Flávio Azevedo
A reunião inicialmente foi marcada por muito desentendimento entre a prefeita e o advogado Leonardo Martins... |
Com o objetivo de
ouvir a prefeita Solange Almeida e a direção do Hospital Regional Darcy Vargas
(HRDV) sobre a prestação de serviço da instituição à população de Rio Bonito, o
Conselho Municipal de Saúde promoveu uma reunião entre as partes na tarde do
último dia 19 de novembro. A reunião aconteceu na sede administrativa da
Secretaria Municipal de Saúde, na Bela Vista. Também estava presente o
secretário Municipal de Saúde, Anselmo Ximenes; a vereadora, Marlene Carvalho;
conselheiros e funcionários da Secretaria de Saúde e do HRDV. A reunião foi
proveitosa, muitos esclarecimentos foram dados, mas em vários momentos os
representantes de Prefeitura e Hospital estiverem com os ânimos acirradíssimos.
Há meses uma queda de
braço e troca de acusações vem acontecendo entre os representantes do poder
Executivo e do HRDV. Enquanto a prefeita afirma estar em dia com os seus
pagamentos e repasses para a instituição; do HRDV saem informações de que os
problemas financeiros enfrentados ocorrem por culpa dos débitos que a
Prefeitura tem com o hospital. Em meio a essa queda de braço, o grande
prejudicado é o cidadão, que, sobretudo, nos fins de semana, ao buscar
atendimento, não encontra médicos, principalmente Pediatra e Obstetra.
A gota d’água pode
ter sido a mobilização de funcionários do HRDV, que estiveram na Câmara de
Vereadores na sessão do último dia 18 de novembro, com o intuito de pedir
socorro, porque o pagamento de outubro ainda não havia sido pago. Tramitava no
Parlamento, uma mensagem do poder Executivo pedindo aos vereadores, uma
suplementação de R$ 4,3 milhões para a Saúde. Indignados com os rumos da gestão
do município, os vereadores desmembraram a mensagem e aprovaram apenas R$ 2,5
milhões. Os edis recomendaram ainda, que a Prefeitura fizesse o repasse
imediato de recursos para o Hospital para que a instituição fizesse o pagamento
dos funcionários.
Versão do Hospital
No início da reunião
do Conselho Municipal de Saúde, o clima entre a prefeita Solange e o advogado
Leonardo Martins, não era dos melhores. Depois de fazer as suas colocações
sobre a situação do Hospital, afirmando que a Prefeitura tem uma dívida da
ordem de R$ 3.254.034,04, o advogado destacou que antes de começar a reunião do
Conselho a Prefeitura depositou um valor da ordem de R$ 1.4 milhão, sendo R$
871 mil, referentes ao SUS de outubro; R$ 80 mil da Ortopedia; e R$ 436 mil da
Oncologia, referentes aos serviços prestados em setembro.
– Sendo que resta
ainda a receber, o recurso próprio de outubro de R$ 436 mil (referente ao
custeio do Pronto Socorro do Hospital); falta o recurso de R$ 420 mil,
referentes aos serviços da Oncologia prestados em outubro; e desde abril não
recebemos o PAHI, que faz um montante de R$ 947 mil. A alegação da prefeita é
que o Estado não pagou o PAHI e isso verdade, mas pagou abril. Sendo que nós
temos um Plano Operativo Anual (POA) assinado, onde está previsto que independente
de receber do Estado, a Prefeitura paga e depois faz o abatimento – disse
Leonardo, acrescentando que no mês de julho, a Prefeitura cortou uma verba da
UTI do valor de R$ 20 mil, um prejuízo de R$ 61 mil nesses meses. “A dívida da
Prefeitura com o HRDV, hoje, é de R$ 3.254.034,04 menos esse valor que foi
repassado hoje (o que diminui a dívida para R$ 1.8 mil)”.
Outro problema apresentado
pelo representante do HRDV foram os prejuízos acumulados através da Unidade
Intermediária (UI), que recebe pacientes com gravidade similar aos da UTI, “mas
o recurso que custeia esse setor é o de uma enfermaria comum”. Outra questão
apontada como motivo para a fuga de recursos são os partos cesáreos, que ultrapassam
o teto estipulado pelo POA e representam um prejuízo da ordem de R$ 50 mil por
mês.
O recurso próprio da
Prefeitura, que custeia o Pronto Socorro, segundo Leonardo, precisa ser
revisto, porque os R$ 436 mil atuais cobrem apenas 60% das despesas do setor. A
pedida da direção do Hospital é que esse valor seja ampliado para R$ 550 mil.
Bate boca
Quando a prefeita
tomou a palavra, quase não conseguiu falar, porque a todo o momento ela era
interrompida e tinha as suas informações contestadas por Leonardo, que estava
visivelmente irritado. Em alguns momentos foi necessário o presidente do
Conselho, Djalma de Paula, interferir e serenar os ânimos. Também apresentando
documentos, a prefeita garantiu que não está devendo nada ao HRDV e
acrescentou: “se fizermos uma análise bem firme nos números, vocês verão que
algumas dessas despesas já estão pagas antecipadamente”.
