quarta-feira, 14 de julho de 2010

As lições do caso Bruno


A nação brasileira continua estarrecida com a crueldade dos responsáveis pela suposta morte de Elisa Samudio. Quando J., menor envolvido no seqüestro da jovem, revelou à polícia, os detalhes da execução, eu achava que alguma coisa não encaixava na história. Esquartejar... Descarnar... Jogar as carnes para os cães e... Concretar os ossos da vítima... Tudo isso por causa de uma Pensão Alimentícia? Era muito estranho, porque, segundo especialistas, mortes violentas acontece quando as partes estão envolvidas em outras discussões ou ‘negócios’.

Até que esta semana, a Rede Record de televisão trouxe informações que confirmam as minhas impressões. A Polícia Civil de Minas Gerais investiga uma segunda motivação para o crime. Eliza teria descoberto um suposto esquema de tráfico de drogas comandado por Macarrão (braço-direto de Bruno). E ela estaria pressionando Macarrão a negociar com Bruno a realização de um exame de DNA. Caso contrário, ela iria à imprensa denunciar a história.

O esquema de tráfico de drogas que seria comandado por Macarrão funcionaria em morros do Rio de Janeiro e na Região Metropolitana de Belo Horizonte, principalmente em Ribeirão das Neves e Vespasiano. Ainda de acordo com a polícia, um traficante que teria recebido R$ 70 mil para dar um fim aos restos mortais de Eliza trabalharia para Macarrão. A polícia está com o notebook de Eliza e rastreia informações que possam relacionar o crime a uma vingança ou queima de arquivo.

Sobre isso, penso que a grande mídia está perdendo a oportunidade de trazer a baila um assunto polêmico, mas que precisa ser discutido sem falso moralismo: a legalização das drogas. Na edição de maio, a revista Caros Amigos publicou uma matéria assinada pelo jornalista Julio Delmanto sobre o tema.

Segundo ele, os interesses por trás desse combate são escusos e sem preocupação com a saúde do usuário. Ele diz também, que a resposta militar e penal do uso de algumas drogas – álcool e cigarros são drogas utilizadas livremente – não ajuda no tratamento do uso abusivo de psicoativos e serve apenas para aumentar a violência, a corrupção, a criminalização da pobreza, e o mais importante, é o álibi perfeito para o Estados Unidos violar a soberania nacional de outros países.

Sobre este debate no Brasil, o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública, tem uma visão pessimista: “o que predomina é preconceito, conservadorismo, estigmas e a pasmaceira de sempre, ante a máquina feroz de morte e irracionalidade da política vigente, que criminaliza os jovens pobres e negros, estimula a corrupção policial, o domínio territorial pelo tráfico e o comércio ilegal de armas”.

O termo “war on drugs” (guerra às drogas) foi utilizado pela primeira vez por Richard Nixon, que identificou as substâncias psicoativas ilícitas como o “principal inimigo” de seu país. A partir de então, o suposto combate à produção, distribuição, comércio e consumo de drogas em escala global foi um dos principais alicerces da política externa estadunidense. Segundo Wálter Maierovitch, juiz de direito aposentado e secretário nacional antidrogas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o combate às drogas assume assim duplo papel: de repressão interna e de intervenção geopolítica externa.

A Secretária-geral do Instituto Carioca de Criminologia (ICC), Vera Malaguti Batista explica que “com o fim das ditaduras militares, a construção da guerra contra as drogas como política para a América Latina manteve o aparato de controle social, manejado a partir do proibicionismo (de drogas) norte-americano. A demonização da coca e da maconha, por exemplo, produziu a manutenção dos convênios e das missões militares americanas no continente”.

Malaguti destaca também, que as medidas neoliberais propagadas a partir do chamado Consenso de Washington trouxeram “devastação social” ao continente na década de 80, levando camponeses e trabalhadores urbanos cada vez mais pobres a se engajarem na produção e no comércio varejista das substâncias ilícitas.

Números que devem ser pensados: 66,5% dos presos no Rio de Janeiro são negros. No Estados Unidos, um em cada três negros com idade entre 18 e 35 anos, está preso ou sob condicional. São 6,5 milhões de detentos no país, o que não o impede de ser o maior produtor mundial de maconha, e o país de maior número de consumidores de drogas ilícitas do planeta.

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