
O meu amigo, Nadelson Jr; fez uma provocação social apontando que 30% do eleitorado riobonitense enxerga a política e a vida pelo espectro político de esquerda. Segundo ele esse quantitativo, cerca de 13,5 mil pessoas, se unidas poderiam mudar os rumos do município e interferir de maneira importante no debate e cenário político local. Ele escreve em sua rede social que há algum tempo dialoga a respeito disso com o ex-prefeito de Silva Jardim e nosso amigo, Marcelo Zelão.
Engraçado que eu também já dialoguei com Zelão a esse respeito. À época concluímos que a esquerda de Rio Bonito não é raiz, logo, não consegue se consolidar como “esquerda”. No passado a esquerda era representada em Rio Bonito por figuras da linha raíz, tipo, Alcides Manhães, o saudoso Badu. Esse era esquerda de verdade. E referência. Meu xará Flávio Carteiro, talvez, seja um dos últimos da linha Badu.
Os novos quadros da esquerda receberam um banho de loja midiático e a linha Badu, a verdadeira, se perdeu. Hoje, com raríssimas exceções eu só enxergo esquerda da linha ‘caviar/Paris’. O conforto é que essa não é uma particularidade de Rio Bonito. Esse cenário se repete em todo território Fluminense.
E concordo que o surgimento de uma liderança que consiga representar a linha raiz e caviar – o que acho difícil – e que conseguisse conquistar esse universo de 30% do eleitorado, olha, poderia sim fazer progressos importantes em Rio Bonito.
É claro que aparecerá alguém que se diz de esquerda (os modinhas) para dizer que eu não sei o que estou dizendo. Então vamos falar sobre isso? Poucas pessoas que se dizem esquerda sabem e propagam o fato de que uma das maiores estrelas da esquerda/socialismo no mundo nasceu em Rio Bonito: Astrogildo Pereira, fundador do Partido Comunista aqui no Brasil.
Astrogildo Pereira, além de morar dois anos na União Soviética, estudou com Leon Trótski, teve amizade com Lenin e voltou ao Brasil cheio de ideias depois desses dois anos. Era intimo de Carlos Pretes e era filho de Rio Bonito. O pai de Astrogildo era o coronel Ramiro Pereira, fazendeiro que em disputa pela presidência da Câmara de Rio Bonito, em 1919, foi responsável pelo tiroteio que vitimou o Vereador Joaquim de Castro, que dá nome a rua que chamamos “Subida do Boqueirão”.
Que esquerda é essa que ignora a existência de Astrogildo Pereira? Que esquerda é essa que não sabe ter Astrogildo regressado da União Soviética direto para Rio Bonito, onde recebeu amplo apoio da juventude local?
Aliás, por conta de Astrogildo, da sua influência e dos muitos jovens que ele conseguiu seduzir com suas ideias, uma volante (patrulha) do Exercito, sob determinação do então presidente Getúlio Vargas, esteve em Rio Bonito, prendeu cerca de 70 riobonitenses sob acusação de serem “comunistas”. Como eram quase todos filhos de famílias abastadas e influentes, o assunto foi remediado junto ao presidente Vargas e jogado para baixo do tapete da história, porque as famílias não queriam que seus rebentos fossem associados a esse fato (isso é muito Rio Bonito).
Desde então Rio Bonito se tornou uma cidade identificada como “Comunista”. Aliás, por conta de Astrogildo Pereira e seus discípulos, quando o interventor do Rio de Janeiro, Amaral Peixoto; passou por aqui de trem, disseram a ele que estava em Rio Bonito e que o povo queria vê-lo. Amaral Peixoto num gesto antipático, mas compreensível por conta da “fama da cidade” (comunista), fechou as janelas do trem dizendo que não queria graça com aquela gente.
Ao longo da segunda metade do século XX esses fatos foram jogados pelas nossas antigas lideranças políticas e famílias tradicionais – aquele povo que dizem terem sido melhor que as pessoas de hoje (será?) – por vergonha, frouxura (uma marca de sempre) e outros fatores.
Concordo que sua provocação é válida, mas nenhum caminho na direção da esquerda de verdade será levado a sério enquanto não assumirmos a nossa identidade histórica, sobretudo, os nossos vultos do passado político. Aliás, seja o sujeito orientado pelo espectro de esquerda ou direita, só será honesto se preservar essas memórias.
OBS: os dados históricos de Rio Bonito que descrevi acima me foram contados mais de uma vez por Leir Moraes. Vamos em frente! #flavioazevedo