segunda-feira, 3 de maio de 2010

Inda é longe Canaã?


Em fevereiro de 2009, escrevi este artigo para o jornal Folha da Terra. Na verdade, as ideias que defendo a seguir, surgiram enquanto eu refletia sobre o sesquicentenário (150 anos) do poeta riobonitense B. Lopes, que aconteceu no dia 19 de janeiro de 2009. Para quem não se lembra, no programa “O Tempo em Rio Bonito”, da rádio Sambê FM (98,7), nós homenageamos o poeta por dois domingos seguidos.

Na ocasião, nós entrevistamos dois ícones da cultura riobonitense: Leir Moraes e Maurício Badr. Eles discorreram para os ouvintes, a importância de B. Lopes para a memória de Rio Bonito. No programa, nós também recebemos o advogado Leonardo José Moura do Amaral, um descendente do poeta e da sua primeira musa inspiradora, Xandoca.

O advogado levou aos estúdios da rádio Sambê, vários jornais antigos, de Rio Bonito, Niterói e até de Minas Gerais, todos falando do talento de B. Lopes. Contudo, o jornal “O ESTADO”, da cidade de Niterói, publicado no dia sete de maio de 1946, foi o veículo que chamou a minha atenção. Ele trazia uma longa reportagem sobre o centenário de Rio Bonito. Além de uma fotografia do prefeito da época, Eugênio Cordeiro, a matéria tinha um Box, homenageando B. Lopes e criticando o fato do poeta ter sido esquecido pela sociedade riobonitense.

Entretanto, a matéria sobre o centenário de Rio Bonito recebeu uma manchete que eu achei fascinante: “Centenário de Rio Bonito, a Canaã Fluminense”. Segundo o jornal, o crescimento econômico que já era perceptível, alcançaria a cidade em pouco tempo. Porém, 64 anos depois, ao olharmos a nossa volta, nós concluímos que esta matéria foi um grande balão (notícia com cara de verdade, que na verdade é mentira), porque o se crescimento chegou, o desenvolvimento com certeza ficou para trás. Na verdade, no dia 7 de maio de 2010, eu gostaria de saber das nossas autoridades, cadê essa Canaã?

Bem, a Bíblia, no livro de Êxodo, conta a traumática saída dos Hebreus, das terras do Egito. Eles saíram rumo a Canaã, uma terra tão fértil, que a Bíblia diz que ela manava leite e mel. Como os hebreus duvidaram de Deus, o percurso que seria concluído em algumas semanas acabou levando 40 anos para terminar. Sendo assim, se Rio Bonito é a “Canaã Fluminense”, creio que ainda estamos no deserto. Aliás, nunca é demais lembrar, que os riobonitenses estão caminhando 24 anos mais que os hebreus.

Uma conhecida música sacra tem a seguinte letra: “o caminho é longo e mau e nossos pés feridos ‘stão, inda é longe Canaã? No deserto anelamos mais e mais Sua proteção. Estará inda longe Canaã? Nós seguimos por desertos, o caminho do cristão. Inda é longe Canaã? Quantas vezes têm faltado nosso leito, nosso pão. Estará inda longe Canaã?”. Aliás, nós riobonitenses, nos encaixamos no refrão desta melodia! É assim: “stamos fracos, tão cansados! Já viajamos por valados, por deserto abrasador! Stamos fracos, tão cansados! Estará inda longe Canaã?”.

Segundo a Bíblia, antes de entrar em Canaã, os hebreus atravessaram o mar Vermelho e o rio Jordão. Os pregadores utilizam esses dois obstáculos para ilustrar as dificuldades enfrentadas por alguém que queira mudar de vida. Eu, porém, quero aproveitar a ocasião para lembrar que para alcançarmos a Canaã riobonitense, os grupos políticos, a sociedade civil organizada e, sobretudo, a população, devem dar as mãos, e, primeiro, atravessar o mar Vermelho e o rio Jordão.

Superar esses obstáculos significa empenho na busca por um Rio Bonito melhor, onde a prioridade é o bem coletivo e não o individual. Eu não tenho dúvida, que quando esses obstáculos forem superados, nós estaremos dentro de Canaã, uma terra que tem emprego, saúde, segurança, educação, lazer e respeito ao semelhante. Como perguntar não ofende: “Inda é longe Canaã?”.

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