quarta-feira, 27 de julho de 2016

Os defeitos da Vila Olímpica retratam o Brasil!

Flávio Azevedo
Depois dos australianos, agora, é a vez dos espanhóis detonarem a estrutura da Vila Olímpica que receberá os atletas que participarão dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O diário Marca, da Espanha, abriu sua manchete da última terça-feira (26/07), dizendo que “procura-se um encanador” na Vila Olímpica. A piada acontece por conta dos problemas percebidos nos dois primeiros dias de ocupação: entupimentos, vazamentos e até problemas nas fechaduras. Duas médicas espanholas afirmaram ao GloboEsporte.com que não foram poucos os problemas encontrados.

A declaração de uma delas chamou minha atenção. “É triste! Por fora a Vila parece toda pronta, mas na verdade por dentro faltam muitas coisas. Os principais problemas são vazamentos nos banheiros, entupimento nos vasos, e problemas de trancas nas fechaduras”. Se pensarmos nessa declaração, nós concluiremos que a Vila Olímpica é um retrato fiel do Brasil. Como dizia a antipática, mas perspicaz Odete Roitman, uma das vilãs da novela Vale Tudo (1988/1989), o Brasil é muito bonito visto de fora. Os mais lindos cartões postais são aqueles que mostram as paisagens brasileiras.

O Rio de Janeiro, por exemplo, de longe, é a cidade mais linda do mundo. Quem desenhou a “Cidade Maravilhosa” certamente estava de bom humor, porque o Rio é uma pintura. E assim é o Brasil! Olhado de fora parece pronto, mas por dentro faltam detalhes importantíssimos. Se na Vila Olímpica a queixa é de vazamentos, entupimentos e trancas emperradas ou que não fecham, o Brasil tem exatamente esses problemas. Em minha modesta opinião, os defeitos da vila dos atletas expõem a nossa “brasilidade”.

Os vazamentos internos no Brasil não são poucos. A Operação Lava Jato, por exemplo, já deve ter perdido a conta de quanto dinheiro público vazou das estatais e dos bancos públicos nos últimos anos. O problema é que o “veda junta” que poderia acabar com o vazamento provocado pela corrupção é um produto importado e desconhecido no Brasil, uma vez que essee “veda junta” é feito de elementos como respeito, honestidade, ética e bom senso, coisas desconhecidas pela maior parte da sociedade brasileira.

Os entupimentos percebidos na Vila Olímpica também retratam o brasileiro. A falta de Educação provoca uma obstrução que não permite o Brasil ir para trás ou para frente. Com os canos entupidos, a água velha, suja e barrenta (antigas práticas) não sai. Por outro lado, a água nova (as novas práticas) também não chega. Num organismo vivo, uma obstrução provoca danos irreversíveis. Numa construção ou na sociedade não é diferente. Lavar não é possível, porque a água limpa se mistura a água fétida e suja que não flui, porque os dutos estão obstruídos pelo egoísmo, pela desfaçatez e pelo hábito de pegar o que é do outro. 

O último problema reclamado na vila dos atletas são as trancas. Ou elas estão emperradas ou não trancam. Esse defeito é uma representatividade interessante do Brasil. Na Justiça, por exemplo, é nítido esse fenômeno. Quando se trata do rico, do poderoso ou do influente, a tranca não funciona. Se você pretende trancafiar um picareta engravatado esqueça, porque a tranca irá funcionar. Todavia, se a clientela é pobre, sem poder, representatividade ou influência; a fechadura emperra no egoísmo, na desfaçatez, no hábito de pegar o que é do outro e/ou porque protegemos os picaretas. Sendo assim, não há como não entender a Vila Olímpica como um retrato fiel do Brasil. Tomara que consertem a vila dos atletas e o nosso Brasil!

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