Flávio Azevedo
Em entrevista concedida a TV Globo, a
esposa do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, morto ao ser atingido por um
rojão jogado por um manifestante que integra as manifestações contra o aumento
das passagens do Rio de Janeiro, disse que “destruíram uma família”. Eu concordo
e vou mais adiante. Além de uma família, esse ato destrói o sonho de que devemos
nos posicionar contra um Estado, excludente, irresponsável, desigual e que
privilegia a corrupção.
Santiago era cinegrafista da TV
Bandeirantes e foi atingido no último dia 6 de fevereiro (quinta-feira). Embora
a sua morte cerebral tenha sido confirmada nessa segunda-feira (10/02), na
entrevista, concedida um dia antes, a sua esposa afirmou que ao visitá-lo no CTI
do Hospital Souza Aguiar, no sábado, ela percebeu que “ele não estava mais ali”.
Mais e aí? E aí que os desordeiros e inconscientes
conseguem a cada dia fazer com que as pessoas tenham antipatia e aversão aos
legítimos movimentos em prol de um Brasil melhor. Eles conseguem fazer as
pessoas ficarem enojadas com as manifestações e, sobretudo, que a sociedade almeje
a permanência do caos. Afinal, se não houvesse manifestações, a mídia estaria
cobrindo outro evento e o cinegrafista ainda estaria no mundo dos vivos.
Enquanto a grande mídia busca os
culpados que lhe convém, Arlita Santiago, esposa da vítima, nomeia os reais
culpados: OS PAIS. “Acho que esses rapazes que fizeram isso, ELES NÃO TIVERAM,
TALVEZ, MÃES QUE NÃO DERAM OS ENSINAMENTOS QUE DEI para os meus filhos. Como é
que a gente vai ter paz no mundo se a gente não ensina para os filhos da gente?
Então, isso é uma coisa que me deixou muito triste porque ele não merecia, é
uma pessoa muito boa. Ele procurava sempre ajudar todos”, disse ela durante a
entrevista.
Mas... E quando os pais dão os
ensinamentos devidos e a pessoa (jovem ou não) faz uma bobagem atrás da outra? Aliás,
por que não sabemos viver em sociedade? Por que não sabemos lutar corretamente pelo
que acreditamos? Por que desconhecemos o que é se manifestar? Pois é... Somos vítimas
de um mecanismo abstrato e macabro chamado SISTEMA.
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Momento que o cinegrafista é atingido pelo rojão |
De acordo com o fictício Tenente
Coronel Nascimento, do filme Tropa de Elite II, “o sistema entrega a
mão para salvar o braço... O sistema se reorganiza, articula novos
interesses... Cria novas lideranças. Enquanto as condições de existência do
sistema estiverem aí, ele vai resistir! Agora me responde uma coisa: quem você
acha que sustenta tudo isso? É... E custa caro... Muito caro! O sistema é muito
maior do que eu pensava! Não é a toa que os traficantes, os policiais, os
milicianos matam tanta gente nas favelas! Não é a toa que existem as favelas!
Não é a toa que acontece tanto escândalo em Brasília, que entra governo e sai
governo e a corrupção continua... Para mudar as coisas... Vai demorar muito
tempo. O sistema é foda! Ainda vai morrer muito inocente!”.
A verdade é que os inocentes estão
morrendo. Santiago Andrade é mais um. E, infelizmente, não é o último. Aliás, além
das manifestações terem sido transformadas em espetáculos, os noticiários sobre
esse assunto são construídos sob o viés da Comunicação do Grotesco. Então... O
que fazer?
Bem, pouca gente lembra – e a grande mídia
não focaliza isso – que a principal arma para mudarmos uma cidade, um estado
e/ou uma nação, é o voto. O Título de Eleitor é o detergente mais potente que
existe no processo de limpeza da política brasileira. Mas essa mudança não
ocorrerá se continuarmos trocando o nosso voto por tijolo, areia, cimento, R$
50,00 ou favores pessoais.
É possível fazer escolhas erradas? Claro
que é! Mas na próxima eleição você pode trocar a sua opção de voto. E se errar
novamente? Troque outra vez. Porém, nós viciamos a votar no mesmo, nós temos
medo do novo, nós receamos as mudanças e, por isso, preferimos que as coisas
mudem para continuar do jeito que elas estão.
A falência do transporte público, da
Segurança, da Educação, da Saúde, a falta de qualificação profissional, a inversão
de valores, e esse monte de gente corrupta e descompromissada que contamina com
o nosso país... Tudo isso tem um único culpado: você e eu. O nosso egoísmo, o
nosso individualismo, o nosso desinteresse, o nosso descompromisso e a nossa
paixão pela ilegalidade... Fazem do Brasil, “um país de loucos”.
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