Flávio Azevedo
O presidente do HRDV, Joaquim Pacheco Martins (de branco); ao lado do advogado Leonardo Martins (de terno) e colaboradores do Hospital. |
A direção do Hospital
Regional Darcy Vargas (HRDV) convocou entrevista coletiva para apresentar a sua
versão dos fatos que envolvem a relação turbulenta entre a Prefeitura de Rio
Bonito e a instituição. A dificuldade financeira do Hospital também foi
assunto. A entrevista foi concedida na sala da presidência do HRDV. A nossa
reportagem pediu autorização para transmitir a entrevista, ao vivo, pela
internet, mas os representantes do Hospital não autorizaram. O HRDV estava
representado pelo presidente Joaquim Pacheco Martins, o advogado Leonardo Motta
Martins; o conselheiro José Rodrigues Peixoto Filho; e funcionários de
confiança da presidência.
O primeiro assunto
abordado foi a demissão do auditor, Carlos Zaire. “Ele foi afastado por
questões administrativas, tendo em vista que ele veio para prestar um serviço
de auditoria e no final ele já estava querendo tomar algumas decisões à parte da
direção. Assim, o entendimento da diretoria foi de afastá-lo”, explicou
Leonardo, que também falou sobre o administrador, explicando que ele não foi
dispensado, mas recebeu férias. “No retorno dele nós iremos discutir a
situação”.
Dívida da Prefeitura
O advogado falou
rapidamente sobre esses profissionais e entrou no tema dívida da Prefeitura com
a instituição, segundo ele, um valor da ordem de R$ 3.254.034,04, “até às
11h25min de hoje, porque soubemos que a Prefeitura vai efetuar alguns
pagamentos”. Ainda segundo Leonardo, essa dívida é referente a débitos com Recurso
Próprio do mês de outubro, para custeio do Pronto Socorro (R$ 436.131 mil); ao
repasse do SUS (R$ 871.201 mil); para custeio dos atendimentos de Ortopedia do
mês de outubro (R$ 80 mil); e ao serviço de Oncologia de setembro (R$ 436.337
mil) e outubro (R$ 420.810 mil).
– Outra dívida é
relacionada aos recursos do Programa de Apoio aos Hospitais do Interior (PAHI).
O dinheiro vem do governo do estado e não é repassado desde abril, significando
uma dívida de R$ 947.959 mil – disse Leonardo, que falou em nome do HRDV.
A alegação da
Prefeitura para o não pagamento desses recursos, segundo Leonardo, que
apresentou notas e documentos que comprovam os números por ele apresentados, são
as certidões negativas do HRDV. Ele explicou o porquê das certidões negativadas.
– Desde janeiro estão
acontecendo atrasos nos repasses da Prefeitura para o HRDV. Nós estamos
recebendo a conta gotas, isso tem asfixiando a instituição e tem gerado
despesas extras, como protestos de prestadores de serviço, que não querem
esperar o pagamento; multas de sindicato de categoria; multas de fiscalização
por atraso de salário; juros de maneira geral; e isso desestabiliza a nossa
administração – explica Leonardo.
Quantos aos impostos,
ele informou que o INSS está quitado; e o FGTS está em processo de
parcelamento, com atraso na tramitação, porque os documentos foram extraviados
dentro da agência da Caixa Econômica Federal. “Recebendo todo esse montante que
nos é devido, nós poderíamos pagar as nossas dívidas, quitar o salário dos
funcionários e pensar no 13º deles”. Sobre uma funcionária contratada com
salário de R$ 5 mil, o representante do HRDV afirma que “ela não foi bem vista
pela prefeita e pelo secretário de Saúde, porque ela fez alguns questionamentos
com a intenção de reajustar os números do POA, que estão defasados”.
Deficiências do POA
O Plano Operativo
Anual (POA) é um modelo de planejamento orçamentário que é montado entre as
partes (Prefeitura e HRDV). O instrumento funciona como uma espécie de contrato
de prestação de serviço e de norte para o pagamento dos serviços prestados. O
valor acordado entre as partes no POA em vigência é de R$ 1.8 milhão. De acordo
com Leonardo, os ‘ralos’ do Hospital estão em serviços que estão sendo
prestados, mas o custeio é pequeno; ou por serviços que são prestados, mas não
são financiados. O primeiro ralo é a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que dá
prejuízos mensais de R$ 70 mil ao HRDV.
– Nós temos sete
leitos de UTI, sendo cinco para o SUS e dois para convênio e particular. Porém,
esses dois leitos acabam sendo usados pelo SUS. E no fim do mês, o nosso teto
de 140 diárias, o que está previsto no POA, acaba extrapolando para 200 diárias.
Essa diferença, que representa um prejuízo de R$ 70 mil mensais, o Hospital não
recebe – destaca Leonardo. Ele acrescenta que essa média de diárias não
faturadas se arrasta desde novembro de 2012, quando a UTI começou a funcionar,
num prejuízo da ordem de R$ 797.607 mil.
