sábado, 7 de julho de 2018

Lideranças religiosas do mundo pós-moderno

Flávio Azevedo
O prefeito Marcelo Crivella está enrolado e sendo observado pelo Ministério Público.
A polêmica da vez envolve o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB). Segundo notícias veiculadas pela grande mídia, numa reunião ocorrida na última quarta-feira (04/07), pastores e fiéis presentes num encontro com o chefe do Executivo carioca podiam levar qualquer reivindicação que, em troca, a Prefeitura do Rio apontaria o que teria a oferecer aos convidados. Os áudios da reunião estão sendo amplamente compartilhados e neles Crivella promete solucionar problemas de IPTU a cirurgias de cataratas e varizes. O Ministério Público já está de olho e o debate nas mídias sociais que inicialmente era político já entrou na esfera religiosa.

Antes de seguir o texto, eu gostaria de destacar o que está escrito no capitulo 7, verso 1, do evangelho de Mateus: “não julgueis para não serdes julgados”. Essa frase, atribuída ao próprio Jesus, tem sido usada como escudo para todo tipo de picaretas e picaretagens cometidas por lideranças religiosas de qualquer credo. Há quem entenda esse conselho como um incentivo ao cristão ser um otário. E não é nada disso, porque o mesmo Jesus noutro ponto aconselha que o cristão seja “simples como as rolas e prudentes como as serpentes” (Mateus 10.16). Ou seja, o fato de você ser cristão não significa que você deve ser um bobão que constantemente é tapeado por espertinhos.

Aproveito a oportunidade para destacar que pastores picaretas estão em todas as denominações. Está nítido também que várias igrejas foram criadas para alguém ganhar dinheiro. Charlatões estão em toda parte e líderes religiosos sérios e honestos também. O caso é que em nome de uma política de boa vizinhança e do famoso “larga isso pra lá”, as lideranças honestas não se posicionam. Se copiassem o exemplo de Jesus, que empunhando um chicote expulsou do templo, cambistas e camelôs que faziam da igreja uma feira, o evangelho não estaria poluído pela lógica comercial.

O apelo mercadológico é tão grande e estratégico, que se convencionou chamar de “Gospel” aquilo que é ligado ao meio evangélico. Um hino ninguém quer ouvir, mas escutar música “gospel” está na moda. É possível que essas colocações despertem a ira de um monte de gente (já estou acostumado) e exatamente para evitar o desconforto com esse tipo de reação que muitos pastores honestos preferem se omitir nessa hora, o que é uma pena.

Em sua primeira carta aos cristãos de Corinto, São Paulo escreveu ser importante haver na igreja dissenções e até heresias, “para que os que são sinceros se manifestem”. Todavia, diante do evidente mau comportamento de inúmeros líderes religiosos, onde está a manifestação dos sinceros? Geralmente em silêncio porque “não devemos julgar para não sermos julgados”, o que é uma tremenda desculpa para não se posicionar.

Tudo isso, porém, não é novo. O profeta Isaías viveu 600 anos antes de Jesus e escreveu a seguinte advertência para os líderes religiosos do seu tempo: “Os atalaias de Israel são cegos, nada sabem. Todos são cães mudos, não podem latir. São sonhadores preguiçosos, gostam de dormir. Tais cães são gulosos, nunca se fartam. São pastores que nada compreendem; todos seguem o seu próprio caminho, cada um para a sua ganância, todos sem exceção” (Isaías 56.10-11).

Diante desse cenário é fundamental refletir no que escreveu Oséias, no capítulo 4, verso 6. “O meu povo perece por falta de conhecimento”.

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