terça-feira, 20 de novembro de 2012

Controvérsias do "Dia da Consciência Negra"

Flávio Azevedo

A escravidão dos negros africanos é um mancha que nunca se apagará da história brasileira.
Durante as comemorações de hoje, alguns comentários engraçadinhos sobre a tal “consciência branca” foram ouvidos nas ruas e redes sociais. Sinceramente, fica a nítida impressão que as pessoas não entendem bem o que é o “Dia da Consciência Negra”. Ele realmente não muda em nada o passado, tão pouco coloca o negro – ainda vítima de inúmeros preconceitos – acima de quem tem a pele mais clara.

Entretanto, vale lembrar que essa é uma data memorial. Sim, memorial. O “Dia da Consciência Negra” é uma compensação que o Brasil – último a país a dar liberdade aos negros – presta aos povos africanos que foram introduzidos no país. Gente que foi trazida para as Américas contra a vontade e para serem escravizadas.  

A verdade é que os negros eram entregues aos traficantes de negros pelos próprios africanos. Geralmente, depois de uma guerra entre tribos africanas, a nação vencedora, para se livrar dos inimigos, vendia tribos inteiras para os escravistas. Isso, porém, não nos isenta de reconhecer o horror da escravidão que ainda existia há pouco mais de 100 anos.

O ministro do STF Joaquim Barbosa
Séculos depois da chegada dos africanos ao Brasil, nós não temos direito de nos achar brancos, amarelos, pardos, índios ou negros. Somos um povo mestiço! Podemos afirmar que o “Dia da Consciência Branca” nós comemoramos todos os dias. Para isso basta assistir o noticiário e acompanhar os inúmeros casos de corrupção, hábito que herdamos dos marginais e toda sorte de gente desclassificada que foi enviada pela coroa portuguesa para povoar o Brasil e originar os mestiços que vivem aqui na atualidade.

Apesar da falta de respeito para com os mestiços negros, os crimes mais horripilantes, como a corrupção política, por exemplo, quase sempre tem como autores os mestiços brancos. Os crimes onde os mestiços negros são protagonistas são aqueles que têm como razão a desigualdade social, geralmente fomentada pelo mestiço branco.

Podemos terminar pensando na lógica do antropólogo Roberto Damatta, para quem, no Brasil, não existe preconceito entre pobres e negros. Damatta defende que a segregação em território brasileiro não é racial, mas de classe social. O pobre branco é vítima de toda espécie de preconceito e desigualdade. Já o rico negro tem regalias e privilégios. Essa é a prova que no Brasil, diferente do que acontece nos Estados Unidos da América, a flagrante discriminação racial (brancos x negros) não existe. Por aqui o fenômeno é repetido, mas numa eterna luta de classes (ricos x pobres).

O bandido de classe média Pedro Dom.
Deveríamos pensar mais sobre isso, mas não há como cobrar reflexão de um povo mestiço e mulato. Uma civilização que não se preocupa em enriquecer através do conhecimento (Educação). Pelo contrário, a riqueza almejada por aqui é o dinheiro, instrumento que quando cai nas mãos de quem não tem Educação acaba se tornando a raiz de toda espécie de males!

Duas histórias

Nas fotos acima nós vemos Pedro Machado Lomba Neto, vulgo “Pedro Dom”, perigoso bandido carioca, que era LOURO E BEM APESSOADO. Ganhou o apelido de “Dom” dos colegas dependentes químicos com quem convivia nas esquinas da rua Prado Júnior, em Copacabana. Começou a roubar por volta dos doze anos para financiar seu vício. No começo, subtraía objetos de sua mãe.

Foram constantes as tentativas inúteis dos pais para libertá-lo do vício. Chegaram a vender um apartamento para pagar o tratamento médico e propinas para a polícia, com o objetivo de evitar sua prisão. Pedro Dom teve catorze internações em clínicas de desintoxicação até ser preso, no ano de 2001, por porte ilegal de armas.

Dom fez fama de violento. As vítimas descreviam cenas de horror. Uma mulher contou que ele chegou a colocar uma granada sobre a cabeça de uma criança para forçar as vítimas a contar onde guardavam as jóias. Ele gostava de andar com roupas de grife e tinha preferência em roubar vestimentas e calçados finos.

Poucos dias antes de completar 24 anos, Pedro Dom foi morto com um tiro de fuzil no peito no corredor de um prédio na Lagoa, bairro nobre da zona sul do Rio de Janeiro. Eram 4h da madrugada e ele havia acabado de "furar" com o uso de uma granada um cerco policial montado para prendê-lo na saída do túnel Rebouças (ligação entre as zonas norte e sul).

Ao contrário do "mestiço branco", Pedro Dom, está o "mestiço negro", Joaquim Benedito Barbosa Gomes, ou simplesmente Joaquim Barbosa. Natural de paracatu/MG, ele é o primeiro filho de uma família de oito irmãos. O seu pai era pedreiro e sua mãe dona de casa. Depois da separação dos pais, Joaquim ele foi, aos 16 anos, sozinho, para Brasília, onde arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense. Sempre estudando em colégio Público, ele terminou o segundo grau. Se formou em bacharel em Direito pela Universidade de Brasília, onde fez mestrado em Direito do Estado.

Foi Oficial da Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores (1976-1979), tendo servido na Embaixada do Brasil em Helsinki, na Finlândia. Estudou na França e concluiu o mestrado e o doutorado em Direito Público, pela Universidade de París. Foi visiting scholar no Human Rights Institute da faculdade de direito da Universidade Columbia, de Nova York e na Universidade da Califórnia Los Angeles School of Law.

Fez estudos complementares de idiomas estrangeiros no Brasil, Inglaterra, Estados Unidos, Áustria e Alemanha. É fluente em francês, inglês, alemão e espanhol. Toca piano e violino desde os 16 anos de idade. Foi indicado para o cargo de ministro do do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Lula em 2003, sendo o primeiro ministro reconhecidamente negro do STF, uma vez que anteriormente já compuseram a Corte Hermenegildo de Barros e Pedro Lessa, que eram tidos como morenos.

O ministro Joaquim Barbosa foi eleito presidente do STF no dia 10 de outubro de 2012, sendo o primeiro presidente negro da Corte Suprema. No mais polêmico julgamento desde que tomou posse no tribunal, ele foi favorável a tese de que políticos condenados em primeira instância poderiam ter sua candidatura anulada, mas foi voto vencido.


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