segunda-feira, 29 de maio de 2017

Bandas das escolas municipais de Rio Bonito sofrem com “falta de tudo”

Flávio Azevedo
Integrantes da CORPEME desfilaram com uniforme escolar no último dia 07 de maio.
Por ocasião do Desfile Cívico Escolar, um dos eventos em celebração aos 171 anos de emancipação político administrativa de Rio Bonito, a nossa reportagem recebeu denúncias sobre as condições em que estão as bandas das escolas municipais. Antes do desfile, o comentário entre os profissionais de Educação era de que as bandas iriam desfilar com uniformes precários, colados com cola quente, “porque há anos a Prefeitura não oferece novos trajes”. A precariedade dos uniformes também atinge os estudantes e muitos não desfilaram porque não tinham uniformes.
– Há bastante tempo as nossas bandas estão impedidas de participar de apresentações em concursos de bandas em outras cidades, porque não existe reconhecimento, valorização e incentivos por parte da Prefeitura. Ainda temos as nossas bandas, por conta da dedicação dos regentes e dos alunos. Os governos se repetem e se repetem também o desinteresse com esse segmento da Educação e da nossa Cultura – revela uma professora.

Um dos integrantes de uma banda da cidade destaca que Rio Bonito tem tradição nessa área e já participou de concursos e conquistou prêmios com as suas bandas. “Isso coloca os envolvidos num grau de importância que infelizmente não é reconhecido pela Prefeitura da nossa cidade, que deveria investir e incentivar essa nossa identidade”. Entre as bandas mais tradicionais está a COMDAM, do Colégio Municipal Drº Astério Alves de Mendonça. A fonte que conversa com a nossa reportagem afirma que inicialmente a COMDAM foi criada para representar Rio Bonito em concursos e eventos. 
– A COMDAM, hoje, encontra-se em estado de decadência por falta de apoio da Prefeitura. Sempre ouvimos promessas de que iriam estruturar a banda para que ela seguisse sua missão de representando o município, mas entre prometer e cumprir existe uma longa distância. Atualmente a banda conta com a regência de Lucimar Quintanilha. Uso a palavra decadência para exemplificar a falta de estrutura, de uniformes, calçados, novos instrumentos e material de reposição – conta a nossa fonte, que faz uma revelação curiosa. “O uniforme usado pela banda, hoje, foi comprado de uma escola de outro município, um enorme desrespeito com a banda mais antiga de Rio Bonito”.

A CONDUQUE vem de Rio Seco é tem a regência de Senilto Alves.
Outra revelação da nossa fonte denuncia que por conta do descaso da Prefeitura com a COMDAM, inúmeros alunos desistiram de participar. “Para conseguir desfilar esse ano (2017) foi feito um cata, cata, entre os integrantes de outras bandas. Só assim foi possível montar a COMDAM. A principal queixa de quem sai é a falta de uniforme”, declara a nossa fonte, que acrescenta outros fatores.
– Tudo é sempre muito difícil! Os gestores escolares acabam não tendo autonomia para decidir, para comprar um projeto pensado pelos regentes e alunos, porque precisam ser autorizados pela Secretaria Municipal de Educação, geralmente tocada por quem não entende nada de banda. E pior, as vezes o secretário até está interessado, mas ser autorizado pelo prefeito, que no caso de Rio Bonito, seja um ou seja o outro, não entendem bulhufas de banda e se metem a dar opinião – critica.

Também tradicional e uma representante importante de Rio Bonito a banda do Colégio Municipal Drº Kingston de Souza Motta, não tem história muito diferente. A banda conta com a regência de Lucimar Quintanilha; e também representava Rio Bonito em festivais e desfiles cívicos de outras cidades. Batizada como COMUKI, ela é a segunda banda mais antiga do município. “Hoje, a banda não é composta apenas por estudantes de Parque Andréa. Alunos Nova Cidade, Chavão, Jacundá e Região, também participam, o que torna a COMUKI um instrumento importante de inclusão e atividade para os jovens do 2º Distrito”. A nossa fonte conta que o atual uniforme foi feito por um esforço pessoal do antigo regente (Aécio Goulart) e a antiga gestora da escola.
– Apesar da referência positiva que é a COMUKI pode ter para os jovens do 2º Distrito, atualmente a banda sofre com a falta de uniformes, os instrumentos estão velhos, enferrujados e alguns estão quebrados. O uniforme que a banda usa foi feito pelo antigo regente, Aécio Goulart; num esforço conjunto com a direção da escola. Aliás, o uniforme não foi terminado por falta de dinheiro, sendo necessário o regente e a diretora usarem recursos próprios para que o uniforme fosse terminado e entregue – revela.

Outra banda importante do município é da Escola Municipal Duque de Caxias, de Rio Seco. Também chamada de CONDUQUE, o grupo hoje conta com a regência de Senilto Alves.
– A CONDUQUE é a terceira banda mais antiga de Rio Bonito e ainda existe por amor. Primeiro pela distância da localidade de Rio Seco. Segundo, pela dificuldade dos estudantes chegarem ao local de ensaio, porque essa banda especificamente ainda enfrenta a questão dos horários do Transporte Público. Ou seja, acaba sendo muito difícil fazer um trabalho de excelência e o regente sofre para mostrar trabalho. A CONDUQUE também enfrenta a realidade de instrumentos velhos, enferrujados, quebrados e uniformes em péssimas condições – afirma.

Nessa altura do relato, a nossa fonte interrompe a análise da situação das bandas para mencionar que elas sobrevivem por conta do amor e dedicação dos alunos, direção das escolas e do regente. “Para encerrar, eu falo de três bandas criadas em 2005 e que também sofrem com a precariedade”. As bandas representam as escolas, Maria Lydia Coutinho (COMALYDI), que tem a regência de Simone Silva; “única regente do quadro de servidores efetivos da Prefeitura”; do Raulbino Pereira de Mesquita (CORPEME), comandada por Jaqueline Silva; “que esse ano desfilou com uniforme escolar”; e a banda da Escola Municipal Professor Honesto Almeida de Carvalho (EMPHAC), atualmente regida por Maria Conceição; “que recebeu ‘doação’ de material usado da banda do Astério Alves para desfilar”.
– Em resumo, a última vez que as bandas mais antigas receberam instrumentos novos e uniformes foi há cerca de 15 anos. Em 2005 a Prefeitura criou três novas bandas, mas não deu estrutura, o que sugere perguntar: por que criaram bandas novas se não tinham condições de manter as antigas? Como e quando vão estruturar as seis bandas do município, hoje, abandonadas e largadas? Quantos prefeitos passarão pela Prefeitura e nada farão para mudar essa história? É doloroso ver as bandas nessa situação! A ideia não é puxar para esse ou aquele prefeito, porque repetem os erros, apenas me preocupa a possibilidade de ver morrer a Cultura de Bandas e Fanfarras por falta de apoio dos nossos governantes – concluiu.

Nota da Redação: a nossa reportagem não ouviu e nem vai ouvir a Secretaria Municipal de Educação, porque já decoramos as respostas: “assumimos o município em crise, com pagamentos atrasados, não houve transição entre governos, tem que ter paciência etc.”. Quanto aos gestores escolares e regentes das bandas, é claro que todos estão incomodados com essa situação, mas por uma série de razões acabarão usando o discurso padrão da Secretaria de Educação.

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