Flávio Azevedo
Agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte) prenderam nessa quarta-feira (5), através da operação “Os intocáveis”, parte de uma quadrilha especializada em desviar recursos da Prefeitura de Guapimirim, na Região Metropolitana do Rio. O prefeito Renato Costa Mello Júnior, o Júnior do Posto (PMDB), segundo investigações está envolvido no esquema que é chefiado pelo presidente da Câmara, Marcelo Prado Emerick, o Marcelo do Queijo (PPS), que está foragido. O grupo desviava, há cerca de quatro anos, mensalmente, valores superiores a R$ 1 milhão, um total de mais de R$ 48 milhões em quatro anos.
Quatro dos sete mandados de prisão já foram cumpridos. Além do prefeito Júnior do Posto estão a ex-secretária de Governo e candidata a prefeita, Ismeralda Rangel Garcia (ex-PMDB); o atual secretário de Governo, Isaías da Silva Braga, o Zico; e o chefe do Setor de Licitações da Prefeitura, Ramon Pereira da Costa Cardoso. Cerca de R$ 1 milhão em jóias e dinheiro foram apreendidos nas casas do prefeito, na Barra da Tijuca; da subsecretária de Governo e do presidente da Câmara de Vereadores da cidade, Marcelo do Queijo. Também foram expedidos mandados de prisão Ivan Azevedo Valentino, o Ivan do Gazetão; e Ronaldo Coelho Amorim, o Ronaldinho; ambos eram ‘laranjas’ no esquema.
Também seriam membros da quadrilha, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), que dá apoio à ação através do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), outras 16 pessoas. Algumas, porém, não tiveram mandado de prisão expedido, entre eles estão os vereadores Iram Moreno de Oliveira, o Iram da Serrana; Marcel Rangel Garcia (ambos PMDB) e Alexandre Duarte Carvalho (PSC). Eles receberiam cerca de R$ 50 mil para impedir que as contas do município fossem fiscalizadas.
A quadrilha foi descoberta por conta da participação de um dos integrantes da Câmara. Oswaldo Vivas (PTC), que não aceitou participar do esquema e denunciou a quadrilha ao MP, dando início ao monitoramento das ações dos acusados.
Os Intocáveis
A operação é resultado de sete meses de investigações e deve cumprir 45 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Seção Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Outras 11 pessoas foram indiciadas. Os integrantes da quadrilha vão responder por fraude em licitação, corrupção ativa, coação no curso do processo, peculato e formação de quadrilha armada, somando até 24 anos de prisão.
Para tentar escapar de investigações, a quadrilha ofereceu R$ 800 mil para agentes da Draco, que mantiveram a farsa para enquadrar o bando por corrupção passiva. Há cerca de dois meses pagaram R$ 800 mil ao delegado Roberto Leão, que simulou ser corrupto para juntar provas contra o bando. A ação foi filmada e numa escuta telefônica, um dos membros da quadrilha diz que “nenhum policial era incorruptível”.
O grupo também ofereceu “mensalão” de R$ 20 mil a agentes e sugeriu que montassem uma empresa para entrar no esquema. Os R$ 800 mil foram entregues por Marcelo do Queijo que estava acompanhado de Isaías da Silva Braga. Segundo os policiais, as cédulas estavam úmidas e com cheiro de adubo, o que leva a crer que estavam enterradas.
“Tá chegando a hora de morder a gorda”, era como os vereadores se referiam ao mensalão de até R$ 80 mil que recebiam da quadrilha, que também contava com a participação da ex-secretária e candidata a prefeita Ismeralda Rangel Garcia. Entre os desvios de verba pública do bando está a compra de 60 toneladas de carne por mês para a Prefeitura. Com essa quantidade, cada um dos 51.432 moradores da cidade (segundo o IBGE) poderia abastecer a geladeira com mais de um quilo do alimento.
O dinheiro também era desviado em aluguel de carro: a despesa mensal com o aluguel de um Kadett 1993 chegava a R$ 7 mil. Uma padaria fantasma também era utilizada no esquema. Outra fraude encontrada foi no pagamento de 500 mamografias por mês.
