Fonte: Site JusBrasil
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O caso Rubens Paiva (foto) é mais um entre muitas mentiras contadas pelos 'milicos' para encobrir as atrocidades da repressão que é uma das maiores vergonhas da história do Brasil. |
Rubens Paiva foi assassinado nas
instalações cariocas do Destacamento de Operações e Informações e Centro de
Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão de repressão do Exército
brasileiro durante a ditadura. O que já era uma certeza para amigos e familiares
do ex-deputado, e uma mentira para militares ligado ao regime, agora é também a
conclusão de um estudo divulgado há cerca de um ano pela Comissão Nacional da
Verdade (CNV).
O coordenador
do grupo, Cláudio Fonteles, encontrou novos documentos sobre o caso Rubens
Paiva no Arquivo Nacional e confrontou-os com depoimentos colhidos à época e
outras evidências encontradas no ano passado, em Porto Alegre, na casa de um
ex-oficial do DOI-Codi que acabara de morrer. "O Estado Ditatorial
militar, por seus agentes públicos, manipula, impunemente, as situações, então
engendradas, para encobrir, no caso, o assassinato de Rubens Paiva, consumado
no Pelotão de Investigações Criminais (PIC) do DOI-Codi do I Exército",
escreve o coordenador da CNV.
A conclusão
está fortemente baseada no Informe nº 70, redigido em 25 de janeiro de 1971
pela Agência do Rio de Janeiro do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) - uma
das peças encontradas por Fonteles. O documento é o mesmo que o jornalista
Jason Tércio, biógrafo de Rubens Paiva, após pesquisas pessoais, cedeu ao
jornal Folha de S. Paulo, que o divulgou também hoje. A CNV tinha planejado
divulgar a "nova versão" sobre o assassinato de Rubens Paiva na
quarta-feira (6), mas foi surpreendida pelo diário paulista e adiantou a
revelação.
Confirmação
O Informe 70 relata a história da
prisão de Rubens Paiva, levada a cabo por agentes do Centro de Informações de
Segurança da Aeronáutica (Cisa) em 20 de janeiro de 1971, dia em que se
comemora o feriado de São Sebastião no Rio de Janeiro. A narrativa já era
conhecida graças ao testemunho de amigos e familiares, além de pessoas que
estiveram nas celas do DOI-Codi com Rubens Paiva. Porém, faltava um documento
que a legitimasse perante os militares, que desde então sustentam a versão de
que o ex-deputado fugiu após tiroteio com "terroristas" que tentaram
resgatá-lo quando era conduzido numa missão de reconhecimento.
"Importante, e desde já,
registrar que esse Informe, oficial e confidencial, datado de 25 de janeiro de
1971, tudo criteriosamente narrando, nada diz sobre `a fuga` de Rubens Paiva,
que, na versão oficial dos agentes públicos do Estado Ditatorial militar, teria
ocorrido aos 22 de janeiro, para justificar, até hoje, seu estado de
foragido", pontua Cláudio Fonteles. "Tivesse acontecido, de verdade,
`a fuga` e, por óbvio, esse evento constaria desse pormenorizado
registro."
Se não existe uma só palavra sobre a
suposta fuga de Rubens Paiva, porém, há menção explícita no documento de que o
ex-deputado foi levado à sede carioca do DOI-Codi. "Rubens Beyrodt Paiva
foi localizado, detido e levado para o QG da 3ª Zona Aérea e de lá conduzido
juntamente com Cecília e Marilene para o DOI." Cecília Viveiros de Castro
e Marilene Corona foram os "rastros" que levaram os militares até
Rubens Paiva. Mãe e cunhada de Luiz Rodolfo Viveiros de Castro, que então se
encontrava exilado no Chile, Cecília e Marilene voltavam de Santiago num voo da
extinta Varig quando foram interceptadas pela repressão.
Os serviços de inteligência haviam
recebido a informação de que ambas traziam consigo cartas de alguns militantes
exilados no Chile - história que já era conhecida, mas que agora passa a ser
confirmada também pelo Informe nº 70 do SNI. Os agentes do Cisa prenderam as
mulheres, a levaram para o quartel e lá descobriram que as cartas seriam
entregues a Rubens Paiva, que depois se encarregaria de distribuí-las a seus
destinatários. Pelo número de telefone do ex-deputado, em posse de Cecília, os
repressores chegaram até seu endereço e o capturaram na manhã do dia 20. O
documento conta sucintamente, passo a passo, como os militares chegaram a
Rubens Paiva a partir da informação sobre as cartas vindas do Chile.
Incoerências
Além de abordar o Informe nº 70 do
SNI, Cláudio Fonteles contrapõe ainda, em seu texto, depoimentos já conhecidos
de Cecília Viveiros de Castro - que afirma ter visto Rubens Paiva ferido e
ensanguentado nas instalações do DOI-Codi - e do médico Amílcar Lobo, que
examinou o ex-deputado depois das sessões de tortura, atestando que tinha
"poucas horas de vida" devido a uma hemorragia abdominal. O
coordenador da CNV também resgatou o depoimento de dois militares, os irmãos e
sargentos Jurandir e Jacy Ochsendorf, que teriam participado do comboio que
"perdeu" Rubens Paiva para os "terroristas", além do chefe
do operativo, capitão Raimundo Ronaldo Campos. Para Cláudio Fonteles, seus
depoimentos são contraditórios.
"Enquanto o então capitão
Raimundo Ronaldo Campos, que `comandava a diligência`, afirma que `todos se
jogaram no chão para proteção do ataque, logo a seguir se postaram para revidar
ao ataque, momento em que viram uma pessoa atravessar a rua em meio a outro
carro`, os outros dois comandados, os sargentos e irmãos Jurandir e Jacy
Ochsendorf, textualmente registram: `que o declarante não pode afirmar ter
visto o prisioneiro se evadir do local` e `que o declarante não sabe informar
qual o destino tomado pela pessoa que o acompanhava no banco de trás do carro,
tanto assim que nem chegou a ver a citada pessoa sair do carro`."
As novas revelações confirmam que
Rubens Paiva esteve na sede do DOI-Codi e reforçam a tese de que foi torturado
e assassinado ali mesmo. Contudo, permanece um mistério o que foi feito de seu
cadáver. Há suspeitas de que o ex-deputado foi enterrado como indigente no
cemitério do Caju ou nas proximidades de uma delegacia no Alto da Boa vista,
zona norte do Rio de Janeiro. Também se aventa a possibilidade de que o corpo
de Rubens Paiva tenha sido lançado ao mar num "voo da morte"
empreendido pela Aeronáutica.
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