segunda-feira, 6 de julho de 2015

Alegoria da campanha eleitoral

Flávio Azevedo
Ouvi uma figura da política contando uma “historinha” interessante sobre a diferença entre o céu e o inferno. A moral da história é que por terem o cotovelo ao contrário, seja no céu ou no inferno, para se alimentar as pessoas precisam colocar a comida na boca do outro. No céu isso acontece, no inferno não. Essa “historinha” me fez lembrar uma alegoria que também envolve céu, inferno e política. Eis a narrativa:

Um político foi atropelado e morreu. Na porta do paraíso, ele dá de cara com São Pedro.
– Bem vindo – cumprimenta São Pedro.
– Antes que você entre, há um probleminha. Como raramente os políticos aparecem por aqui, não sabemos o que fazer com você.
– Não vejo problema, é só me deixar entrar – diz o falecido.
– Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores. Vamos fazer o seguinte: você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Depois dessas experiências você pode escolher onde quer passar a eternidade – frisa São Pedro.
– Não precisa, já resolvi. Eu quero ficar no Paraíso – diz o político.
– Desculpe, mas temos as nossas regras – definiu o pescador.

São Pedro acompanhou o político até o elevador e ele desceu até o Inferno. A porta se abre e ele se vê no meio de um lindo campo de golfe. Ao fundo, num clube, todos os seus amigos e outros políticos com os quais havia trabalhado estavam felizes e contentes. Ele é cumprimentado, abraçado e começam a falar sobre os ‘bons e velhos tempos’. Jogam uma partida de golfe, comem lagosta, caviar, tudo num luxo só. Também está presente o Diabo, um cara muito amigável, muito simpático, solícito, que nada tem de “príncipe das trevas”. Satanás passa o tempo todo dançando e contando piadas. “Um excelente anfitrião”, conclui o político. O grupo se divertiu tanto, que antes que ele perceba, já é hora de ir embora.

O político retorna até São Pedro, que está esperando por ele para apresenta-lo ao Paraíso. Na imaginação do político, “se o inferno é tão agradável, imagine o paraíso!”. Ele passa 24 horas junto a um grupo de almas felizes que andam de nuvem em nuvem, tocando harpas, cantam e antes que perceba o dia termina e ele retorna a São Pedro.
– E aí? Você passou um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Agora já pode escolher a sua casa eterna – disse São Pedro.
O político pensa um pouco e muito desconcertado responde que nunca imaginou que faria tal escolha, “mas embora o Paraíso seja um lugar muito bom, eu acho que vou ficar melhor no Inferno”.

Sem questionar, São Pedro leva o decidido político de volta ao elevador e em poucos segundos ele chega ao Inferno. A porta abre e ele se vê num enorme terreno baldio cheio de lixo. Percebe que os seus amigos continuam por lá, mas estão todos vestidos com andrajos, maltrapilhos, trajam roupas rasgadas, sujas e buscam alimento no lixo. O odor do local é insuportável. Com os olhos lacrimejando por conta do forte cheiro enxofre, ele percebe que alguém coloca o braço sobre os seus ombros e diz um cínico “seja bem vindo!”. É o Diabo, que nitidamente não é aquele sujeito simpático e solícito que de antes.
– Não estou entendendo... Ontem eu estive aqui... Havia um campo de golfe, um clube, conforto, alegria, as pessoas comiam lagosta, caviar... Nós dançamos, nos divertimos... Agora o que vejo é esse inferno! Não consigo acreditar... O que aconteceu? – questiona o político em flagrante desespero.

O diabo olha fixamente para ele, sorri e com um ar de ironia, cinismo e desdém dá a seguinte resposta: “ontem estávamos em campanha. Agora, que já conseguimos o seu voto, o seu apoio e você faz parte do nosso grupo, você já pode conhecer a realidade!”.

Fonte: adaptação

Um comentário:

  1. Será que é assim mesmo? Hum e nossos políticos, onde preferem ficar eternamente?Hum?

    ResponderExcluir