Ismeralda expulsa
A prisão da quadrilha mexeu no xadrez eleitoral da cidade. Ismeralda, até então favorita à eleição de prefeita, foi expulsa do PMDB. Sem a legenda, ela não pode se eleger. O partido também destituiu toda sua executiva municipal. Marcel do Açougue, vice na chapa de Ismeralda e também denunciado, era o presidente do diretório peemedebista na cidade. O PMDB informou que não lançará novo candidato.
Ismeralda era a sucessora da “família do Posto”, que manda na cidade há cerca de 10 anos. Júnior do Posto se tornou prefeito após a candidatura à reeleição de seu tio, Nelson do Posto, ser impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O pai de Júnior, Renato do Posto, era político da região e foi assassinado em 2009. A irmã de Júnior, Renata do Posto, foi deputada estadual, mas em 2008 foi cassada por envolvimento em fraude no auxílio-educação.
Entrevista de Oswaldo Vivas em janeiro
No dia 20 de janeiro de 2012, o vereador Oswaldo Vivas (PTC) concedeu entrevista fantástica ao “Teresópolis Jornal”. Na entrevista o vereador aponta fatos e faz relatos sobre situações estarrecedoras que estariam ocorrendo em Guapimirim. Na sequência a entrevista publicada pelo “Teresópolis Jornal”.
Vivendo em seu quarto mandato como vereador do município vizinho de Guapimirim, Oswaldo Vivas tem utilizado redes sociais para denunciar uma série de irregularidades em seu município. Ele aponta superfaturamento nas compras, empresas fantasmas, laranjas. A cidade é dirigida pela família ‘do Posto’, já tendo passado pelo cargo máximo alguns nomes conhecidos dos teresopolitanos. Atualmente, o prefeito é Júnior do Posto. Em suas acusações, Vivas aponta nomes fortes do governo, como a subsecretária Ismeralda Rangel e o presidente da Câmara, Marcelo ‘do Queijo’ como os principais mentores dos esquemas que estariam acontecendo naquela cidade. Todas as denúncias foram feitas no programa ‘Frente a Frente’, da TerêTV Canal 11, apresentado pelo comunicador Sérgio Mauro.
Suas denúncias começaram quando teve em mãos documentos que davam conta da existência de empresas fantasmas e que usaria laranjas para beneficiar pessoas corruptas. Vivas falou também sobre firmas contratadas para fornecer mão de obra e que emitiam notas fiscais de compra de materiais de construção, embora, segundo ele, nunca tenham adquirido ‘sequer um prego’.
– Havia também uma outra empresa, JG Materiais, cujo dono é um laranja. É eletricista da Prefeitura. Os outros rapazes, da empresa de material de construção, levam R$ 2 mil. Fiz uma reunião com eles em minha casa, usando conversas políticas como pretexto, e apresentei os documentos e provas que eu tinha. Eles ficaram assustados e me contaram tudo. Está gravado. Falei que não tinha intenção de denunciar, mas sim, de acertar tudo. Um deles me forneceu o número de um processo que respondiam no Ministério Público. Fui até o MP e falei com o promotor assistente, Átila Pereira de Souza, e denunciei tudo. Apresentei minhas gravações e documentos, comprovando as fraudes arquitetadas pela dona Ismeralda – aponta Oswaldo Vivas.
Antes aliado, Oswaldo disse que não ficava em paz com sua consciência quando via as irregularidades cometidas. Segundo ele, todo vereador faz ‘acertos’ com o governo, empregando aliados, conquistando assessorias importantes. “Eu aceitava isso, mas quebrava o pau nos bastidores”, confessa o vereador. Segundo ele, não confiava nem na polícia e nem no Judiciário para contar o que sabia. “A própria Ministra do CNJ, Eliana Calmon, disse que existem bandidos atrás das togas”, recorda. “Chegou uma hora que não aguentei. Pedi gente competente para os hospitais. Cada notícia de gente morrendo me fazia sentir-se responsável. Pessoas eram tratadas como cachorros. Percebi que minha atitude estava errada. Hoje sou livre, percebo que existem policiais honestos e muita gente no Judiciário também”, completa.
