Dono do
semanário Panorama Regional, Pedro Miguel Palma, de 47 anos, chega em casa na
noite do último dia 13, em Miguel Pereira, no Sul Fluminense. Na porta da
residência, na Rua Dona Carola, distrito de Governador Portela, dois homens
numa moto, ambos de capacete, se aproximam. O carona saca uma pistola e o
executa com três disparos — dois na cabeça e um no peito. Palma foi o quarto
jornalista assassinado a tiros em menos de quatro anos, entre o Sul e o
Centro-Sul do estado.
O que
assusta a categoria e revolta parentes e amigos das vítimas é a impunidade que
impera sobre os casos. Até hoje, nenhum suspeito foi punido pelos crimes e
apenas dois homens chegaram a ser presos, mas acabaram soltos posteriormente.
Segundo investigações e testemunhas, os assassinatos teriam motivações
políticas. Todos denunciavam, através dos seus veículos de comunicação, supostas
irregularidades em prefeituras das duas regiões.
Com medo de
represálias e ainda abalados, familiares evitam comentários sobre o assunto,
mas, no dia do enterro do jornalista, a mulher dele, Patrícia Palma, confirmou,
em entrevista na televisão, que o marido vinha sofrendo seguidas ameaças de
morte. O delegado da 96ª DP (Miguel Pereira), Murilo Silva Montanha, afirmou
que ainda não tem uma linha definida de investigação, mas não descarta
motivação política. “O que jornalistas escrevem sempre agrada uns e desagrada
outros”, comentou o delegado, garantindo que a hipótese de tentativa de assalto
é a única que não é levada em consideração pela polícia.
Outras
vítimas
José Rubens
Pontes
Dono do
Entre-Rios Jornal, Rubinho, como era conhecido, foi assassinado na madrugada do
dia 30 de outubro de 2010. Ele estava num bar no Centro de Paraíba do Sul,
quando foi morto com um tiro na nuca. O ex-PM Renato Demétrio, 49, acusado de
ser o autor do crime, e outro homem, chegaram a ser presos, mas soltos
posteriormente. Na época, a polícia investigava a disputa de territórios pela
contravenção como possível causa da morte.
Mário
Randolfo Lopes
O
jornalista e sua companheira, Maria Aparecida Guimarães, foram executados na
madrugada do dia 9 de fevereiro de 2012. O casal foi rendido em casa e levado
para a Estrada das Rosas, em Barra do Piraí, onde foi executado com tiros na
cabeça. O possível envolvimento de um PM foi investigado, mas até hoje ninguém
foi preso. Randolfo tinha vários desafetos na cidade e na vizinha Vassouras.
Polêmico, ele comprou brigas até com PMs e juízes.
Valério
Nascimento
No dia 3 de
maio de 2011, Valério Nascimento, 49, dono do jornal Panorama Geral, de Angra
dos Reis, foi encontrado morto em casa no distrito de Lídice, em Rio Claro, com
tiros de espingarda nas costas e cabeça. Ele participava ativamente de
movimentos populares e fazia denúncias contra supostas irregularidades
envolvendo políticos de Bananal/SP, na divisa com Rio Claro. Ninguém foi preso.
José
Roberto Ornelas
Na noite de 11 de junho de 2013, José
Roberto Ornelas de Lemos, de 45 anos, diretor do jornal "Hora H", que
circula na Baixada Fluminense, foi assassinado numa padaria na cidade de Nova
Iguaçu. A vítima foi atingida por 44 tiros. Três pessoas que estavam na padaria
contaram à polícia que Lemos estava no balcão, de costas para a rua, quando um
Gol prata, com quatro homens encapuzados, estacionou em frente ao
estabelecimento. De dentro do veículo, os criminosos abriram fogo e fugiram
logo em seguida. À época, a polícia divulgou que a principal linha de
investigação era a de o que crime tenha sido motivado pela linha editorial da
publicação.
Em nota, a
Associação Nacional de Jornais, reafirmou que “a violência contra jornalistas é
um retrocesso no processo democrático e grave ameaça à liberdade de expressão”.
A Polícia Civil não deu detalhes sobre as investigações, limitando-se a
informar, por nota, que os inquéritos, com exceção ao da morte de Pedro Palma,
já foram encaminhados ao Ministério Público.
Crimes
comuns, prisões raras
Crimes de
pistolagem, como os casos apresentados, são comuns em todo Brasil. Famílias
abastadas e violentas, maus policiais, políticos corruptos e contraventores,
que disputam pontos de jogo do bicho e máquinas caça-níqueis, sempre aparecem
como mandantes desses tipos de crimes. Porém, raramente, alguém é preso.
Em
Vassouras, denúncias apontaram, supostamente, a participação de integrante da
família Avelino (suspeita de envolvimento em cerca de 50 assassinatos na região
desde a década de 60), na morte do jornalista Mario Randolfo. “Não se chegou a
nenhuma confirmação sobre essa acusação. Randolfo era polêmico, a ponto de ter
arranjado desafetos até com PMs e juízes”, lembra o delegado José Omena, que
conduziu o início das investigações.
Antes de se
mudar para Barra do Piraí, Randolfo tinha sobrevivido a cinco tiros em
Vassouras. O jornalista também questionava desvios de verbas públicas em
prefeituras. As mortes engrossam a macabra estatística que coloca o Brasil em
primeiro lugar em número de jornalistas assassinados nas Américas,
ultrapassando o México, uma das nações mais hostis para o exercício da
profissão.
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