Flávio Azevedo
Durante uma operação deflagrada pelo
Serviço Reservado de Inteligência (P2), do 35º Batalhão de Polícia Militar,
foram presos, no último dia 20 de setembro, na Serra do Sambê, Jhone dos Santos
Barbosa, (23); Jadir Soares Lima (23); Samara Cristina Conceição da Silva (19);
Joel Ribeiro Borges Júnior (33), Jardel Alves da Silva (32); Diego Peclat do
Espírito Santo (18); e Thiago Honorato de Souza (24). A acusação é de tráfico
drogas e associação ao tráfico. Com o grupo, os policiais encontraram 537
sacolés de cocaína, 28 trouxinhas de maconha, uma pistola 9mm, celulares e
dinheiro.
Os policiais chegaram ao bairro sem
farda, fingiram que eram usuários de drogas e fizeram uma encomenda. Pensando
apenas no lucro que teriam com os supostos clientes e sem perceber que se
tratava de uma armadilha, os vendedores não se preocuparam em proteger o
esquema. Muito a vontade, eles mencionaram os nomes dos envolvidos e expuseram
os pontos onde as drogas estavam escondidas. Tudo isso facilitou o serviço dos
policiais que, por várias horas, varreram a localidade em busca de outros
envolvidos.
Triste
rotina
Quem mora na Serra do Sambê não
comemora a prisão desses jovens, sobretudo porque rapidamente eles são
substituídos em suas atividades. Como acontece em outros bairros do município,
não é de hoje que a Polícia Militar visita a localidade, prende supostos
traficantes, mas logo eles estão de volta à mesma atividade e fazendo ponto nos
mesmos lugares, numa rotina desanimadora e irritante para ambos os lados. Ou
seja, para os policiais e traficantes, que vivem num eterno jogo de gato e rato,
que interessa somente a um sistema perverso que, diga-se de passagem, é mantido
pela própria sociedade.
Em sua maioria, esses presos são
filhos de pessoas de bem, gente trabalhadora, homens e mulheres responsáveis, cidadãos
cumpridores dos seus deveres, que por uma série de razões perderam os seus
filhos para o tráfico de drogas, que existe, e não é de hoje (e pelas mesmas
razões), em todo município. Quantos dos nossos jovens não estão mais entre nós
por envolvimento com essa desgraça? Não são poucos.
Se os envolvidos demonstram frieza e
cara de pau, mais frieza e cara de pau têm a sociedade, que poderia contribuir mais
significativamente na luta contra o flagelo das drogas. Contudo, por saber que
alguns dos seus entes queridos sustentam, com o seu vício, esse sistema, muitos
preferem fazer cara de paisagem e fingir que nada está acontecendo. É mais
cômodo, por exemplo, para alguns pais, transferir a responsabilidade, que é
deles, para a escola, para o líder religioso, para um parente, para o Conselho
Tutelar, para a Casa da Criança, para o Balé, para a Capoeira, para o Curso de
Idiomas, para alguma prática esportiva etc.
Sem querer desanimar os policiais que,
nessa e em outras operações, tiveram brilhante atuação, a tarefa dos senhores é
enxugar, sob intenso calor, uma grande pedra de gelo. A Justiça, que pela sua morosidade
parece ser conivente, na verdade faz valer leis formuladas por deputados e
senadores que se são, de quatro em quatro anos, eleitos com o nosso voto. Vale lembrar
então, que se os nossos representantes são ruins, é possível que seja
exatamente nesse momento que eles estejam nos representando, porque juntos
formamos uma sociedade que foge das suas responsabilidades, é egoísta, cínica,
mesquinha, interesseira e geralmente mascara as suas intenções individualistas
e perversas com um falso altruísmo e um caricato bom mocismo.
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