segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Dias consecutivos de chuva deveriam ser preocupação em Rio Bonito

A chuva constante e esse tempo úmido, sobretudo no mês de novembro não nos oferece boas recordações. Foi exatamente em novembro, mas de 2008, que depois de semanas seguidas de chuvas as comportas do céu se abriram e uma chuva torrencial caiu sobre o Centro de Rio Bonito e bairros periféricos. Uma tragédia, inclusive, com a perda de duas vidas. Uma mulher e uma criança morreram sufocadas sob os escombros de uma casa atingida pelo deslizamento de terra. À época, as localidades mais afetadas foram Bairro Marajó (onde moravam as duas vítimas), Boqueirão, Bosque Clube e Praça Cruzeiro. Outros pontos foram impactados, mas apenas com perdas materiais.

Geólogos enviados pelo governo do estado explicaram que Rio Bonito é uma cidade mergulhada num vale, o que fez as pessoas povoarem as encostas. Um dos integrantes dessa força tarefa explicou o efeito natural e social desse cenário e lembrou que essa é a realidade de muitos municípios do Rio de Janeiro.
– Geralmente as pessoas que erguem as suas moradias em encostas têm menor poder aquisitivo. Por isso elas recorrem às encostas. É exatamente essa falta de grana que faz essas construções serem erguidas sem planejamento e orientação técnica. É comum faltar cimento e vergalhão, porque as pessoas são pobres – analisou um dos geólogos, acrescentando que “a falta de grana também faz com que a moradia seja construída próxima a barrancos, ficando exposta ao soterramento”.

De acordo com Defesa Civil, a chuvarada que atingiu Rio Bonito naquela trágica tarde de terça-feira (25/11/2008) resultou em mais de 1,2 mil pessoas desalojadas, sendo 40 desabrigadas e 45 deslocadas. Além das duas mortes, 2.280 foram diretamente afetadas. Por conta dos deslizamentos 32 ficaram enfermos e 12 feridos. O relatório registrou que cerca de 2 mil casas ameaçavam desabar, 151 moradias foram destruídas e 144 casas tiveram algum tipo dano. A Defesa Civil também informou que depois de semanas de chuva, a terra das encostas estava fofa e fácil de ser movida pela força do aguaceiro do temporal. Para se ter uma ideia choveu 60 milímetros em cerca de uma hora, índice que normalmente é registrado em 15 dias nessa época do ano.
O município ainda se recuperava desse fatídico acontecimento, a terra ainda estava molhada e veio novo temporal. Dessa vez na segunda-feira 18/01/2009. Não houve vítimas, mas muita perda material por conta de novos deslizamentos de terra e alagamentos nas localidades de Flor dos Cambucás e Rio Vermelho.

Curiosamente, de 2008 até 2021, mesmo com todos esses registros e lembranças, nenhuma inciativa estrutural foi feita no sentido de amenizar o impacto das chuvas e temporais. Aqui eu peço atenção para o termo “estrutural” e aproveito a oportunidade para destacar que limpeza de rios, valões e desobstrução de boeiros não são ações estruturais. Vale ressaltar que ao longo de 13 anos a questão estrutural nunca recebeu atenção de quem governa por que os governados também não estão interessados.

Nos seguidos episódios de alagamentos e deslizamentos de terra logo se cria a política do colchonete, da cesta básica e do garrafão d’água. Até entendo ser um movimento bacana e necessário. Todavia, depois que o sol volta a brilhar governantes e governados acabam retornando suas atenções para outros problemas e a questão estrutural fica de lado até o próximo temporal. Por ocasião das chuvas de 2008, um amigo me entregou um recorte de jornal de 1996. A reportagem noticiava o falecimento de um homem e uma menina (pai e filha) vítimas de deslizamento de terra numa das encostas do bairro Bosque Clube.

Estamos em 2021. Diante da insistente chuva que cai lá fora e olhando tantos acontecimentos que aparecem no meu retrovisor, eu concluo que estamos todos, igual aos cães, correndo atrás do próprio rabo. Vamos em frente! #flavioazevedo

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