Flávio Azevedo
Tenho visto muita
gente preocupada com o momento político e social do Brasil. “Estamos numa
profunda crise constitucional”; “tragam de volta a ditadura”; “vamos pedir o
impeachment da presidente”... Essas são algumas das soluções e conclusões que
vemos na mídia e a cada esquina. E não é nada disso! A verdade é que estamos
dentro de um divisor de águas, uma encruzilhada... Ou seguimos o caminho da
civilidade e da responsabilidade social para alcançarmos o patamar de nação
forte e progressista; ou continuamos seguindo os caminhos da corrupção e da impunidade
que nos mantém na escala de país subdesenvolvido.
Poucos percebem que o
sistema corrupto que criticamos se sustenta no tripé da ausência de cidadania,
falta de Educação e despreocupação com os valores. Uma vez baseado nesse tripé,
o sistema é irrigado pela falta de bom senso e pelo egoísmo. Desculpem os
amigos, mas a classe política não está sozinha nesse mar de lama e nos episódios
de corrupção... O pecado dela é o oportunismo, porque a classe política se apropria
da ignorância, da preguiça e da frouxidão do povo para vender facilidade ou trocar
a facilidade pelo voto.
O momento não é de
crise, mas de reflexão, porque a lógica do “eu não tenho nada com isso” não é
mais possível. É preciso participar, se envolver, ingressar na política, porque
o país não aguenta mais. Ao longo dos últimos 50 anos, a mídia tem
criminalizado a política, quando deveria criminalizar criminosos. Mas o medo de
ser processado por chamar um bandido de criminoso afoga a indignação popular e
dá a ideia de que o crime compensa, porque “tudo sempre acaba em pizza”. Tudo
isso acontece porque boa parte da mídia está a serviço de um sistema que
objetiva afastar as pessoas “de bem” da vida pública. A questão é que quando
“os de bem” se omitem, eles se tornam “coniventes” e a “conivência” torna o
inocente culpado.
Não adianta se
indignar com os escândalos, porque os bilhões desviados pela classe política
não vão apenas para a conta deles. Esses recursos pagam o combustível que o
político coloca no nosso carro na época da campanha eleitoral; paga o salário
de quem balança bandeira em comício; paga o espaço alugado naquele muro que
ganhou a pintura com o nome do político; paga matérias jornalísticas e
publicitárias publicadas nos veículos de comunicação; paga a suposta doação de
tijolos, areia, dentaduras, exames, consertos da geladeira, cirurgias
estéticas, festas de formatura, casamentos e aniversários de 15 anos. Paga o
advogado que vai tirar da cadeia, o moleque que foi preso por estar traficando...
Enfim, paga os R$ 50,00 ou R$ 100,00 que recebemos em troca do voto a cada
eleição...
Portanto amigo, o
Brasil vive um divisor de águas, onde o cidadão precisa abrir mão de práticas
erradas que todos nós acariciamos. Nessa encruzilhada, ou seguimos a lógica do
“ordem e progresso” ou continuamos no sistema “farinha pouca meu pirão
primeiro”. Não adianta mudar os nossos representantes políticos, porque eles
nos representam, inclusive, nos atos ilícitos. A mudança tem que vir a partir
de nós. Mudar está em nossas mãos, mas preferimos votar no corrupto, porque ele
não tem puder na hora de oferecer facilidade, fazer promessas mentirosas... E o
voto acaba se tornando um investimento e não uma manifestação de vontade. Aí
está a essência da mudança!
Para pensar e
refletir: será que estamos interessados em abrir mão da nossa zona de conforto,
geralmente baseada nas pequenas ilicitudes, para ingressarmos num sistema
verdadeiramente igualitário e correto? Eu tenho as minhas dúvidas...
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