Flávio Azevedo
Vamos falar sobre a enfadonha queda de braço entre Prefeitura
de Rio Bonito e Hospital Darcy Vargas. Tem dívida ou não? A Prefeitura em nota
oficial reconhece que existe dívida, mas afirma que ela não é de R$ 4 milhões,
conforme diz o Hospital. Para o município, a dívida é de R$ 1,3 milhão e nada
mais. Todavia, se somarmos a esse valor a outros débitos, nós veremos as cifras
se aproximarem dos R$ 4 milhões. Vou provar:
Repasse federal de março: R$ 1,3 milhão.
PAHI referente há 10 meses: R$ 1 milhão.
Recurso próprio para o custeio do Pronto Socorro, referente
aos meses de fevereiro e março: 800 mil.
Essas três dívidas representam R$ 3,1 milhões. Junte pingadinhos
de serviços prestados na área de Ortopedia, Oncologia, entre outras; e os valores
certamente chegarão aos R$ 4 milhões.
Por outro lado, é claro que o hospital precisa ser descontado
conforme contrato, porque não atinge metas contratadas de determinados
serviços, não consegue manter completa, a escala de médicos na Emergência etc.
Entretanto, o CTI, segundo conversas que acompanhamos nas
reuniões do Conselho Municipal de Saúde, dá prejuízo. E dá prejuízo, por quê? Porque
as internações sempre ultrapassam o teto, que é de 140 por mês. E essa
diferença, cerca de 50 internações a mais, o hospital não recebe... Mas existiu
um paciente e ele consumiu insumos, medicamentos, materiais, exames... E quem paga
essa conta?
Outro gargalo importante é a Unidade Intermediária, que
funciona como um CTI, porque recebe pacientes com a mesma gravidade de um
Centro de Terapia Intensiva. Acontece que esse setor que recebe pacientes de
alta complexidade é faturado como uma enfermaria comum. Ou seja, o gasto com
insumos, exames, medicamentos e materiais é o mesmo do CTI. Segundo a direção
do Hospital, esse prejuízo é da ordem de R$ 70 mil mensais. E quem paga essa
conta?
No setor de Maternidade, por exemplo, acontece algo similar, porque
o número de partos supera o teto previsto para o HRDV. Mas os partos não
faturados existiram e essas mães com os seus recém-natos receberam cuidados,
medicamentos, insumos... Com eles foram gastos materiais, exames... E quem paga
essa conta, que é da ordem de R$ 50 mil por mês?
Não está passando da hora da Prefeitura se organizar politicamente
para que o hospital seja pleno em seu atendimento a população e não fique
perdendo receita? Não seria a hora de telefonar para os parceiros de Rio Bonito
cobrando ações nessa direção, uma vez que essas contratualizações são feitas em
esfera estadual e federal? Temos, porém, um problema: existe interesse? Existe vontade
política?
Mas a direção do HRDV também precisa nos dar explicações. Por
exemplo:
*O arrombamento no setor administrativo, meses atrás, não foi
bem esclarecido e ainda gera desconfiança da população. Afinal, o que
aconteceu?
*A demissão de funcionários que estariam aproveitando de suas
funções de confiança para cometer ilícitos, também não foi devidamente
esclarecida, sobretudo as medidas tomadas para se reaver importâncias
supostamente subtraídas. E aí?
*A postura da direção da unidade no trato com funcionários
que reclamaram os seus direitos (salários atrasados, por exemplo). Muitos
acabaram sendo demitidos sumariamente, numa atitude ainda reclamada por vários
segmentos;
*A sobrecarga do médico plantonista da emergência, que acaba
tendo que atender internos; as ocorrências de pacientes do setor particular; e/ou
cobrir faltas de colegas de plantão; situações que seriam as razões para as muitas
demissões. Vale lembrar que a Prefeitura paga para esse profissional atender a
emergência e não o doente internado. Para o interno, o hospital tem que ter
outra equipe, uma exigência que nunca foi cumprida;
*O caso do médico plantonista que durante o seu expediente deixa
o plantão para realizar cirurgias e os ditos pequenos procedimentos, o que não
é permitido porque ele está de plantão... Mas muitos desses procedimentos
acabam passando batido, porque geralmente são pedidos políticos;
A verdade é que Hospital e Prefeitura têm respostas a dar a população,
mas eles externam apenas os seus desentendimentos, porque determinados pontos
que deveriam ser corrigidos, por ser vantajoso para ambos, acabam sendo
tolerados e permitidos.
Então amigo, diante da clássica pergunta “quem tem razão na
briga entre prefeitura e hospital?”. Eu confesso que vai depender do viés de quem
está perguntando ou respondendo. Vejo culpa e razão em ambas as partes. Penso,
porém, que os reais problemas e desafios da direção do hospital e dos
representantes da Prefeitura não estão sendo discutidos e a sociedade e a mídia
não percebem isso.
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