segunda-feira, 16 de novembro de 2015

“A religião é o ópio do povo”!

Flávio Azevedo 
As tragédias de Mariana-MG e da França nos deixaram estupefatos, pasmos, boquiabertos com a capacidade que o ser humano tem destruir, inclusive, o semelhante. A tragédia brasileira se sustenta no tripé, corrupção, irresponsabilidade e interesses econômicos dos envolvidos, inclusive, as vítimas. Já a tragédia francesa, o tripé repete corrupção e irresponsabilidade, mas substitui interesses econômicos por fanatismo. Mundo a fora as explicações são muitas, mas nenhuma delas dá alento.

O volume de gente recomendando que nós estejamos rezando e orando é grande, o que me obriga a ser polêmico novamente em relação a religião. Eu analisei os muitos pedidos de oração e descobri que as pessoas não sabem o que é religião. As igrejas e a fé se tornaram uma muleta, sobretudo para o frouxo que não deseja se posicionar, opinar e, sobretudo, trabalhar. O sujeito diz “vamos orar” simplesmente para jogar sobre Deus a responsabilidade de consertar erros que são nossos. E detalhe: se os problemas persistem é porque “Deus quis assim”, mas “se Deus quiser” vai melhorar. Penso que nós estamos nos esquecendo do adagio popular “Deus ajuda quem trabalha”.

É atribuída a Karl Marx, a afirmação de que “a religião é o ópio do povo”. E eu sou obrigado a concordar, porque estamos esperando Deus resolver os nossos problemas. E não é assim que a banda toca! Deus deseja ajudar, mas Ele quer ver o interesse e a participação das pessoas. Todavia, nós somos preguiçosos, coisa que não agrada a Deus.

Para comprovar o que digo, eu gostaria de dissecar a palavra “ORAÇÃO”, que pode ser dividida em “ORA” e “AÇÃO”. A verdade é que o sujeito pode ORAR o quanto quiser, mas sem AÇÃO nada muda. O próprio Jesus aconselhou: “VIGIAI E ORAI”! Eu tenho visto muita gente “ORANDO” e pouca gente “AGINDO”. Precisamos “AGIR” e uma das formas de fazer isso é nos organizando em partidos, conselhos, associações, sindicatos, fóruns, organizações, grêmios e até em igrejas, mas sem essa de transferir as nossas responsabilidades para Deus.

A principal estratégia de uma organização é o envolvimento. Uma organização precisa dar foco, traçar objetivos, sobretudo em relação aos jovens, que estão sem rumo e sem norte. As pessoas querem experimentar o PERTENCIMENTO. Entretanto, somente o crime organizado e os terroristas têm essa estratégia. E quando transferimos para Deus a responsabilidade que é nossa, a sensação de pertencimento desaparece e a pessoa fica sem objetivos e isso leva ao desânimo.

ORAR com AÇÃO faz a pessoa manter a fé sem se anular. A lógica é fazer o que diz a letra daquela conhecida canção: “segura na mão de Deus e vai”. O religioso não tem que ser um parasita, um menino mimado. A verdadeira religião precisa permitir o envolvimento, o engajamento, a participação, porque isso gera a sensação de pertencimento.

Na França, os excluídos que vivem na periferia de Paris buscam um sentido para as suas vidas. Eles se encantaram quando alguém disse que eles foram escolhidos por Alah. O islã permite que o seu seguidor participe, porque ele sabe que todos querem pertencer. Concluo destacando que as organizações de paz e do bem, entre elas as igrejas, precisam praticar essa receita, porque até aqui a regra está baseada no “se Deus quiser”, ou no tradicional “Deus quis assim”, pensamentos que são frontalmente contrários ao bíblico “Deus ajuda quem trabalha”.

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