Por Flávio Azevedo - Reflexões
Hoje, dia 1º de maio, o brasileiro comemora o Dia do Trabalhador. Mas será que essa classe tem o que comemorar? Embora, ainda hoje, o trabalhador perca cerca de 10% do salário com impostos, ocorreram sim, algumas conquistas. É interessante, que não somos informados na escola (pelo menos eu não fui), sobre o que representa esse feriado, que na verdade, é o símbolo da busca por melhorias trabalhistas a partir do século XVIII.
As primeiras manifestações operárias ocorreram na Inglaterra, em 1819. Além da luta pela redução da jornada de trabalho, que chegava a 18 horas, existia o movimento pela extinção das crianças-operárias. O que era feito com esses pequenos é revoltante. As crianças que tinham idade, entre três ou quatro anos, eram lambuzadas de graxa e introduzidas nas ferragens das máquinas, para engraxar as engrenagens.
Na França, a luta para se alcançar onze horas de trabalho foi tratada como desordem pelas autoridades. Em 1831, num 1º de maio, na cidade de Bordeaux, os serradores destruíram as novas serras mecânicas, dando início a luta contra a não utilização de mãe-de-obra humana nas linhas de produção.
Entretanto, esse movimento não ocorre apenas na Europa. Ele chega com força às indústrias americanas, onde ocorreram movimentos importantes. A jornada de trabalho nos Estados Unidos da América (EUA) era de 15 horas. Para que esse número fosse reduzido para as atuais 8 horas, surgiram muitas revoltas e protestos. Em 1827, os carpinteiros da Filadélfia realizaram a primeira greve com este objetivo. Entretanto, somente em 1840, o governo aprovou o primeiro projeto de redução da jornada de trabalho. Contudo, inicialmente apenas os funcionários públicos tiveram esse direito.
Essa vitória parcial motivou a busca do benefício para todos os setores. Para isso, foi convocada uma greve nacional, que tinha como objetivo, pressionar o governo a reduzir a jornada de trabalho para todos os assalariados, sem distinção de sexo, ofício ou idade. A data escolhida para a greve foi 1º de Maio de 1886, porque nesse mês ocorriam as renovações dos contratos de trabalho nos EUA. A greve superou as expectativas, pois mais de cinco mil fábricas foram paralisadas e cerca de 350 mil operários saíram às ruas. Muitas empresas cederam, e antes do fim do ano, cerca de 1 milhão de trabalhadores já trabalhavam somente oito horas por dia.
O ponto alto do movimento foi em Chicago, onde no dia 4 de maio, durante um protesto, uma bomba explodiu e matou um policial. O resultado foi uma guerra, que resultou em 38 operários mortos e 115 feridos. Foi decretado estado de sítio, e mais de 300 líderes grevistas foram presos, interrogados e torturados.
Entre esses, estavam os líderes do movimento: o jornalista Auguste Spies e os sindicalistas Adolf Fisher (tipógrafo), George Engel (tipógrafo), Albert Parsons (líder da Associação Internacional dos Trabalhadores), Louis Lingg (carpinteiro), Samuel Fielden (orador), Michael Schwab (encadernador) e Oscar Neebe (funileiro). Esses homens entraram para a história como “Os Mártires de Chicago”.
Embora os oito tenham sido considerados culpados pela explosão da bomba, apenas quatro deles foram enforcados: Spies, Fisher, Engel e Parsons. Enquanto Lingg cometeu um suposto suicídio na cela, Fielden e Schwab receberam prisão perpétua. Já Neebe, foi condenado a 15 anos de prisão. Em 1891, reunidos em Bruxelas, na Bélgica, a organização Segunda Internacional dos Trabalhadores, decidiu que, em homenagem a esses homens que deram a vida por melhores condições trabalhistas, em todo mundo, o 1º de maio seria estipulado como o Dia do Trabalhador.
No Brasil, eu prefiro não mencionar nenhum avanço, por achar que em terras tupiniquins muitos direitos trabalhistas ainda são ignorados. Na verdade, quando eu vejo mega shows para comemorar o Dia do Trabalhador, concordo com o que disse, em 2008, o Coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo, Waldemar Rossi. Ele afirmou que “os patrões procuram fazer com que o Dia do Trabalhador se transforme em mais um dia de alienação”.
Empresas do porte da Caixa Econômica Federal, Brahma, Embraer, Tam, Nestlé, entre outras, gastam milhões com sorteio de apartamentos, automóveis e apresentação de artistas de fama nacional. Mas, e os direitos que ainda não foram alcançados? A Central Única dos Trabalhadores (CUT), informou, que irá aproveitar a oportunidade para discutir o projeto de flexibilização da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Mas, me parece ser um movimento muito tímido!
Ficam aqui algumas perguntas para a nossa reflexão:
Como festejar, se o desemprego aumenta a cada dia?
Comemorar o quê, se os direitos trabalhistas conquistados com tantas lutas, ainda são ignorados por inúmeros patrões?
Para que feriado, se o fruto do nosso trabalho é tão ínfimo, que as nossas dívidas são sempre prorrogadas para ‘o mês que vem’?
Como ficar feliz, quando se percebe com nitidez, que trabalhar na informalidade é mais lucrativo do que com Carteira assinada?
Como demonstrar alegria, quando vemos crianças precisando trabalhar para ajudar no sustento da família?
Existe bem-estar, quando assistimos notícias falando sobre trabalho escravo, ainda hoje?
É bom saber, que ao contrário do que pensam alguns, os feriados não foram instituídos para que nesse dia fôssemos à praia ou nos reuníssemos com amigos para um churrasco. São datas memoriais, que em muitas oportunidades representam o sacrifício de vidas na busca por um ideal, que, às vezes, não sabemos valorizar. Vamos manter a nossa fama de ‘não desistir nunca’, e lutemos para alcançar os benefícios que ainda estão distantes de nós.
sábado, 30 de abril de 2011
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bom naum entendi muita coisa mas ficou bem exclarecido que o trabalhador sofre muito , tambem
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