Flávio Azevedo - Reflexões
Certamente, a escravidão dos negros africanos é uma das maiores vergonhas da história da civilização ocidental. Aliás, esse absurdo também está presente na história recente do Brasil. Recente, porque há apenas 122 anos atrás, os africanos ainda padeciam nas mãos dos senhores e senhoras. A igreja católica, que tem no seu currículo a morte de milhares de pessoas, e inventou a Santa Inquisição, que de Santa não tinha nada, também foi responsável pelas atrocidades contras os negros.
A igreja apoiava os suplícios e maus tratos dos escravos sob o argumento de que os negros, ao contrário dos brancos, eram como objetos e ferramentas: não tinham alma. Que caras de pau! Acreditavam que os negros não tinham alma, mas era comum ver os senhores e senhorzinhos saciando as suas taras com as negras. Aliás, a quantidade de donos de escravos que buscavam os favores sexuais das escravas era muito grande. O interessante é que nesse momento eles esqueciam que elas eram “desalmadas”!
Na verdade, os brancos não gostam muito de falar sobre esse assunto, porque passados 122 anos, ainda existe muita gente zangada com a atitude da princesa Isabel, que no dia 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, decretou a liberdade dos negros e aboliu a escravidão. O barão de Cotejipe, o único senador do império que votou contra a abolição, ao cumprimentar a princesa logo após a assinatura da Lei Áurea, profetizou: “a senhora acaba de redimir uma raça e perder o trono!”. E ele acertou, porque em represália a atitude da futura rainha, os tarados e mesquinhos senhores de escravos tornaram-se republicanos e apoiaram o ‘golpe’ da República, em 15 de novembro de 1889.
Confesso que desde criança, a escravidão sempre me indignou! Quando eu lia livros ou assistia novelas, que retratavam o sofrimento escravo, eu sentia vergonha da minha pele branca. A primeira vez que eu li a história de Zumbi dos Palmares, eu torci desesperadamente para que Zumbi vencesse os portugueses. Contudo, quando a maturidade foi chegando e os livros de estória deram lugar aos artigos científicos e textos acadêmicos, eu descobri outra realidade.
Eu descobri que a escravidão está baseada num tripé do mal: egoísmo, avareza e preguiça. Egoísmo, porque o sujeito quer se servir da mão-de-obra gratuita; avareza, porque ele não quer gastar pagando salários, a riqueza que acumulou com o suor gratuito do outro; e preguiça, porque o ser humano não é chegado ao trabalho. Tanto é assim, que a palavra trabalho deriva do termo latim tripalium, um instrumento romano de tortura.
É ideia corrente, que somente os ricos possuíam escravos e que a Lei Áurea teria trazido prejuízos somente a esses. Entretanto, essa teoria não é muito verdadeira. De acordo com o historiador José Murilo de Carvalho, além dos barões do açúcar e do café, também tinham escravos, pequenos fazendeiros de Minas Gerais, pequenos comerciantes, os burocratas das cidades, os padres e as ordens religiosas – que caras de pau!
E tem mais, também escravizava os negros, ex-escravos, que estavam libertos ou alforriados. Negros e mulatos que escapavam da escravidão, a primeira coisa que faziam era comprar o seu próprio escravo. Ainda segundo o historiador, o escravismo ia mais longe. A história registra casos de escravos que estavam escravizados, sujeitos aos seus senhores, mas tinham escravos dentro das senzalas. É brincadeira?
Depois que eu descobri essa parte da história – ninguém colocou isso nos meus livros de infância –, principalmente esta de que o primeiro ato de um escravo alforriado era comprar um escravo para lhe servir, como diz a gíria popular, “eu parei!”.
E, quer saber de uma coisa? Querendo você ou não, existe pouca coisa no mundo que é pior que o gênero humano! Você discorda?
sábado, 22 de maio de 2010
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Gostaria de saber a referência bibliográfica desta imagem.
ResponderExcluirNiedja, essa imagem foi tirada de algum lugar na Internet!
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