Flávio Azevedo
As tragédias de
Mariana-MG e da França nos deixaram estupefatos, pasmos, boquiabertos com a
capacidade que o ser humano tem destruir, inclusive, o semelhante. A tragédia
brasileira se sustenta no tripé, corrupção, irresponsabilidade e interesses
econômicos dos envolvidos, inclusive, as vítimas. Já a tragédia francesa, o
tripé repete corrupção e irresponsabilidade, mas substitui interesses
econômicos por fanatismo. Mundo a fora as explicações são muitas, mas nenhuma
delas dá alento.
O volume de gente
recomendando que nós estejamos rezando e orando é grande, o que me obriga a ser
polêmico novamente em relação a religião. Eu analisei os muitos pedidos de
oração e descobri que as pessoas não sabem o que é religião. As igrejas e a fé se
tornaram uma muleta, sobretudo para o frouxo que não deseja se posicionar,
opinar e, sobretudo, trabalhar. O sujeito diz “vamos orar” simplesmente para jogar
sobre Deus a responsabilidade de consertar erros que são nossos. E detalhe: se os
problemas persistem é porque “Deus quis assim”, mas “se Deus quiser” vai
melhorar. Penso que nós estamos nos esquecendo do adagio popular “Deus ajuda
quem trabalha”.
É atribuída a Karl
Marx, a afirmação de que “a religião é o ópio do povo”. E eu sou obrigado a concordar,
porque estamos esperando Deus resolver os nossos problemas. E não é assim que a
banda toca! Deus deseja ajudar, mas Ele quer ver o interesse e a participação
das pessoas. Todavia, nós somos preguiçosos, coisa que não agrada a Deus.
Para comprovar o que
digo, eu gostaria de dissecar a palavra “ORAÇÃO”, que pode ser dividida em
“ORA” e “AÇÃO”. A verdade é que o sujeito pode ORAR o quanto quiser, mas sem AÇÃO
nada muda. O próprio Jesus aconselhou: “VIGIAI E ORAI”! Eu tenho visto muita
gente “ORANDO” e pouca gente “AGINDO”. Precisamos “AGIR” e uma das formas de
fazer isso é nos organizando em partidos, conselhos, associações, sindicatos,
fóruns, organizações, grêmios e até em igrejas, mas sem essa de transferir as
nossas responsabilidades para Deus.
A principal estratégia
de uma organização é o envolvimento. Uma organização precisa dar foco, traçar objetivos,
sobretudo em relação aos jovens, que estão sem rumo e sem norte. As pessoas
querem experimentar o PERTENCIMENTO. Entretanto, somente o crime organizado e
os terroristas têm essa estratégia. E quando transferimos para Deus a
responsabilidade que é nossa, a sensação de pertencimento desaparece e a pessoa
fica sem objetivos e isso leva ao desânimo.
ORAR com AÇÃO faz a
pessoa manter a fé sem se anular. A lógica é fazer o que diz a letra daquela
conhecida canção: “segura na mão de Deus e vai”. O religioso não tem que ser um
parasita, um menino mimado. A verdadeira religião precisa permitir o envolvimento,
o engajamento, a participação, porque isso gera a sensação de pertencimento.
Na França, os
excluídos que vivem na periferia de Paris buscam um sentido para as suas vidas. Eles se encantaram quando alguém disse que eles foram
escolhidos por Alah. O islã permite que o seu seguidor participe, porque ele
sabe que todos querem pertencer. Concluo destacando que as organizações de paz
e do bem, entre elas as igrejas, precisam praticar essa receita, porque até aqui
a regra está baseada no “se Deus quiser”, ou no tradicional “Deus quis assim”,
pensamentos que são frontalmente contrários ao bíblico “Deus ajuda quem
trabalha”.
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