Nos
últimos seis anos, três casos de violência contra profissionais de imprensa
foram registrados por mês, em média, no Brasil. De 2008 até hoje, 244
trabalhadores (jornalistas, radialistas, fotógrafos e cinegrafistas) foram
vítimas de crimes como homicídio, tentativa de homicídio, ameaça de morte,
agressão física ou prisão arbitrária. A constatação é de um relatório inédito
da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) que será
apresentado nos próximos dias ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana.
O
documento, obtido com exclusividade pelo jornal O Globo, mostra que o cenário
de violência contra jornalistas decorrente do exercício da profissão é mais
grave do que vinha sendo divulgado por entidades internacionais. O relatório do
governo vai mostrar que foram 11 os assassinatos de 2013 para cá – e não 8,
como se tinha notícia. No período investigado para a elaboração do relatório
(de março de 2008 a fevereiro de 2014) foram 34 homicídios em todo o país. A
MAIORIA DELES SEGUE SEM ESCLARECIMENTO OU PUNIÇÃO.
O
levantamento levou um ano para ser concluído por um grupo de trabalho do qual
participaram integrantes do governo e de entidades da imprensa. Além do retrato
sobre as violações de direitos, o levantamento traz recomendações sobre como
governo, entidades e a polícia devem agir para frear o crescimento da violência
contra profissionais de comunicação.
O
Brasil tem assistido a uma piora da sua situação em relação aos demais países
nos últimos anos. Segundo levantamento do Committee to Protect Journalists
(Comitê de Proteção aos Jornalistas), o país ficou, em 2013, na 10ª posição no
ranking de países mais perigosos para o trabalho de jornalistas. Em 2012, ele
era o 11º. Na América, só estamos atrás do México e da Colômbia.
De
longe, 2013 foi o ano em que mais profissionais da imprensa foram assassinados
no país desde que o Centro de Informações das Nações Unidas (UNIC) começou a
monitorar os números. Somente este ano já foram registrados dois assassinatos,
ambos no estado do Rio de Janeiro. O primeiro foi o do cinegrafista da TV
Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, morto após ser atingido por um rojão na
cabeça durante manifestação na capital. No município de Miguel Pereira, o dono
do jornal Panorama Regional, Pedro Palma, foi assassinado a tiros na rua em
decorrência de denúncias publicadas contra prefeituras.
Observatório
para monitorar investigações está em análise
A
criação de um observatório nacional para monitorar crimes contra jornalistas é
a principal recomendação do relatório da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República. O órgão ficaria sob responsabilidade da pasta e teria
como função acompanhar as investigações envolvendo violação de direitos de
profissionais de comunicação em todo o país. O objetivo é impedir que os crimes
fiquem impunes.
– Nesse
um ano de diagnóstico confirmamos que a maioria dos casos de violência acontece
em pequenas localidades, onde, em geral, os mandantes exercem forte influência
sobre a Justiça e a polícia. Isso quando não tem gente da própria polícia
envolvida. Esse quadro leva muitas vezes à impunidade – disse o coordenador do
grupo de trabalho, Tarcísio Dal Maso.
Outro
objetivo do observatório é elaborar pela primeira vez estatísticas oficiais. Os
dados das entidades internacionais variam muito pela falta de padronização de
metodologia. A ONU, por exemplo, contabiliza seis mortes de jornalistas em
2013.
Diretor
do Centro de Informações da ONU, Giancarlo Summa, diz que o principal valor
desse relatório é o reconhecimento do problema pelo governo brasileiro. “Esse
documento tem dupla importância. Primeiro, será uma afirmação oficial do
governo de que a questão é grave. Segundo, é a primeira vez que um documento
desse tipo é produzido por todos os atores de peso”.
O
relatório também toca num tema em discussão pelo Ministério da Justiça: a
federalização dos crimes contra jornalistas. “A ideia é que o observatório, ao
constatar que alguma investigação está sendo dificultada, acione o Ministério
da Justiça para a Polícia Federal intervir”, explicou Dal Maso.
O
presidente da Federação de Jornalistas da América Latina e Caribe, Celso
Schroder, analisa: “O relatório é bem-vindo, mas ele apenas faz sugestões. Precisamos
que o governo disponibilize recursos para as ações saírem do papel”, afirma.
Fonte: O Globo
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