Na discussão com o
representante do HRDV, a prefeita esclareceu que estão sendo descontadas as faltas
de médicos na emergência. Enquanto isso, o representante do Hospital afirmava
que a Prefeitura marca reuniões em cima da hora, por isso o POA não está sendo
avaliado. Sobre o PAHI, a prefeita afirmou que esse é recurso é proveniente do
Estado, que não feito os repasses. “Mas isso nunca aconteceu, a Prefeitura
sempre adiantou esse recurso”, retrucou Leonardo.
A Prefeita afirmou
que os recursos provenientes do Estado e do governo federal chegam depois da
época do pagamento dos funcionários, o que faz ser necessário o Hospital ter um
capital de giro para não ficar refém desses recursos. Nesse interim, a situação
das placas que foram colocadas na área externa do HRDV, com os dizeres “fora
Prefeitura”, na eleição que escolheu a nova diretoria, no último mês de março, acirrou
os ânimos e o advogado Leonardo Martins, visivelmente irritado disparou: “não
foi meu pai que colocou aquelas placas... Ele é um home de conduta ilibada,
pega o imposto de renda dele... O meu pai não tem processo em Justiça, manda lá
uma auditoria do Ministério Público... Eu quero saber quando o POA será
corrigido”.
A prefeita retrucou
que o POA poderia até ser corrigido para menos e fez uma acusação séria: “a gente
não pode querer manipular dados e dizer que estão para receber um dinheiro e
que a dívida vai ser paga com isso aqui, que não vai, porque, hoje, o Hospital tem
uma dívida para frente”. Falando junto com a prefeita, o advogado novamente
pediu para mandar uma auditoria do Ministério Público para auditar as finanças
do HRDV... “Não tem ninguém nervoso aqui, o que temos são 420 funcionários sem
receber... Fica contando história da carochinha”. A prefeita voltou a dizer que
“história da carochinha são os dados oferecidos pelo Hospital que estão sendo manipulados”.
A chefe do Executivo fez outra afirmação importante: “o pagamento ao Hospital foi
feito porque eu me expus, eu peitei a Procuradoria da Prefeitura para fazer o
pagamento do Hospital sem as certidões negativas da instituição e ninguém
precisa provar que é honesto, porque honestidade é obrigação”.
A chefe do Executivo afirmou
que “os recursos próprios de outubro, a Prefeitura tem até o dia 30 de novembro
para pagar e serão pagos”. Ela também destacou que o repasse SUS foi pago,
hoje, em cima de um risco.
– A sua funcionária
auditora disse lá que eu corria o risco até de ser cassada se eu repassasse os
recursos sem o Hospital apresentar as certidões negativas e eu estou correndo
esse risco... Pode sair daqui e entrar com uma ação contra mim, porque eu
repassei recurso sem certidão, porque eu sei o que significa esse Hospital
fechado para o meu município... Não é muito ruim não, é o caos! Eu corri esse
risco e pelo visto vou correr no mês que vem e vou correr no outro mês... –
disparou a prefeita, acrescentando que “eu não me sinto culpada pelos problemas
do Hospital, mas sou responsável pela Saúde do meu município”.
O diálogo começou a fluir
... Mas depois os ânimos serenaram e parece que nas reuniões seguintes de avaliação do POA teremos algum progresso. |
Os números dos
repasses continuaram a ser apresentados pela prefeita, que não foi mais contestada,
apenas a questão do POA era comentada a todo tempo pelo representante do
Hospital. A prefeita afirmou que sobre o CTI, o HRDV poderia credenciar os
outros dois leitos, “mas não é possível por conta dos convênios”. Ela comentou
que o principal problema do HRDV é a falta de médicos na emergência e voltou a
falar que não deseja municipalizar o Hospital, “porque a gestão compartilhada é
o formato ideal de administração”.
Além de falar dos
números e das possibilidades de trazer novas receitas para o HRDV, sugerindo,
inclusive, que os municípios vizinhos sejam procurados para saber se é possível
eles ajudarem de alguma maneira, a chefe do poder Executivo também abordou a
questão do empréstimo, “que deve ser descontado direto no Fundo Nacional de
Saúde, porque faz os juros serem muito menores”. Mostrando alguma noção de
administração, ela frisou que “esse empréstimo seria para quitar os empréstimos
atuais, para pagar os impostos e para ter em caixa os recursos necessários para
uma folha de pagamento, o que vai acabar com os atrasos nos salários e aí nós
iremos começar a trabalhar com tranquilidade”.
Mais tranquilo, o
representante do HRDV voltou a dizer que o POA precisa ser corrigido. A prefeita
comentou que as reuniões para tratar do Hospital e do POA precisam ser mais
frequentes e questionou sobre um funcionário que foi demitido por justa causa. O
advogado esclareceu que não tem nada a esconder e explicou o que aconteceu.
– Houve vários
acertos de balanço no sistema recente, foi constatado e interceptado, ele não
deu a justificativa correta... Ele não esclareceu de forma satisfatória para os
diretores e foi dispensado por justa causa. Mais uma prova de que lá tem gente
séria gerindo e que não tem rabo preso com ninguém. É auditor dispensado, é
administrador de férias e possivelmente vai ser dispensado, é o cara da compra
da farmácia que foi dispensado por justa causa – explicou Leonardo, sempre lembrando
que o POA precisa ser corrigido.
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