Acompanhamos com revolta, náuseas e estarrecimento, a reportagem exibida pelo Fantástico, programa dominical da TV Globo, que mostra vereadores farreando com o dinheiro público. À custa do contribuinte, eles viajam para fazer supostos cursos de qualificação, que na prática, são apenas oportunidades para se divertir, passear e fazer compras.
E, detalhe... Às vezes, tudo isso acontece na companhia de esposa, filhos, apadrinhados e até da sogra. Os cursos, que teriam a função de capacitar os vereadores – função geralmente ocupada por indivíduos ignorantes quando o assunto é o funcionamento do parlamento e da administração municipal – também são utilizados como ferramenta para apropriação do dinheiro público.
Os passeios que o Fantástico mostrou são bons roteiros de férias, mas, infelizmente, eles estão distantes da realidade de 80% dos brasileiros, que para melhorar o minguado salário, geralmente vendem as suas férias ao patrão. Perguntado se teria ido a um curso ou a um passeio, pelo repórter Giovani Grizotti, o presidente da Câmara de Triunfo (RS) saiu correndo como um louco pelas ruas da cidade que visitava a passeio.
O legal desta reportagem do Fantástico é que ela não esculachou apenas os vereadores – sempre merecedores –, mas ela também mostrou que esses cursos picaretas são ferramentas eficientes na mágica de fazer o dinheiro público desaparecer. O problema é que em todo o Brasil existem empresas especializadas em cursos de qualificação para funcionários de prefeituras e câmaras municipais. Por ano, são pelo menos 150 seminários que recebem também secretários municipais, funcionários públicos e prefeitos.
Em alguns municípios, o vereador aumenta o magro salário, através destas 'cansativas' viagens. “A maioria das câmaras mandam dois ou três representantes em cada curso. Aí sobra um bom valor para o vereador”, explicou um assessor. A Câmara paga tudo! Se for de avião, até a passagem ela dá. O bom é que sobra um dinheirinho!”, diz a assessora paramentar Inajara Costa, que trabalha na equipe do presidente da Câmara Municipal de Estância Velha, também no Rio Grande do Sul.
Outro escândalo que mostra que esses cursos são pura armação é que apesar dos alunos irem embora antes do término do curso, ou nem aparecerem em sala de aula, todos recebem os certificados de conclusão. Aliás, a lista de presença, que serviria para controlar a frequência, é preenchida de uma só vez, ou, às vezes, antes do curso começar. Com o registro antecipado das presenças, os participantes mergulham nos passeios. Foi o que fez o bobalhão do vereador Geraldo Pereira (PMDB), do município de Tubarão (SC), que parecia estar de férias numa das praias do Recife. Detalhe, sem saber que estava sendo filmado, ele assumiu a bandalheira. “Eu não vou vir de tão longe pra fazer um curso de vereador. Eu vim passear! Vou cair fora!”.
Enquanto as aulas aconteciam no hotel, o vereador embarcou com a mulher, a filha e a assessora – que também deveria estar no curso – rumo a um dos destinos turísticos mais procurados do país: Porto de Galinhas. Aproveitou o dia para comer e beber. Penso que o termo “bandido” para classificar esse vereador é pouco, porque o patife teve a cara de pau de negar qualquer irregularidade. “O curso começa às 8h e vai até as 12h, à tarde. Você está vago durante o dia. Não dá para ficar parado no hotel”, justificou. O problema é que às 9h55min, o malandro estava chegando a Porto de Galinhas!
A reportagem mostrou também, que as viagens podem servir para manter viva a profissão mais antiga do mundo, a prostituição. Também é comum os episódios de superfaturamento. A coisa é tão escandalosa, que um vereador, falecido em 1995, foi diplomado, e esteve presente em todas as aulas. Também recebeu o diploma, o jogador de futebol paraguaio Roque Santa Cruz, artilheiro da seleção paraguaia e jogador do Manchester City, da Inglaterra. Além de ser um craque de fama internacional, o jogador é, agora, aluno do curso de elaboração e gestão de projetos, da empresa Sibram. O diploma foi comprado por R$ 300. O dono da empresa, Ivo Rêrs, participou pessoalmente da negociata.
Apesar da indignação do representante do Ministério Público, no fim da reportagem, eu me pergunto: “quem foi ou vai ser preso por conta disso?”. A resposta, amigo, é cínica e um tapa na cara do cidadão brasileiro: “como esses pilantras tem foro privilegiado, eles serão investigados com uma série de privilégios e no fim nada vai acontecer”. Aliás, em 2012, ano de eleições municipais, se você for ao município onde esses "bandidos" atuam como vereadores, nós vamos encontrá-los em campanha, animados, confiantes e ostentando um rótulo que já virou clichê: “FICHA LIMPA”.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
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