Flávio Azevedo
Personagens da trama, Alex é o pai desatento da espevitada Giovana. |
A novela Verdades Secretas, apesar de
toda crítica que recebe por conta das suas cenas de sexo e nudez, na última
segunda-feira (06/07) promoveu uma reflexão à sociedade brasileira, que
anestesiada com o sensacionalismo da cena em que, sem saber, pai e filha se
encontram num quarto de hotel para um ‘programa’. A filha não sabia que o pai
tem fetiche por “novinhas”, pagando quantias vultosas para fazer programas com
elas; e o pai não sabia que a filha, iniciante na carreira de modelo, está se
prostituindo através do 'book rosa', mecanismo que ele mesmo está cansado de
contratar.
Ambos ficam chocados com o encontro e
o pai, interprertado pelo ator, Rodrigo Lombardi, fica desesperado com a
‘verdade secreta’ que acaba de descobrir. A cena é bem típica de todo pai que
não percebe que os filhos cresceram, sejam eles meninos ou meninas. Mas não foi
essa cena que chamou a minha atenção. O que entendi como muito significativo e
uma lição para todos nós foi o dialogo do pai com a terapeuta, profissional que
ele procura para desabafar e buscar ajuda. A profissional dá sugestões e faz
ponderações que devem ser compartilhadas a exaustão.
"Acho melhor você e a mãe dela
serem menos omissos... Tentarem se relacionar de verdade, participar mais da
vida da sua filha". O pai já havia dado um castigo na filha, porque ele
descobriu que ela estava fumando maconha. Sobre esse assunto, a especialista
pergunta “ela deixou de fumar? Vocês conversaram sobre isso? Você sabe como ela
fumava, com quem, quanto, quando?”... Nitidamente percebe-se que o pai teve a
iniciativa de castigar a filha pelo delito, mas não abraçou a jovem.
Preocupado com o comportamento da filha, o empresário procura ajuda de uma terapeuta e ouve verdades que geralmente chocam os pais da seja ficção ou na vida real. |
A terapeuta sugere que o pai apoie o
sonho de ser modelo da filha e ele diz que deseja proibir. Ela dá uma dica
importante que pode ser estendida a todo pai. “Incentive a carreira dela,
porque a questão não é você... O que você quer... Tente ser pai, dono da sua
filha você não vai ser jamais”. No fim do diálogo, a terapeuta dá outra dica
importante para o pai fictício que cabe como uma luva para os pais da vida
real: “conviva com ela, converse, se interesse por ela, descubra quem é a sua
filha, tente ser amigo... E aí vocês vão parar de guerrear e ambos lucrarão com
isso”.
Nesse caso especificamente, terapeuta
e pai discutem a escolha da jovem em se prostituir e o que fazer diante dessa
iniciativa. A novela, querendo ou não, retrata a realidade da sociedade e
aborda o leque de escolhas equivocadas dos nossos jovens, que quase sempre são
motivadas pelo distanciamento, por vezes involuntário, dos pais. Está claro que
os jovens que enveredam pelo caminho das drogas, da criminalidade e de outras
práticas erradas precisam de ajuda, pulso firme e também de afago e carinho.
Enquanto a grande mídia explora, o
sensacionalismo que envolve a questão do ‘book rosa’, onde a modelo em inicio
de carreira escolhe se prostituir para aumentar o seu orçamento, eu prefiro
explorar o trecho da trama que expõe uma verdade nada secreta da sociedade
brasileira: o distanciamento dos pais na formação dos filhos. Creio que essa é
uma reflexão que nós precisamos abordar despidos de preconceitos,
discriminações e tabus que envolvem o assunto. Concluo afirmando que a
sociedade tem jeito, basta querer e perceber que existem verdades que devem o
quanto antes sair do armário.
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