quinta-feira, 15 de março de 2018

Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?

Flávio Azevedo
Marielle Franco estava no seu primeiro mandato. Ela recebeu 46 mil votos nas eleições municipais de 2016.
Um sorriso largo, boa formação acadêmica, muitas ideias na cabeça. Alguém que usava o mandato para amparar e empodeirar as minorias... É como enxergo a vereadora Marielle Franco; executada na cidade do Rio de Janeiro, na noite dessa quarta-feira (14/03), por volta das 21h. Para mim o que menos importa, agora, é o seu partido (Psol), o fato de ela ser negra e ser mulher. A sua condição de ativista que se colocava em posição de enfrentamento da violência também não acho relevante. 

O que atrai a minha atenção para mais essa triste história é que mais uma pessoa morre por conta da Violência, fenômeno social que Marielle conhecia bem, seja pela sua condição de socióloga, seja por conta da sua origem: a comunidade da Maré. Enquanto especialistas darão as repetidas opiniões sobre violência, enquanto ativistas de esquerda e direita estarão oferecendo pensamentos raivosos e deselegantes, a realidade é que Marielle ingressa na estatística que tem jovens pobres e negros de comunidades cariocas e dezenas de policiais.

Se especialistas, sociólogos, antropólogos, políticos e a própria sociedade, não conseguem encontrar um caminho para frear a escalada da violência no Rio, um ilustre cidadão carioca, preso na penitenciária de segurança máxima de Porto Velho, em Rondônia; tem soluções. Formado pela universidade da vida, a mais eficaz que se tem notícias, Antônio Bonfim Lopes, o “Nem da Rocinha”, em entrevista ao jornal El País (Espanha) apontou caminhos para solucionar o problema. 
Nem da Rocinha é uma "Caixa de Pandora". Se fizesse delação premiada incriminaria muito vagabundo engravatado com pose de honesto.
Condenado a 96 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, Nem da Rocinha disse que “para acabar com o tráfico, é preciso legalizar as drogas”. Ele acrescenta que “não adianta” apenas legalizar as drogas, é preciso falar sobre isso nas escolas, explicar desde cedo o que é a droga e seus efeitos. Numa demonstração de que sabe o que está falando, o condenado faz um alerta: “Dizer apenas “droga é ruim, não use”, não resolve, porque o jovem “tem curiosidade” sobre o assunto”, frisa o traficante, reiterando que “o Estado pode lucrar com a venda ou cobrança de impostos de um comércio legal”.

Na entrevista ao El Pais, o traficante critica a intervenção na Segurança Pública do Rio e afirma que “vai dar em nada”. Na sequência ele faz outra revelação que é do conhecimento de todos, mas poucos têm coragem de falar.
– Os políticos sabem como resolver o problema da violência, mas “sabem que não serão reeleitos”. Para acabar com a violência é preciso investimento em educação e políticas sociais que não têm retorno na urna em curto prazo – disse o traficante.

Diante das declarações de Nem da Rocinha e da nítida conivência das autoridades em relação a essa multinacional que importa e exporta drogas, a pergunta, “quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”, ecoa no ar. Finalizo acrescentando que entre tantos remédios apresentados sobre o assunto, o único que me parece razoável, curiosamente, parte de Nem da Rocinha... Talvez seja por isso que ele esteja preso.

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