Outro ‘vazadouro’
apresentado pelo representante do HRDV é a Unidade Intermediária (UI), que
recebe pacientes com gravidade similar aos da UTI, “mas o recurso que custeia
esse setor é o de uma enfermaria comum”. Ele comentou que esses leitos precisam
ser credenciados junto a SUS, “uma questão já comentada com a prefeita, que
ficou de buscar esses credenciamentos”. Outra questão apontada como motivo para
a fuga de recursos são os partos cesáreos, que por ultrapassar o teto
estipulado pelo POA, representam um prejuízo da ordem de cerca de R$ 50 mil por
mês. “De novembro de 2012 até hoje, esses partos não faturados representam um
prejuízo de aproximadamente R$ 700 mil”.
A Programação
Pactuada Integrada (PPI), um recurso que é repassado pelo governo federal à
Prefeitura de Rio Bonito, para custear o atendimento de pacientes provenientes
de municípios que não são referenciados (Tanguá e Silva Jardim), segundo o
representante do HRDV, precisa ser repassado com mais transparência. “Nós
conseguimos ver o número de atendimentos, mas como o recurso vem direto do
governo do federal para o município, nós não somos informados de quanto
realmente é esse valor”.
O recurso próprio da
Prefeitura, que custeia o Pronto Socorro, segundo Leonardo, precisa ser
revisto, porque os R$ 436 mil atuais cobrem apenas 60% das despesas do setor. A
pedida da direção do Hospital é que esse valor seja ampliado para R$ 550 mil.
– Com esse valor, o
setor funcionaria com mais folga. Hoje, a emergência conta com cinco
especialidades: cirurgião, clínico, pediatra, obstetra e ortopedista, esse
último apenas 12h – frisou Leonardo, acrescentando que o Hospital propôs a
contratação de mais um profissional de cada especialidade para o Pronto
Socorro, porque uma das razões para a fuga médicos do HRDV acontece porque eles
trabalham sozinhos numa emergência que atende uma média de 4.5 mil atendimentos
mensais.
Ainda segundo
Leonardo, a Justiça foi procurada para regularizar a questão da falta de repasses.
O objetivo de chamar o Ministério Público foi mediar a questão. O assunto está
na Tutela Coletiva da Saúde, em São Gonçalo. “Os valores da Prefeitura já foram
bloqueados e uma multa diária foi estipulada para a Prefeitura, num documento
emitido em 27 de outubro de 2014”.
Gestão compartilhada e desabafo
Um dos objetivos para
essa gestão compartilhada seria a ampliação dos valores do POA, mas segundo
Leonardo, quando esse assunto era abordado com os representantes da Prefeitura,
os secretários, Marcelo Soares e Waldir Júnior, logo falavam “cuidado para não
azedar a relação”. No entendimento da direção do HRDV, a postura dos
representantes da Prefeitura era de auditores e não de parceiros. “Tiveram
acesso a todas as informações, mas nunca conversavam sobre os assuntos do nosso
interesse. O Hospital está aberto a parceria, uma auditoria, mas uma auditoria
séria. Que seja feita pelo Ministério Público”.
– Mas o que achamos
estranho é por que não auditam as contas da Prefeitura? Por que não existe um
movimento para saber quanto a Prefeitura está gastando? Por que faltam
medicamentos no Postos de Saúde? Essa quantidade de carros agregados... Aonde
eu olho eu vejo um carro agregado. Aqueles ônibus do transporte universitário,
quanto vale aquilo? O Espaço Ceccarelli... Falar em má gestão é muito fácil, agora,
tem que ver o lado dela também... E os processos dela, ninguém fala não? –
desabafou Leonardo.
O advogado continuou
apontando irregularidades e ainda apresentou cópias de processos judiciais onde
a chefe do poder Executivo de Rio Bonito é ré.
– E os processos que
ela tem no Federal? Um deles é do Fundo de Educação, que ela foi prorrogando os
contratos, não houve licitação e o que aconteceu? O prejuízo veio para o
município. Foi condenada a oito anos e 10 meses de direitos políticos; foi
condenada em multa civil de 121 mil; foi condenada em duzentos e tantos mil que
deve voltar para o erário, já está lá no Tribunal... Mas ninguém vasculha
isso... Quer vir em cima do Hospital... Os carros agregados estão aí na rua, as
casas alugadas estão aí sendo alugadas, as ESFs estão sem medicamentos... O meu
pai (o presidente do Hospital) aqui, que não tem processo nenhum e fica sendo
alvo de leviandade... Procura o Imposto de Renda dele, o meu Imposto de Renda e
dos demais diretores... – desabafou Leonardo.
o conselho de saúde onde esta ele.ok
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