Flávio
Azevedo
No futebol,
um dos termos muito utilizados é “regularidade”. Contudo, tem outro termo que
também fica evidente, sobretudo nos momentos de frustração e derrota: a “ridicularidade”,
que se baseia na falta de equilíbrio, educação, espírito desportivo e senso
crítico; e no excesso de futilidade e egoísmo. Estou falando sobre um
personagem que exige respeito, mas que não se dá o respeito: o torcedor.
Sempre que
um atleta brasileiro se naturaliza em outro país, ele é vítima de críticas por
falta de patriotismo. Nessa Copa do Mundo, por exemplo, brasileiros que por
conta da naturalidade defenderam outras seleções, acabaram sendo muito hostilizados.
Se os atletas não cantam o Hino Nacional ou não levam a mão sobre o coração antes
de uma partida de futebol da seleção, uma enxurrada de críticas é despejada
sobre eles.
Nessa Copa
do Mundo, porém, o negócio foi diferente. Jogando em seu país de origem,
sofrendo uma pressão desmedida e com um grupo que não é lá essas coisas, os nossos
atletas foram constantemente criticados pelas lágrimas, pela vibração ao cantar
o Hino Nacional, pela emoção estampada em cada fisionomia e pela postura
apaixonada pelo Brasil.
A entrevista
do zagueiro David Luiz, porém, me enche de orgulho, sobretudo pelo puxão de
orelha em todos nós. Terminada a partida em que o Brasil caiu de maneira vexatória
diante da Alemanha (eles venceram por 7x1), o atleta concedeu significativa
entrevista ao repórter Eric Faria:
– Eu só
queria poder dar uma alegria ao meu povo... A minha gente que sofre tanto,
sofre com inúmeras coisas... Infelizmente não, não conseguimos... Pedir
desculpa a todo mundo... Desculpa a todos os brasileiros... Eu só queria ver o
meu povo sorrir... Todos sabem o quanto era mais importante pra mim... Ver... O
Brasil inteiro feliz pelo menos por causa do futebol! Eles foram melhores, se
prepararam melhor, fizeram um melhor jogo, tomamos quatro gols em seis
minutos... É um dia pra... De muita tristeza, mas de muito aprendizado também...
Na vida... Nunca vou desistir e um dia eu vou alegrar esse povo de alguma forma
– disse o cabeludo.
Momentos depois,
com os nervos mais controlados, o zagueiro voltou a falar sobre a derrota e as lições
que devem ser tiradas da forma como ela aconteceu. “... Assim como a Copa do
Mundo uniu o nosso país através do futebol, que a gente possa também estar
unidos para melhorar... O nosso dia-a-dia, ajudar a tudo e a todos, porque o
meu sonho mesmo é isso... Ver o Brasil... Campeão dentro, mas principalmente,
fora de campo, porque a gente pode ser melhor, a gente quer essa melhoria...”.
Bem, David
Luiz, você tenha certeza que a sua fala é a mensagem da Copa! Ainda bem que as
nossas frustrações sociais, os ranços políticos e, sobretudo as picuinhas de
ordem pessoal não foram levadas por vocês para dentro do campo. A declaração do
cabeludo é um “soco” com luva de pelica em todos que aproveitam os momentos de
congraçamento para se drogar, se embebedar e se recusam a perceber as lições
que as vitórias e derrotas nos oferecem.
Estamos falando
de um David Luiz que teve um gesto belíssimo no último dia 4 de julho, quando
Brasil eliminou a Colômbia. Ao ver o atleta James Rodrigues chorando por conta
da eliminação colombiana, generosamente o zagueiro abraçou o jogador e chamou
os demais atletas brasileiros para dar uma levantada na moral do colombiano. Generosidade,
uma palavra que parece não ter significado para maior parte dos brasileiros.
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