Por Flávio Azevedo - Reflexões
No Brasil, o futebol é uma grande paixão. Algumas correntes apontam esse desporto, amado por pessoas de toda e qualquer classe social, como um grande aglutinador de massas. Além do amor que o torcedor tem pelo clube, nós também podemos apontar a dedicação dos dirigentes de futebol amador, que geralmente dedicam os seus fins de semana organizando os seus clubes, onde atuam como presidente, roupeiro, massagista, tesoureiro, segurança, pai, conselheiro, técnico, e, às vezes, jogador.
Esse retrato é encontrado com maior frequência nos bairros mais humildes, onde, quase sempre, o campinho da localidade é a única opção de lazer. Além dos times de várzea, também temos os clubes tradicionais, onde, geralmente, a política interna é tão acirrada quanto a política partidária dos municípios. Eu tenho grande admiração por alguns desse meio, porque a falta de apoio, a ausência de recursos, de formação acadêmica etc., não os atrapalha. É comum, inclusive, que a família, o trabalho e outros afazeres sejam sacrificados em nome desta paixão.
Contudo, já há algum tempo, a violência vem incomodando a expansão do esporte e a adesão de novos torcedores. Vale ressaltar ainda, que esta situação não é privilégio apenas do desporto amador. Também não é particularidade do futebol. Por exemplo, no último mês de agosto, uma partida de basquete, entre Grécia e Sérvia (foto), terminou em socos, pontapés, cadeiradas e um jogador ferido. Detalhe: era um “AMISTOSO” (já pensou se fosse valendo?). É lógico que isso inibe e afasta o público, que opta por assistir os jogos em casa, onde terá mais conforto e distância da violência.
O futebol, por exemplo, é um esporte onde o contato físico é inevitável. Por conta disso, não são poucos os estudiosos que se dedicaram a estudar essa modalidade esportiva, classificada por algumas correntes como violenta. Entretanto, episódios de violência nas arquibancadas são bem mais comuns do que dentro das quatro linhas. Em Rio Bonito, além da tradicional incompetência e dos interesses escusos que transitam no setor esportivo, os episódios de violência viraram moda.
No último dia 19 de setembro, no estádio Carlos Gonçalves, no Motorista, em partida válida pelas semifinais da Copa Rio Bonito de Futebol Amador, dezenas de torcedores do Nova Cidade invadiram o gramado e perseguiram o jogador Pará, atleta da equipe adversária (Recanto). O jogador fugiu do estádio. A partida foi encerrada aos 35 min. do 1º tempo, quando o placar era de 1x1.
No domingo seguinte (26), na final da 2ª Copa Ollé de Futebol Amador, no fim da partida entre Castelo e Rio Vermelho (o Castelo venceu por 1x0 e foi campeão), que disputavam o título da competição, insatisfeitos com a atuação do árbitro Edson Fonseca, o Joelhão, dezenas de torcedores do Rio Vermelho invadiram o gramado do estádio José Alves Ventura, no Rio Bonito Atlético Clube. A justificativa – se é que ela existe – era de que o árbitro teria prejudicado o Rio Vermelho.
Sobre estes fatos as reflexões são muitas. Opiniões interessantes como das doutoras em Psicologia Maria Cristina Chimelo Paim e Marlene Neves Strey. Elas afirmam que no momento em que uma pessoa participa de uma torcida organizada, ela se constitui de várias emoções, muitas vezes, reprimidas pelos meios sociais do dia-a-dia. Ainda segundo Paim e Strey, uma vez dentro da torcida, o indivíduo demonstra a sua real identidade e age de uma forma que não faria isoladamente, aproveitando a ocasião para extravasar todo sentimento de impotência e frustração pessoal.
Outros estudiosos, como o respeitado Afonso Antonio de Machado (foto), autoridade na área de Educação e Esporte, afirmam que a reação agressiva é instintiva e ocorreria em conseqüência da frustração do indivíduo não ter conseguido superar um obstáculo (o adversário). Dessa forma, a postura agressiva e violenta do torcedor pode ter sido originada, não da situação do jogo, mas do meio social. Como é a vida do torcedor agressivo? Ou seja, em casa, no trabalho, ou em qualquer relação, ele é um vitorioso ou um derrotado?
Bem, diante deste cenário, concluímos que vivemos um período de grande retrocesso, porque com raríssimas exceções, as autoridades, os clubes, os dirigentes, os atletas e também o torcedor, aproveitam a paixão pelo Esporte, sobretudo o futebol, que é apaixonante e mobiliza multidões, para utilizá-lo como instrumento educativo. Aliás, o momento ideal para estimular valores que farão o futuro cidadão ter mais vitórias e menos derrotas é na infância. Por isso, a importância de se incentivar as categorias de base, geralmente povoada por inescrupulosos e interesseiros.
No Brasil, amador ou profissional, o Esporte já deveria estar sendo gerenciado com mais profissionalismo pelas entidades organizadoras, com mais seriedade pelos clubes, com mais criatividade pelos dirigentes, com mais empenho pelos atletas, com mais respeito pelo torcedor e com mais transparência e pela imprensa. Ou seja, todos nós somos protagonistas desse espetáculo que pode alienar ou educar.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
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