sexta-feira, 23 de março de 2012

Morre Chico Anysio e boa parte do humor brasileiro

Flávio Azevedo

Às 14h52min desta sexta-feira (23/03), o humor brasileiro perdeu boa parte de sua inspiração. Morreu, no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, onde estava internado há três meses, o humorista Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho ou simplesmente Chico Anysio. Ele morreu após uma parada cardiorrespiratória, causada por falência de múltiplos órgãos, decorrente de um choque séptico que teve início com infecção pulmonar. O luto não se dá apenas por ser mais um brasileiro que se foi, mas por ser um brasileiro diferenciado, sobretudo se nos debruçarmos sobre os seus 65 anos de carreira, tempo em que ele criou cerca de 200 personagens que ficaram marcados no imaginário popular.

Cearense de Maranguape, Chico Anysio, que completaria 81 anos no próximo dia 12 de abril, é um dos maiores humoristas da história do Brasil com destaque para as sãs aparições e atuações no rádio, na TV, no cinema e no teatro. O corpo do humorista será velado no Theatro Municial, no Centro do Rio, um dos palcos mais queridos de Chico. No domingo (24/03), ele será cremado no Cemitério do Caju, na Zona Portuária. O governador do Ceará, Cid Gomes, decretou luto oficial no Estado, por 3 dias.

Os problemas de saúde de Chico Anysio começaram a se agravar em 2010, quando ele foi hospitalizado se queixando de dificuldades para respirar. À época, os médicos diagnosticaram uma obstrução da artéria coronariana e o humorista foi submetido a uma angioplastia para desobstrução das artérias. Após 110 dias de uma recuperação difícil, ele teve alta em março de 2011. A partir daí aconteceram sucessivas internações e a fragilidade da saúde do humorista era visível.

Carreira

Foi na Rádio Guanabara, ainda nos anos 50, que os tipos cômicos de Chico Anysio surgiram. A estreia aconteceu em 1957, na extinta TV Rio, no programa “Aí vem dona Isaura”. Foi lá que o Professor Raimundo teve sua primeira aparição no vídeo, como o tio da protagonista que vinha do Nordeste. Num tempo em que ainda não existiam contratos de exclusividade, Chico pôde fazer participações especiais em programas de outras emissoras e em chanchadas da Atlântida.

O “Chico Anysio Show”, seu primeiro programa de humor, foi lançado no início da década de 60. Foi ao ar pela TV Rio, depois pela Excelsior e em 1982 voltou a ser exibido pela Rede Globo, onde ele já trabalhava desde 1969. Foi na Globo, porém, que os seus programas e personagens alcançaram maior sucesso. Destaque para “Chico city” (1973-1980), “Chico total” (1981 e 1996), “Chico Anysio show” (1982-1990) e "Escolinha do professor Raimundo".

Alguns desses personagens quase que se misturam à história da televisão brasileira, como o ator canastrão Alberto Roberto, o pão-duro Gastão Franco, o coronel Pantaleão, o pai-de-santo Véio Zuza, o velhinho ranzinza Popó, o alcoólatra Tavares e sua mulher Biscoito (Zezé Macedo) e o revoltado Jovem.

Com o passar dos anos, novos tipos eram criados e incorporados ao programa: o funcionário da TV Globo Bozó, que tentava impressionar as mulheres por conta de sua condição; o mulherengo e bonachão Nazareno, sempre de olho nas serviçais; o político corrupto Justo Veríssimo; e o pai de santo baiano e preguiçoso Painho são alguns dos mais populares.

Apresentada como quadro em outros programas desde a década de 1980, a “Escolinha do Professor Raimundo” (foto 2) tornou-se uma atração independente em 1990. No ar até 2002, o humorístico lançou toda uma geração de comediantes. Entre os “alunos” revelados pelo “professor Chico” estão Claudia Rodrigues, Tom Cavalcante e Claudia Gimenez.

Da vida, Chico Anysio dizia levar apenas um arrependimento: “Me arrependo enormemente de ter fumado durante 40 anos”. Que a declaração do humorista sirva de lição aos mais jovens.

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