segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A síndrome do colchonete

Flávio Azevedo
Nessa quinta-feira (28/01) eu visitei uma casa que foi invadida pela água. Quando eu cheguei, a família já atuava com diligência e empenho na limpeza. Do outro lado, um homem que já perdeu as contas de quantas vezes teve prejuízo com os alagamentos também tentava limpar o que a água não destruiu. Alguém me perguntou por uma pessoa importante da cidade, eu respondi que ele esperasse, porque ela apareceria para oferecer um colchonete.

Não demorou muito e uma campanha muito bacana para ajudar às pessoas que tiveram prejuízos, por conta da chuva, começou a circular nas mídias sociais. Todavia, eu começo a ver alguns usando essa campanha para desqualificar as cobranças de atitudes, por parte do poder público e da população, que amenizem essas repetitivas perdas que ocorrem por conta dos fenômenos naturais.

Convém lembrar que a chuva é um fenômeno natural, o alagamento não. A chuva é um fenômeno natural, o entupimento do bueiro não. A chuva é um fenômeno natural, os lixos jogados em encostas não. A chuva é um fenômeno natural, o não recolhimento do entulho não. A chuva é um fenômeno natural, os desmatamentos não. A chuva é um fenômeno natural, a falta de fiscalização não. A chuva é um fenômeno natural, a inércia e omissão dos que governam não. A chuva é um fenômeno natural, o óleo e rejeitos jogam in natura nos rios e valões, não. 

Nos países desenvolvidos, os problemas são encarados, as mazelas são assumidas e soluções são estudadas, propostas e colocadas em prática. No Brasil, porém, onde também se estuda e se propõe soluções para inúmeros problemas, basta distribuir colchonetes e sopão para atingidos por toda e qualquer calamidade. O pior é ver muita gente acreditando que novos alagamentos serão impedidos porque colchonetes e sopão foram distribuídos.


Pelo amor de Deus! Vamos socorrer os nossos irmãos que tiveram perdas materiais, mas sem abrir mão de solucionar as causas dessas perdas! Em 2008, quem estava no governo, distribui colchonete e achou que estava bacana. Quem estava fora criticou. Hoje, quem está governando segue distribuindo colchonete e quem estava dentro critica. Enquanto estivermos concentrados no colchonete, as políticas públicas nessa direção não serão estudadas, propostas e, sobretudo, postas em prática.

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