Choveu, o solo encharcou e a terra deslizou. Para quem não sabe, esse fenômeno natural acontece desde o dilúvio, quando, segundo a Bíblia, foi inventada a chuva. Do dilúvio até o século XVIII, a humanidade, que sempre foi predadora, poluidora e inconsciente, conseguiu manter uma relação tranquila com a natureza e o seu mal humor. Porém, quando o homem criou o comércio, que originou o mercado, isso mudou.
Aliado a elementos essencialmente humanos como mesquinhez, ganância, arrogância e egoísmo, o mercado criou a modernidade, o desejo pelo consumo e fez as pessoas acreditarem que o ter é mais importante que o ser. É triste quando vemos Deus ser culpado pelos trágicos acontecimentos do morro do Bumba, em Niterói, por exemplo. Quem nunca ouviu essa frase? “Deus quis assim”. Já passou da hora de percebermos, que o homem é culpado por quase todo mal que lhe aflige!
As imagens de destruição, no morro do Bumba; no bairro das Olarias, em Rio Bonito, ou no Jardim Pantanal, em São Paulo, retratam com fidelidade as administrações políticas dos municípios, do estado e do país nos últimos 50 anos. Estamos falando de governos desastrados, catastróficos, incompetentes e com raríssimas exceções... Corruptos. Nas três esferas de poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), os nossos gestores, se é que podem ser chamados assim, visam apenas dinheiro e benesses!
Aliás, enquanto enriquecem as nossas custas e ampliam os seus bens, a necessidade de moradia obriga o cidadão a construir a sua casa no lixão. Será que na cidade de Niterói – onde dizem que a qualidade de vida é uma das melhores do estado e até do país –, ninguém percebeu isso? Quem aprovou essas construções? Quem fingiu que não viu? Quem asfaltou aquelas ruas? Quem construiu por lá uma creche? As autoridades não sabiam do lixão? Quem será penalizado pela perda de tantas vidas inocentes?
Penso que a imagem de bombeiros chafurdando a lama e carregando corpos sem vida, ilustra com propriedade a condição dos cariocas e fluminenses. A LAMA representa a podridão dos bastidores políticos e institucionais. Já os BOMBEIROS representam o estado, que apesar de conhecer todas as técnicas de salvamento e resgate, está impotente frente ao volume de LAMA.
Os MORTOS representam o povo, porque assim como a maior parte das vítimas de deslizamentos de terra morrem pela falta de ar, a esperança de nossa gente em dias melhores está morrendo asfixiada pela desfaçatez, pela falta de vergonha e escrúpulos, pelo cinismo e pelo descaramento daqueles que foram eleitos para nos representar. Quem será culpado pela perda de tantas vidas inocentes?
Nesse momento é comum vermos alguém perguntar: “por que as pessoas constroem as suas moradias em localidades como essa?”. A resposta é simples: porque são pobres e moradia é um artigo de primeira necessidade. Porque as autoridades brasileiras nunca se preocuparam com uma política de HABITAÇÃO. Pelo contrário, acham mais prudente fazer vista grossa quando alguém está construindo em área de risco, sob o pretexto de não perder o voto do pobre infeliz. O pior é que, às vezes, pela falta de instrução, a pessoa acredita que está sendo ajudado.
As favelas, os cortiços e os conglomerados habitacionais são resultados de um Brasil desigual, onde poucos têm muito, e muitos têm nada. Essas comunidades nascem, porque um irresponsável sem escrúpulo fingiu que não viu nascer. Crescem, porque um indecente deve ter sido pago para não ver crescer, e desaparecem, porque as pessoas são irresponsáveis.
A verdade é que as chuvas, os deslizamentos, as mortes e a corrupção, apenas contribuem para expor o quanto o homem é ganancioso. Os problemas sociais que enfrentamos estão diretamente ligados a relação promiscua entre dois atores sociais: o político, que compra o voto, e o povo, que vende o voto. O cidadão argumenta: “o eleitor vende, porque o político compra”. Mas o político se justifica: “o político compra porque alguém vende”. Enquanto ambos se justificam, eu prefiro dizer que eles são iguais, e que todos os problemas sociais que enfrentamos acontecem por culpa desses dois personagens.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
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