Em outra denúncia, Oswaldo Conta que mostrou a casa de uma família, onde deveria funcionar uma das empresas que fornece para a Prefeitura de Guapi. “O rapaz falou comigo pelo meu Facebook e reclamou de ter mostrado a casa dele. Falei que era o endereço que constava no contrato. Marcamos para conversar. Ele foi com a mãe e outros familiares. Eles contaram que o funcionário da prefeitura responsável pelas compras, chamado Ramon, teria pedido para abrir uma firma no nome dela, para poder fornecer para o Governo. Ela assinou até procuração. Depois retirou o nome da empresa”, explica o vereador. Segundo ele, o rapaz já foi ouvido pela polícia e confirmou as denúncias.
Sobre o funcionário Ramon, Vivas faz outras denúncias. “Existe uma empresa chamada Klauan. Esse é o nome do filho do Ramon. Ele é o braço direito da Ismeralda, é que leva os bilhetes para dobrar notas, estipular valores, tudo a mando dela. Tenho isso explicado no vídeo que gravei e levei para o MP. A Klauan vendeu 325 aparelhos de ar condicionado para a Prefeitura pelo valor de R$ 1.125 reais. No mercado, o preço era de R$ 920”, aponta.
O vereador denuncia também a compra de 10 toneladas de alho para o consumo de um mês. Também teriam sido adquiridas duas toneladas de agrião, duas de alface, oito de batata doce. “O alho foi comprado por R$ 9,59 o quilo. Na mesma empresa, no varejo, paguei R$ 4,55. Denunciei no You Tube e eles cancelaram o pregão. Refizeram e compraram no preço correto. Mas os absurdos continuaram. Eles compraram 5 toneladas de aipim, outras cinco de abobrinha, dez de abóbora. Uma amiga nutricionista me disse que essa nem toda a população de Guapimirim conseguiria consumir tudo isso neste espaço de tempo”, aponta. Vivas completa, mostrando que foram compradas 64 toneladas de carne para um mês de consumo. “Se juntássemos todos os funcionários públicos da cidade e mais as crianças das escolas, cada um consumiria 320 gramas de carne por dia”, calcula.
A Câmara de Guapimirim não ficou de fora das denúncias do vereador. Segundo ele, haveria um esquema para aluguel de carros. “A firma, Unidos de Guapimirim, não tem carros. Ela aluga de terceiros e fornece para a Câmara. O presidente Marcelo do Queijo me chamou e ofereceu para alugar o meu carro e me explicou como funciona. Descobri tudo e também denunciei”, explica. O vereador entrou também com um pedido de CPI contra a mesa diretora da casa, que deverá ser avaliado na volta do recesso parlamentar.
Oswaldo denuncia desvio de recursos públicos na Câmara Municipal contra o próprio presidente da casa. “Em vez de acatar meu pedido, prometeram criar uma CPI para me cassar. Só que eles não têm competência para isso”, desafia. A excesso de funcionários que trabalham no Legislativo daquela cidade também foi questionado por Vivas. “A Lei Orgânica e o Regimento Interno dizem que só podem haver três vezes mais funcionários do que o número de vereadores, ou seja, 27 cargos. Hoje são 96. Destes, só uns dez trabalham. Os outros são usados em interesses eleitorais”, garante.
Finalizando, Vivas chama as pessoas à responsabilidade. “Existe o caminho da honestidade e as pessoas que votam devem seguir. Hoje, a maioria das pessoas eleitas neste país não tem condições de estar lá. Só pensam nelas e compram os eleitores. O único medo que eu tenho é de ter medo. Conheço as pessoas e sei que corro risco de vida. Minha família hoje mora fora, longe de Guapimirim. Pedi proteção policial. Pior do que morrer com um tiro de um covarde pelas costas é morrer vivendo. Se não me matarem, quero ser um bom exemplo para Guapimirim e para a política nacional”, conclui.
“Se não me matarem, quero ser um bom exemplo para Guapimirim e para a política nacional”.
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