a segunda banda mais antiga do município. “Hoje, a banda não é composta apenas por estudantes de Parque Andréa. Alunos Nova Cidade, Chavão, Jacundá e Região, também participam, o que torna a COMUKI um instrumento importante de inclusão e atividade para os jovens do 2º Distrito”. A nossa fonte conta que o atual uniforme foi feito por um esforço pessoal do antigo regente (Aécio Goulart) e a antiga gestora da escola.
– Apesar da referência positiva que é a COMUKI pode ter para os jovens do 2º Distrito, atualmente a banda sofre com a falta de uniformes, os instrumentos estão velhos, enferrujados e alguns estão quebrados. O uniforme que a banda usa foi feito pelo antigo regente, Aécio Goulart; num esforço conjunto com a direção da escola. Aliás, o uniforme não foi terminado por falta de dinheiro, sendo necessário o regente e a diretora usarem recursos próprios para que o uniforme fosse terminado e entregue – revela.
Outra banda importante do município é da Escola Municipal Duque de Caxias, de Rio Seco. Também chamada de CONDUQUE, o grupo hoje conta com a regência de Senilto Alves.
– A CONDUQUE é a terceira banda mais antiga de Rio Bonito e ainda existe por amor. Primeiro pela distância da localidade de Rio Seco. Segundo, pela dificuldade dos estudantes chegarem ao local de ensaio, porque essa banda especificamente ainda enfrenta a questão dos horários do Transporte Público. Ou seja, acaba sendo muito difícil fazer um trabalho de excelência e o regente sofre para mostrar trabalho. A CONDUQUE também enfrenta a realidade de instrumentos velhos, enferrujados, quebrados e uniformes em péssimas condições – afirma.
Nessa altura do relato, a nossa fonte interrompe a análise da situação das bandas para mencionar que elas sobrevivem por conta do amor e dedicação dos alunos, direção das escolas e do regente. “Para encerrar, eu falo de três bandas criadas em 2005 e que também sofrem com a precariedade”. As bandas representam as escolas, Maria Lydia Coutinho (COMALYDI), que tem a regência de Simone Silva; “única regente do quadro de servidores efetivos da Prefeitura”; do Raulbino Pereira de Mesquita (CORPEME), comandada por Jaqueline Silva; “que esse ano desfilou com uniforme escolar”; e a banda da Escola Municipal Professor Honesto Almeida de Carvalho (EMPHAC), atualmente regida por Maria Conceição; “que recebeu ‘doação’ de material usado da banda do Astério Alves para desfilar”.
– Em resumo, a última vez que as bandas mais antigas receberam instrumentos novos e uniformes foi há cerca de 15 anos. Em 2005 a Prefeitura criou três novas bandas, mas não deu estrutura, o que sugere perguntar: por que criaram bandas novas se não tinham condições de manter as antigas? Como e quando vão estruturar as seis bandas do município, hoje, abandonadas e largadas? Quantos prefeitos passarão pela Prefeitura e nada farão para mudar essa história? É doloroso ver as bandas nessa situação! A ideia não é puxar para esse ou aquele prefeito, porque repetem os erros, apenas me preocupa a possibilidade de ver morrer a Cultura de Bandas e Fanfarras por falta de apoio dos nossos governantes – concluiu.
Nota da Redação: a nossa reportagem não ouviu e nem vai ouvir a Secretaria Municipal de Educação, porque já decoramos as respostas: “assumimos o município em crise, com pagamentos atrasados, não houve transição entre governos, tem que ter paciência etc.”. Quanto aos gestores escolares e regentes das bandas, é claro que todos estão incomodados com essa situação, mas por uma série de razões acabarão usando o discurso padrão da Secretaria de Educação.
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