quinta-feira, 21 de abril de 2011

Os significados da Páscoa

Por Flávio Azevedo - Reflexões

Chocolates, ovos de Páscoa, canjica, queijos, vinhos, peixes (bacalhau), são alimentos típicos da Semana Santa. Mas o que é a Semana Santa? São os últimos sete dias da Quaresma. E o que é Quaresma? Trata-se de um período religioso cristão, que começa na Quarta-Feira de Cinzas e termina no Domingo de Páscoa. Mas, e o que é tudo isso? Bem, primeiro vamos salientar que os símbolos sem importância, o comércio fez questão de massificá-los. Já os símbolos realmente significativos, por passar mensagens de fé e esperança, são abordados superficialmente.

De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Quaresma surgiu entre os católicos por volta do ano 350 D.C. e compreende os quarenta dias que antecedem a ressurreição de Jesus Cristo, que se comemora no Domingo de Páscoa. Nesse período, o católico deve comparar a sua vida com a de Cristo, inclusive se está praticando os exemplos deixados por Ele.

A celebração da Semana Santa começa no Domingo de Ramos. A história conta que os judeus pensavam que a missão de Jesus era libertá-los do domínio romano. Por isso, na sua chegada a Jerusalém, as pessoas jogaram ramos aos seus pés, honraria destinada aos reis. Domingo de Ramos pretende rememorar esse acontecimento.

Na quinta-feira seguinte, Jesus participou de uma ceia com os discípulos, e os católicos celebram, também nesse dia, a Ceia do Senhor, também conhecida como Lava Pés. Nessa noite, Jesus foi preso e no dia seguinte, sexta-feira, depois de muito suplício foi crucificado e morto, às 15 horas. Isso explica porque na Sexta-Feira comemora-se a Sexta-Feira da Paixão.

No dia seguinte é o Sábado de Aleluia. Durante a noite, o costume é celebrar a Vigília Pascal, também conhecida como a Missa do Fogo. Nela o Círio Pascal (vela) é aceso e resulta em cinzas, significando que o homem veio do pó e ao pó voltará. Esse sábado é o dia de malhar o Judas, um momento almejado por todos, por conta da diversão que envolve o simbolismo. Judas foi o discípulo que traiu o Mestre ao vendê-lo por 30 moedas de prata.

Cheio de remorso pelo ato cometido, Judas se enforcou no Campo Acéldama. Assim, como representação do discípulo traidor, um boneco de pano recheado de bombinhas é confeccionado. Depois disso, o boneco é pendurado, surrado e queimado pela população (foto). Os rituais se encerram no domingo, data da ressurreição de Cristo, com a Missa da Páscoa.

Entretanto, judeus e protestantes em geral, utilizam a data somente para aproveitar a receptividade das pessoas à religião. Para esse grupo, a origem da Páscoa está no capítulo 12, do livro de Êxodo, que narra a luta dos descendentes de Jacó (israelitas) para deixarem o Egito. A Bíblia narra essa história, dizendo que os hebreus foram escravos na terra dos faraós por 430 anos. Passado esse tempo, Deus levantou Moisés para libertar o povo, que só foi liberado depois que 10 pragas castigaram os egípcios. A Páscoa teve relação com a décima praga, que consistia na morte de todos os primogênitos, inclusive dos animais.

A forma de evitar a visita do “Anjo Destruidor” era simplesmente uma questão de fé. O chefe da casa deveria sacrificar um cordeirinho, que seria assado e comido com ervas amargas e pão sem fermento. Além disso, o sangue do cordeiro deveria ser borrifado nos umbrais da porta, porque a instrução do “Anjo Destruidor” era poupar as casas que apresentassem esse sinal. O nome Páscoa foi dado à celebração religiosa anual, que era realizada entre os hebreus, para lembrar o dia da libertação do cativeiro egípcio.

As ervas amargas simbolizavam a amargura da escravidão, e o pão sem fermento, uma vida sem pecado. Mas o principal simbolismo da festividade era o cordeiro sacrificado (foto), que significava Jesus, o Filho de Deus, que morreu para salvar a humanidade separada de Deus pelo pecado. Convém ressaltar, que essa conclusão final, não é compartilhada pelos judeus, que não reconhecem Jesus como o Salvador do mundo. Ainda convém lembrar, que sorrateiramente, o coelho substituiu o verdadeiro símbolo da ocasião: o cordeiro.

Anos mais tarde, o capitalismo percebeu o lucro que poderia alcançar e introduziu a figura do ovo, do coelho da Páscoa e do chocolate. O ovo é um significado antigo, que simboliza nascimento ou vida nova. Daí sua associação à Páscoa: a Ressurreição de Jesus também indica o princípio de uma nova vida e a redenção da humanidade. Os egípcios e persas costumavam tingir ovos com as cores primaveris e os davam a seus amigos. Os persas acreditavam que a Terra saíra de um ovo gigante. Portanto, essa comemoração não é do cristianismo.

Por ser um dos primeiros animais que aparecem depois de um longo e tenebroso inverno, o coelhinho de Páscoa simboliza a mudança de inverno, onde a natureza está adormecida, para a primavera, onde a vida já renasce. Além disso, como os coelhos são animais que se reproduzem com facilidade e em grande quantidade, resolveram em determinada época da Idade Média, associar o animalzinho a ressurreição de Jesus – que veio restaurar a relação rompida entre a humanidade e Deus. Esse coelho também não passa de um sincretismo religioso.

O componente mais concorrido da Páscoa é o “Theobroma” (Cacau, fruta que dá origem ao chocolate), nome dado pelos gregos ao alimento que conhecemos como chocolate, que era chamado de “alimento dos deuses”. Para os Maias e Astecas, o chocolate era tão sagrado quanto o ouro. Eles acreditavam que o alimento possuía poderes afrodisíacos e aumentava o vigor de quem o utilizava. Por isso, ele geralmente era reservado aos governantes e soldados.

Com a consolidação do capitalismo, o chocolate tornou-se uma da suas grandes ferramentas de estímulo ao consumo. A superstição desses povos foi transformada em certeza nos tempos modernos, quando a ciência constatou o poder energético do alimento.

Independente da interpretação de cada um, que nessa Semana Santa nós possamos refletir sobre a importância dos valores pregados por Jesus Cristo, o “Cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo”. Que o exemplo deixado por Ele, que foi sacrificado por mim e por você, no Monte Calvário, em Jerusalém, nos oriente em nossas decisões de cada dia.

Diante de uma data carregada de significados espirituais importantes, não poderíamos fechar as nossas reflexões sem antes citar dois versos bíblicos. O primeiro está escrito no libro de 1ª São Pedro (5 . 6 e 7). Diz assim: “humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós”. O segundo está em São Mateus (11. 28 a 30), e são palavras do próprio Jesus: “vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o descanço para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu fardo é leve”.


Boa Páscoa!

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