quarta-feira, 8 de julho de 2015

‘Verdades Secretas’ expõe verdades da sociedade brasileira

Flávio Azevedo 
Personagens da trama, Alex é o pai desatento da espevitada Giovana.
A novela Verdades Secretas, apesar de toda crítica que recebe por conta das suas cenas de sexo e nudez, na última segunda-feira (06/07) promoveu uma reflexão à sociedade brasileira, que anestesiada com o sensacionalismo da cena em que, sem saber, pai e filha se encontram num quarto de hotel para um ‘programa’. A filha não sabia que o pai tem fetiche por “novinhas”, pagando quantias vultosas para fazer programas com elas; e o pai não sabia que a filha, iniciante na carreira de modelo, está se prostituindo através do 'book rosa', mecanismo que ele mesmo está cansado de contratar.

Ambos ficam chocados com o encontro e o pai, interprertado pelo ator, Rodrigo Lombardi, fica desesperado com a ‘verdade secreta’ que acaba de descobrir. A cena é bem típica de todo pai que não percebe que os filhos cresceram, sejam eles meninos ou meninas. Mas não foi essa cena que chamou a minha atenção. O que entendi como muito significativo e uma lição para todos nós foi o dialogo do pai com a terapeuta, profissional que ele procura para desabafar e buscar ajuda. A profissional dá sugestões e faz ponderações que devem ser compartilhadas a exaustão.


"Acho melhor você e a mãe dela serem menos omissos... Tentarem se relacionar de verdade, participar mais da vida da sua filha". O pai já havia dado um castigo na filha, porque ele descobriu que ela estava fumando maconha. Sobre esse assunto, a especialista pergunta “ela deixou de fumar? Vocês conversaram sobre isso? Você sabe como ela fumava, com quem, quanto, quando?”... Nitidamente percebe-se que o pai teve a iniciativa de castigar a filha pelo delito, mas não abraçou a jovem.
Preocupado com o comportamento da filha, o empresário procura ajuda de uma terapeuta e ouve verdades que geralmente chocam os pais da seja ficção ou na vida real.
A terapeuta sugere que o pai apoie o sonho de ser modelo da filha e ele diz que deseja proibir. Ela dá uma dica importante que pode ser estendida a todo pai. “Incentive a carreira dela, porque a questão não é você... O que você quer... Tente ser pai, dono da sua filha você não vai ser jamais”. No fim do diálogo, a terapeuta dá outra dica importante para o pai fictício que cabe como uma luva para os pais da vida real: “conviva com ela, converse, se interesse por ela, descubra quem é a sua filha, tente ser amigo... E aí vocês vão parar de guerrear e ambos lucrarão com isso”.

Nesse caso especificamente, terapeuta e pai discutem a escolha da jovem em se prostituir e o que fazer diante dessa iniciativa. A novela, querendo ou não, retrata a realidade da sociedade e aborda o leque de escolhas equivocadas dos nossos jovens, que quase sempre são motivadas pelo distanciamento, por vezes involuntário, dos pais. Está claro que os jovens que enveredam pelo caminho das drogas, da criminalidade e de outras práticas erradas precisam de ajuda, pulso firme e também de afago e carinho.


Enquanto a grande mídia explora, o sensacionalismo que envolve a questão do ‘book rosa’, onde a modelo em inicio de carreira escolhe se prostituir para aumentar o seu orçamento, eu prefiro explorar o trecho da trama que expõe uma verdade nada secreta da sociedade brasileira: o distanciamento dos pais na formação dos filhos. Creio que essa é uma reflexão que nós precisamos abordar despidos de preconceitos, discriminações e tabus que envolvem o assunto. Concluo afirmando que a sociedade tem jeito, basta querer e perceber que existem verdades que devem o quanto antes sair do armário.

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