segunda-feira, 10 de abril de 2017

Quantas “Emillys” nós temos por aí?

Flávio Azevedo
Você pode ter N razões para não assistir o programa Big Brother Brasil, mas a edição desse ano, especialmente no seu final, está oferecendo uma grande oportunidade a todos nós. É que um dos quase finalistas do BBB, o Marcos; acaba de ser expulso do programa por ter agredido uma das participantes. A questão começa ficar interessante, quando a vítima é a namorada do agressor. Fica muito nítido que a agressão percebida por agentes externos era mascarada pela vítima. “Não se mete, porque isso aqui é briga de casal!”, disse Marcos, dias atrás, ao ser exortado por uma colega, por conta da sua postura agressiva com a namorada.

O clímax da história merece uma profunda reflexão, um olhar para o próprio umbigo, sobretudo se você é mulher. Digo isso, porque a reação da vítima é bem peculiar. Além de não aceitar que foi agredida, ao perceber que suas argumentações, para defender o agressor, não colam; a vítima passa a se culpar e fica nítido que ela tenta arrumar justificativas para as atitudes do brucutu. Mas o que fazer, quando você descobre que o seu parceiro (a) é agressivo? Para homens e mulheres a receita é simples: sai de perto! Deixa! Esquece! Não tem que agredir! Se a pessoa é chata, como estou vendo alguns classificando a Emilly, basta sair de perto.

O desespero da Emilly ao descobrir que o parceiro foi expulso do programa retrata a reação de boa parte das mulheres agredidas pelos seus parceiros no mundo real. Penso que se em cada residência tivesse algumas câmeras, mais de 50% dos maridos, namorados e afins; seriam eliminados de um programa real chamado “vida a dois”. Vale destacar que também encontraremos casos onde a mulher seria a eliminada.

Na condição de técnico de enfermagem, eu cansei de atender senhoras, meninas e jovens; agredidas pelos seus companheiros. Como as marcas são muito peculiares e as ocasiões também (Carnaval, fim de semana, época de festas), não havia como não perceber a agressão. Também era curioso, o desespero da agredida, não pelo fato de ter apanhado, mas por arrumar uma história triste que pudesse me convencer que aquelas marcas não eram “briga de casal”. 

Se a eliminação do companheiro de um programa de TV causa tanto desespero na agredida, imagina o que passa pela cabeça de uma mulher, com o temperamento similar ao da Emilly, ao ver sendo levado embora, pela polícia, o parceiro agressor. Por mais que pareça estranho, mas é nesse momento que muitas desistem de dar queixa, desistem de testemunhar e, por vezes, escolhem seguir apanhando em silêncio até que acontece uma tragédia.

Eu concordo em gênero, número e grau; com aqueles que enxergam milhares de defeitos no Big Brother Brasil, mas eu sou obrigado a concordar com o apresentador Thiago Leifert: “precisamos nos apropriar desse momento, para conversarmos em casa sobre a questão da agressão doméstica e entre casais”. Enquanto consola a inconformada agredida, a participante Vivian; comenta que “agressão não é só largar a mão... Dedo na cara, empurrões, gritos e coisa desse tipo também é agressão”. Tudo indica que pouca gente tem noção disso. 

Enfim, eu que sou um dos críticos do BBB sou obrigado a reconhecer que o programa prestou grande serviço a sociedade ao provocar, mesmo que de maneira involuntária, um tema antigo, mas muito atual: a agressão doméstica, que também pode vitimar filhos, um idoso, um membro da família deficiente... Estamos diante de um diálogo longo, mas que precisa acontecer. Pensemos nisso!

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