sexta-feira, 30 de abril de 2010

Em terra de Marlboro, salvem-se quem puder!

Até algum tempo atrás, a “Terra de Marlboro” era apenas fruto da imaginação. Apenas a ficção e diretores como John Ford ou Fred Zinemann conseguiam retratá-la nos filmes de western. Entretanto, a passividade e a docilidade dos cidadãos, associadas à falta de compromisso da classe política, fez com que os municípios brasileiros, com raríssimas exceções, sejam verdadeiras “Terras de Marlboro”.

Como nos premiados filmes de western, os apaches, moicanos, siouxs, cheyennes, crows, entre outros, estão por toda parte. Com o consentimento de quem está no poder, os “peles vermelhas” sugam o combalido erário público. Também nos depararmos constantemente com cínicos aristocratas, que cercados pelos seus capangas (peles vermelhas) aprontam todo o tipo de falcatrua e maldade contra os “humildes rancheiros”.

No Brasil, talvez por conta do clima e do solo desértico, quando falamos em “Terra de Marlboro”, logo nos vem à mente o Nordeste, onde os sertanejos sofrem horrores nas mãos dos políticos-coronéis. Também nos lembramos dos cenários amazônicos, onde os grandes latifundiários, madeireiros e grileiros de terra, executam sitiantes, pequenos proprietários de terra, ativistas, religiosos e ainda estimulam o narcotráfico e o comércio ilegal de armas.

Nós riobonitenses, porém, precisamos apenas sair de casa para conhecermos a “Terra de Marlboro”. Para quem discorda da nossa afirmação, basta lembrar que no interior de Rio Bonito, as pessoas continuam sendo assaltadas por figuras que lembram o bando de Billy the Kid. Já na cidade, as lojas, os prédios, os consultórios, os escritórios e até o Hospital Darcy Vargas, sofrem com a ação de ladrões que lembram os bandoleiros liderados pelo fora-da-lei Jesse James.

A rua está dominada por uma população mesquinha e egocêntrica. O desrespeito é tamanho, que, às vezes, nós temos a impressão que determinado comerciante, motorista, pedestre ou motociclista, comprou as calçadas da cidade, que há muito tempo não é mais o passeio público. Na última quarta-feira (24), por exemplo, por volta das 13h, a Rua Durval Mesquita, no Centro, estava impraticável. A princípio pensávamos que o problema estava sendo causado por dois caminhões que se encontraram em sentidos opostos. Não era. O transtorno foi causado por um carro de passeio que estava estacionado na contramão, sendo que no lado oposto já haviam vários carros estacionados. O responsável por esse veículo, como se nada estivesse acontecendo, fazia algum tipo de manutenção na parte traseira do carro, como se a rua fosse a sua garagem!

Esta semana, na Rua da Conceição, que já é impraticável por conta do ponto de ônibus, a carroceria de uma carreta carregada de arroz ficou estacionada em frente a Malu Modas, trazendo prejuízo para a loja e tornando ainda mais confuso, o trânsito da referida rua. Mas não é só isso! Em frente as nossas farmácias e drogarias, o motorista que pretende comprar algum remédio, se vê obrigado a estacionar em fila dupla, porque a vaga destinada a esse fim está ocupada por alguém que certamente não está comprando remédios.

Outra coisa, o número de motociclistas aumenta a cada dia. Na verdade, já há algum tempo a motocicleta deixou de ser uma ferramenta ou um veículo de locomoção. Ela agora é um brinquedo. Quando eu era criança, eu me lembro, além de apresentar boas notas, eu tinha que passar de série para ganhar uma bicicleta. Hoje, com boas ou péssimas notas, as crianças ganham motos, só porque o filho do vizinho também ganhou.

