Flávio Azevedo - Reflexões
A mídia raivosa e entreguista está vociferando horrores sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu, no dia 8 de junho de 2011, libertar o ativista político Césare Battisti, preso há quatro anos no Brasil. Classificado como terrorista, pela mídia porta voz da esquerda, Battisti continuava preso graças às pressões do governo italiano em Brasília.
Vale ressaltar que toda espécie de arbitrariedades políticas e jurídicas está sendo realizada para condenar Battisti por quatro assassinatos que não cometeu. O ex-presidente Lula negou a extradição no último dia do seu mandato, mas o escritor italiano continuou preso, a espera de uma nova e absurda apreciação do STF, o que finalmente aconteceu nessa quarta-feira.
Qualquer simpatizante de causas sociais ou defensor de ideias de viés socialistas sabe que a flagrante perseguição ao ativista político é um recado àqueles que ousam se levantar contra qualquer regime de dominação e exploração. Punindo Battisti, o recado fica dado.
Embora digam que o ex-presidente Lula é “analfabeto”, ele provou que não é bobo e não engoliu a conversa mole dos italianos. Aliás, fica aqui uma sugestão às autoridades da “Terra da Bota”: os senhores estariam fazendo melhor negócio se estivessem tentando engaiolar o perigoso mafioso, Silvio Berlusconi, responsável por crimes de toda ordem na Itália.
Aos brasileiros, sobretudo alguns ministros do STF, saibam que figuras como Daniel Dantas, libertado por um dos senhores (Gilmar Mendes) fizeram barbaridades e continuam livres como pássaros a voar.
Aos corneteiros de plantão, vale lembrar que "soberania nacional" é isso. Soberano é o país que toma as suas decisões sem ficar usando os Estados Unidos e suas filosofias como muleta.
O caso Battisti
Condenado durante processo que correu à sua revelia por quatro assassinatos cometidos na década de 1970, o que pouca gente sabe é que Battisti já havia passado por um julgamento na Itália. Neste primeiro julgamento, sentenciado em 1981, foi condenado a 13 anos e alguns meses de prisão por suas atividades militantes, ou ‘crime de subversão’ e por porte de armas. Não houve, no entanto, qualquer condenação ou sequer citação dos quatros assassinatos que atualmente lhe são atribuídos.
A mídia direitista não diz que seu segundo julgamento na Itália está permeado de contradições, assim como o relatório do STF, de autoria do Ministro Cezar Peluso – conhecido defensor da direita.
Na verdade, a condenação a prisão perpétua – reivindicada agora pelo governo italiano para justificar a extradição – só aconteceu no segundo processo, de 1988, baseado numa ‘delação premiada’.
– Durante o primeiro processo, houve muitas torturas, são 13 casos declarados. Mas, mesmo sob a tortura, ninguém nunca pronunciou o nome de Battisti – explica Fred Vargas, historiadora, arqueóloga e escritora francesa. Ela complementa: “Em troca das acusações no segundo processo, outros presos ganharam consideráveis reduções na pena. Nenhum dos arrependidos e dissociados teve prisão perpétua, o único membro do grupo com essa condenação foi o ausente: Battisti”.
Em suas pesquisas sobre o caso, ela constatou ainda que as procurações supostamente assinadas por Battisti para os advogados que o representaram no segundo processo são falsas. “Ele foi representado falsamente durante os onze anos do processo. Isso já seria suficiente para anular sua condenação”, diz. Com tanta sujeira embaixo do tapete, fica evidente que os motivos para a condenação de Battisti são muito mais políticos do que de fato judiciais.
Dalmo de Abreu Dallari, jurista e professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), explica que se fossem considerados apenas os aspectos legais, Battisti já deveria estar em liberdade. Já Carlos Alberto Lungarzo, professor titular da Unicamp aposentado e militante da Anistia Internacional (AI), acredita que é totalmente impossível que Battisti tenha cometido algum assassinato.
O professor conta que a perseguição tomou tamanha proporção que uma região da Itália está proibindo os livros de centenas de escritores que assinaram um manifesto pela não extradição de Battisti. “É necessário entender um ponto sensível da cultura italiana, pelo menos nos últimos dois séculos: o sentimento de vingança muito generalizado. O Tribunal precisava dar uma satisfação aos parentes e ter um culpado universal. Claro que também há interesse político.
Os estudiosos do caso apontam mais de uma justificativa para a perseguição de Battisti. Para Lungarzo, é simplista dizer que Berlusconi quer ocultar seu fracasso político e seus escândalos sexuais, uma vez que a campanha contra o escritor aumentou a medida que seus livros críticos ficaram mais conhecidos.
– Tudo indica que os magistrados italianos carregaram todos os assassinatos em Battisti, porque ele estava longe e não poderia se defender. Ele foi apenas um bode expiatório. Quando ele voltou à França, em 1990, a Itália tentou extraditá-lo, a extradição foi recusada e não houve alvoroço. Então surgiu a verdadeira razão: Battisti se tornou um escritor de sucesso, com 15 livros publicados antes de vir ao Brasil. Suas histórias sobre perseguição, exílio e fascismo são romances lidos por pessoas que nunca leriam um livro de história. Há uma prova que eu acho muito clara disso: em quase todas as mensagens e comentários de ódio de leitores de jornais que se publicam na Itália sempre se fala que ele é um ‘afrancesado’, um rebelde, um homem que pinta uma imagem horrível da Itália, que não é católico, e coisas assim. Isso é muito duro para um país onde domina a Máfia, o fascismo e a Igreja – avalia Lungarzo.
Fonte: Revista Caros Amigos
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário