terça-feira, 21 de abril de 2015

Prefeitura de Rio Bonito x Hospital Darcy Vargas: onde está a razão?

Flávio Azevedo 
Vamos falar sobre a enfadonha queda de braço entre Prefeitura de Rio Bonito e Hospital Darcy Vargas. Tem dívida ou não? A Prefeitura em nota oficial reconhece que existe dívida, mas afirma que ela não é de R$ 4 milhões, conforme diz o Hospital. Para o município, a dívida é de R$ 1,3 milhão e nada mais. Todavia, se somarmos a esse valor a outros débitos, nós veremos as cifras se aproximarem dos R$ 4 milhões. Vou provar:

Repasse federal de março: R$ 1,3 milhão.
PAHI referente há 10 meses: R$ 1 milhão.
Recurso próprio para o custeio do Pronto Socorro, referente aos meses de fevereiro e março: 800 mil.

Essas três dívidas representam R$ 3,1 milhões. Junte pingadinhos de serviços prestados na área de Ortopedia, Oncologia, entre outras; e os valores certamente chegarão aos R$ 4 milhões.

Por outro lado, é claro que o hospital precisa ser descontado conforme contrato, porque não atinge metas contratadas de determinados serviços, não consegue manter completa, a escala de médicos na Emergência etc.

Entretanto, o CTI, segundo conversas que acompanhamos nas reuniões do Conselho Municipal de Saúde, dá prejuízo. E dá prejuízo, por quê? Porque as internações sempre ultrapassam o teto, que é de 140 por mês. E essa diferença, cerca de 50 internações a mais, o hospital não recebe... Mas existiu um paciente e ele consumiu insumos, medicamentos, materiais, exames... E quem paga essa conta?

Outro gargalo importante é a Unidade Intermediária, que funciona como um CTI, porque recebe pacientes com a mesma gravidade de um Centro de Terapia Intensiva. Acontece que esse setor que recebe pacientes de alta complexidade é faturado como uma enfermaria comum. Ou seja, o gasto com insumos, exames, medicamentos e materiais é o mesmo do CTI. Segundo a direção do Hospital, esse prejuízo é da ordem de R$ 70 mil mensais. E quem paga essa conta?

No setor de Maternidade, por exemplo, acontece algo similar, porque o número de partos supera o teto previsto para o HRDV. Mas os partos não faturados existiram e essas mães com os seus recém-natos receberam cuidados, medicamentos, insumos... Com eles foram gastos materiais, exames... E quem paga essa conta, que é da ordem de R$ 50 mil por mês?

Não está passando da hora da Prefeitura se organizar politicamente para que o hospital seja pleno em seu atendimento a população e não fique perdendo receita? Não seria a hora de telefonar para os parceiros de Rio Bonito cobrando ações nessa direção, uma vez que essas contratualizações são feitas em esfera estadual e federal? Temos, porém, um problema: existe interesse? Existe vontade política?

Mas a direção do HRDV também precisa nos dar explicações. Por exemplo:

*O arrombamento no setor administrativo, meses atrás, não foi bem esclarecido e ainda gera desconfiança da população. Afinal, o que aconteceu?

*A demissão de funcionários que estariam aproveitando de suas funções de confiança para cometer ilícitos, também não foi devidamente esclarecida, sobretudo as medidas tomadas para se reaver importâncias supostamente subtraídas. E aí?

*A postura da direção da unidade no trato com funcionários que reclamaram os seus direitos (salários atrasados, por exemplo). Muitos acabaram sendo demitidos sumariamente, numa atitude ainda reclamada por vários segmentos;

*A sobrecarga do médico plantonista da emergência, que acaba tendo que atender internos; as ocorrências de pacientes do setor particular; e/ou cobrir faltas de colegas de plantão; situações que seriam as razões para as muitas demissões. Vale lembrar que a Prefeitura paga para esse profissional atender a emergência e não o doente internado. Para o interno, o hospital tem que ter outra equipe, uma exigência que nunca foi cumprida;

*O caso do médico plantonista que durante o seu expediente deixa o plantão para realizar cirurgias e os ditos pequenos procedimentos, o que não é permitido porque ele está de plantão... Mas muitos desses procedimentos acabam passando batido, porque geralmente são pedidos políticos;

A verdade é que Hospital e Prefeitura têm respostas a dar a população, mas eles externam apenas os seus desentendimentos, porque determinados pontos que deveriam ser corrigidos, por ser vantajoso para ambos, acabam sendo tolerados e permitidos.

Então amigo, diante da clássica pergunta “quem tem razão na briga entre prefeitura e hospital?”. Eu confesso que vai depender do viés de quem está perguntando ou respondendo. Vejo culpa e razão em ambas as partes. Penso, porém, que os reais problemas e desafios da direção do hospital e dos representantes da Prefeitura não estão sendo discutidos e a sociedade e a mídia não percebem isso.

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