Na ficção, a “Terra de Marlboro” só fica em paz e se torna próspera, quando personagens vividos por atores do quilate de John Wayne ou Gary Cooper entram em ação. Em Rio Bonito, por exemplo, parte da população espera por esse herói. Contudo, é possível que aconteça com esse cowboy, o que aconteceu com Cooper, no filme “Matar ou Morrer”, onde ele interpreta Will Kane, delegado da cidade de Hadleyville. Na história, ele descobre que Frank Miller e seu bando, presos por ele no passado, estão chegando à Hadleyville em busca de vingança. O xerife espera contar com a ajuda da população, o que não acontece. Sendo assim, sozinho, ele tem que enfrentar os seus inimigos.

‘Investidores’ de olho em nossa região

Eu espero que os prefeitos e vereadores das cidades próximas ao Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), tenham visto a manchete do jornal Meia Hora, do último domingo (25). A matéria diz que enquanto o Rio comemora a queda dos índices de criminalidade em áreas com Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), os municípios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí estão na mira do tráfico.

Segundo informações obtidas por órgão de inteligência do governo do estado, o Comando Vermelho (CV) planeja tomar o controle da maior parte das favelas destas cidades da Região Metropolitana para que os traficantes possam circular com armas e drogas da capital em direção ao interior do estado. As invasões em série foram batizadas pela facção como Operação Corredor Vermelho. Talvez, os marginais estejam inspirados num tal Arco Rodoviário, que vai ligar Itaboraí a Itaguaí e nunca sai do papel.

E tem mais! Segundo fontes da polícia, o CV está à procura de refúgio para os desabrigados das UPPs. Ou seja, abrigar ou acomodar bandidos, que foram obrigados a largar os seus redutos por conta da chegada da polícia. As últimas invasões da quadrilha não foram bem sucedidas: ao Morro dos Macacos, em Vila Isabel, no fim do ano passado; à Serrinha, em Madureira, e ao Barbante, em Campo Grande, ambas este ano.

A determinação para a Operação Corredor Vermelho partiu do traficante Marcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que cumpre pena na penitenciária federal de Catanduvas (PR). O encarregado da missão é Alexander Mendes da Silva, o Polegar, da Mangueira. Sob o comando do traficante estariam 12 comparsas dos complexos do Alemão e da Penha, do Jacarezinho e de favelas de Niterói e São Gonçalo, como Luiz Claudio Gomes, o Pão Com Ovo, chefe do tráfico no Morro do Martins, em Neves, São Gonçalo, e na Nova Brasília, na Engenhoca, em Niterói.

Certamente, alguém vai ficar indignado com o que eu vou escrever agora, mas amigo, como outro qualquer investidor, os bandidos também estão de olho no Comperj. Aliás, sem querer ser irônico, se o empreendimento da Petrobras vai abrir oportunidades de ganho direto e indireto para todos os setores, por que seria diferente com o tráfico? Veja bem, de acordo com o governo federal, a região vai receber cerca de 250 mil pessoas. Como os traficantes gerenciam uma empresa privada, eles já estão de olho nos clientes em potencial.

Há cerca de dois anos, eu alertava sobre isso aqui neste espaço. Na verdade, aquele texto foi muito criticado e questionado pelas autoridades. Mas parece que eu acertei! Na ocasião, eu afirmei que a região vai receber hospitais, empresários, escolas e universidades, investimentos, bancos e banqueiros, empregos e oportunidades, corporações etc.

Contudo, eu disse também, que o progresso traria para a região, contraventores, traficantes, ladrões, sequestradores, prostituição, ocupação desordenada, miséria, exploração da mão de obra dos menos qualificados – e menos dispostos a trabalhar –, crescimento da população de rua e o número de clientes nos hospitais seria ampliado. Na verdade, tudo aquilo que acontece numa sociedade orientada pela lógica capitalista.

Tomara que as nossas autoridades tomem juízo ou uma boa dose de “semancol”. Quem eles percebam que o crime está conseguindo, dentro da sua lógica perversa, ser mais organizado que as nossas instituições, onde a perversidade também é abundante. Aliás, nunca é demais lembrar, que as nossas instituições estão povoadas por figuras perversas, mesquinhas e preocupadas apenas com os seus próprios interesses. Figuras, que perderam de vista o compromisso com o povo e com aquilo para o qual foram eleitos.