Eleições no Hospital Darcy Vargas é “Guerra Fria” versão Rio Bonito

Flávio Azevedo

O prefeito Mandiocão e a ex-prefeita Solange; são as potências políticas de Rio Bonito e se digladiam pelo poder através de tentáculos institucionais.

“Guerra Fria” é o termo que aponta para os conflitos entre Estados Unidos da América (EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Nos anos 1970 e 1980, as duas potenciais tentavam alcançar a hegemonia mundial. Curiosamente, nunca o EUA atacou diretamente o Kremlin ou a Praça Vermelha. Já a URSS nunca buscou atingir frontalmente a Casa Branca e o Pentágono. Todavia, em todo planeta inúmeras e sangrentas guerrilhas davam corpo ao conflito entre as duas potências.

Há menos de 24h da eleição que vai definir quem vai comandar o Hospital Regional Darcy Varga (HRDV) de Rio Bonito no próximo mandato, o que se percebe é uma “Guerra Fria” entre os grupos políticos de Mandiocão e Solange, prefeito e ex-prefeita, respectivamente. Vale destacar que em 25 anos de “Guerra Fria”, versão Rio Bonito, a dupla Mandiocão e Solange pouco se enfrentaram diretamente. Notadamente, eles preferem deixar que buchas, puxa sacos e cabos eleitorais se sacrifiquem por eles.

As eleições do Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV) acontecem nesse domingo (11/03).

O atual Vietnã da “Guerra Fria”, versão Rio Bonito, é o HRDV. O grupo que, hoje, comanda a unidade é formado em sua totalidade por pessoas próximas da ex-prefeita, Solange Almeida; ou simpatizantes dela. Todavia, a chapa oposicionista tem a face do prefeito Mandiocão, conta com pessoas próximas dele, inclusive, parentes e integrantes do governo municipal.

Desde ontem eu estou recebendo no meu WhatsApp, várias cópias de uma carta aberta que teria sido preparada por funcionários do hospital. O título “Operação Fora Kaki, eu Apoio”, já permite o leitor imaginar o teor da tal carta. O material da ênfase a inúmeras mudanças que Kaki promoveu durante a sua gestão, inclusive, avançando indevidamente sobre direitos trabalhistas dos funcionários; o inchaço da folha de pagamento; a atuação pesada do DOI-CODI contra funcionários descontentes; o 13º de 2017 e parte do benefício de 2016 que ainda não foi pago; a falta de medicamentos e alimentos; a retirada do triênio, de adicionais obrigatórios; entre outros assuntos.

Trecho da carta aberta supostamente redigida pelos funcionários do hospita.

Imediatamente recebi um material dizendo que o empresário, Leilton Abrahão; candidato a presidente na chapa da oposição, teve problemas quando comandou o Motorista Futebol Clube. A listagem também aponta os laços de parentesco do prefeito com o advogado, Felipe Boareto; e com a secretária de Turismo, Carmen Motta (integrantes da chapa de oposição). Carmen é mãe de um dos filhos do prefeito. Já Boareto é casado com a sobrinha de Mandiocão.

Uma das notas que estão sendo veiculadas nas mídias sociais. 

Outro integrante da chapa opositora que é apontado na tal lista é o ex-secretário municipal, Feliciano Figueiredo; que não é bem visto pelo Ministério Público, onde responde a processos e tem a seu desfavor uma condenação. É, inclusive, apontado como um dos envolvidos no emblemático caso “Máfia das Sanguessugas”, escândalo que teve repercussão nacional (2006). Outros integrantes da chapa da oposição também são apontados como integrantes do governo Mandiocão e membros grupos que já estiveram a frente do hospital e fracassaram.

Esse ambiente me força entender que a “Guerra Fria” está instalada no hospital, me permite dizer que o Darcy Vargas, hoje, é o Vietnã das potenciais, Solange e Mandiocão; e me dá autoridade de dizer que nenhum dos grupos está interessado no hospital no sentido de transformar a instituição numa unidade hospitalar de referência e excelência. O que interessa de verdade é o domínio dos orçamentos (oportunidade de negócios); dos empregos (oportunidade de cabresto); as possibilidades de ampliar o poder e o prazer de derrotar o adversário político.

Independente de quem vencer a eleição, o hospital já perdeu, porque o funcionário seguirá não sendo prioridade; o prestador de serviço continuará a ser tratado com desrespeito; o fornecedor não receberá em dia; e a Prefeitura não fará os repasses e pagamentos corretamente. A “Guerra Fria” tem objetivos sórdidos, porém, claros: desviar a atenção do riobonitense dos seguidos escândalos ocorridos na instituição, não permitir que venhamos a nos debruçar sobre as fabulosas dívidas deixadas por cada gestor que senta na presidência; não pensar solução para os ralos quase impossíveis de serem calafetados, por conta dos rabos presos, compadrios e conluios; entre outros pontos. 

É claro que esse olhar não agrada. Reflexões dessa natureza sempre despertarão descontentamento em ambos os lados, mas essa reação apenas confirma que essa análise está correta, justa e aponta para um caminho que ninguém deseja seguir, porque o objetivo da “Guerra Fria” versão Rio Bonito não é beneficiar o hospital, o funcionário da unidade e o seu usuário. O que se quer é manter o poder e seguir uma batalha de egos cínica, de grupos políticos hipócritas e totalmente desprovidos de espírito público.

Outra nota que está circulando nos WhatsApps nesse sábado (10/03), que antecede a eeição.