Flávio Azevedo
"No nosso país, o preconceito está presente no momento em que saímos de casa", disse Taís Araújo em recente entrevista ao ser perguntada sobre preconceito. |
Quando a jornalista Maria Júlia Coutinho
foi alvo de comentários racistas na grande rede eu preferi não dizer nada. Não demorou
muito e nova vítima: a atriz, Taís Araújo, vítima de igual discriminação. Mas por
que isso acontece em nosso país? Estamos falando do território do planeta onde mais
houve mistura étnica, um país apontado pela antropologia (Roberto Damatta) como
“colcha de retalhos”, exatamente por conta da miscigenação de povos... E ainda
vemos esse tipo de coisa acontecendo, por quê?
Nesse momento eu creio que é salutar observar
os Estados Unidos da América (EUA), hoje, comandado por um negro, porém, um dos
territórios onde mais existe preconceito, sobretudo em relação a essa questão
de cor da pele. Nos EUA existem escolas para negros, escolas para brancos. Não
é segredo a existência dos bairros para negros, por exemplo, o Harlen. Por lá
também tem o bairro chinês (Chinatown); o italiano, Little Italy; o Koreatown,
destinado aos coreanos; e até o Little Brazil, destinado aos brasileiros.
Nos EUA, o preconceito contra os
negros é percebido até nos heróis dos quadrinhos. A discriminação nos EUA e no
Brasil é igual, com uma única e grande diferença: o estadunidense assume e
reconhece que é preconceituoso. Já no território tupiniquim, as pessoas são
levadas a apresentar uma tolerância cínica que no fundo não existe. O resultado
são essas manifestações discriminatórias e sem rosto contra personalidades de
cor negra. A mídia parece esquecer que os negros constantemente são
discriminados em todos os cantos do Brasil, mas a ação só gera manchete quando
os famosos são alvo dessa intolerância.
A jornalista Maria Júlia Coutinho é a garota do tempo do Jornal Nacional. |
No Tio Sam, a discriminação é condenada,
mas existe o reconhecimento de que isso é cultural do estadunidense. Aqui,
porém, o que existe é um cinismo que camufla o fato de que somos discriminadores
e preconceituosos. Caso as manifestações sejam no campo do mercado (beleza e
estética) aí mesmo que todos ficam quietinhos. A verdade é que precisamos evoluir
e promover um debate despido de vaidades e sem compromissos com setores do
mercado. Quando isso acontecer o cinismo acaba e a conscientização começa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário