quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Intolerância religiosa em Rio Bonito

Flávio Azevedo 
A imagem de Nossa Senhora da Conceição, na Praça Fonseca Portela, colocada sobre o monumento de reinauguração da Praça, tem gerado descontentamento entre setores do meio evangélico. 
O Facebook nos permite abordar assuntos muito interessantes. Um deles surgiu depois de uma postagem onde apresentamos ou reapresentamos as belezas de Rio Bonito e os pontos de destaque do município. No último dia 30/12, nós postamos uma foto que fizemos em 2010, da Praça Fonseca Portela e da Igreja Matriz Nossa da Conceição, signos que sempre representaram Rio Bonito. A postagem, porém, ganhou um comentário que acreditamos ser merecedor de uma profunda reflexão. A pessoa critica a presença da imagem de Nossa Senhora da Conceição que foi colocada na praça, em frente a Igreja Matriz.

O comentário nos permite abordar uma coisa feia que existe em nosso país há muitos anos. Pena que em Rio Bonito não é diferente: estamos falando de “intolerância religiosa” (é claro que existem exceções). Aliás, há décadas isso é uma realidade em ambos os credos. Penso, inclusive, que os espíritas são as principais vítimas da intolerância e do desrespeito a “liberdade religiosa e de culto”, um direito constitucional.

Um fato histórico

Para provar a longevidade da intolerância religiosa em Rio Bonito, vamos destacar uma história que ouvi várias vezes do meu avô, o saudoso Joaquim Azevedo, que contava ter havido, segundo ele, pelos idos de 1914, no Centro da cidade, uma batalha campal entre batistas e católicos. Tudo começou porque durante uma comemoração católica, os batistas organizaram um culto numa praça que existia na entrada da atual Rua da Conceição. Tudo correu bem até o momento em que a procissão passou pela tal praça.

Segundo o meu avô, “alguém disse uma bobagem pra lá, outra bobagem foi dita para cá e o pau comeu”. A Igreja Batista funcionava no sertão da Serra do Sambê, para onde se dirigiu a polícia. O resumo da história é que teve gente detida, interrogatórios, mas pouco se fala sobre isso, porque como diz o adágio popular, “filho feio não tem pai”, sem falar que em cidade pequena todo mundo é parente e o tal do “pano quente come solto”. Mas isso é fato, inclusive, presenciado pelo vovô, que era membro da referida igreja evangélica.

Voltando aos nossos dias

A verdade é que não é pouco o número de evangélicos contrários a imagem de Nossa Senhora da Conceição na Praça Fonseca Portela. A impressão que temos é que alguns desconhecem que essa postura é arbitrária e pode ser entendida como crime, já que no Brasil, a liberdade religiosa e de culto é um direito constitucional. Contribui para isso, o fato de que em todos os credos nós temos pessoas que repetem o discurso dos seus líderes religiosos sem nenhum ‘desconfiômetro’, simplesmente porque enxergam o tal líder como uma divindade, logo, o que ele fala é Lei.

Sobre manifestações religiosas, não foram poucos os cultos evangélicos que ocorreram na Praça Fonseca Portela, em outros pontos públicos (de inúmeras igrejas evangélicas) e nunca ouvimos uma reclamação dos católicos. Vale destacar que as procissões sempre percorrem as principais ruas da nossa cidade... E qual o problema? Destacamos ainda que aos sábados existe, na Praça da Bandeira, junto a Feira Livre e ao Mercado Municipal, um culto da Igreja Assembleia de Deus. E, sinceramente, desconhecemos qualquer tipo de oposição a este programa e, se há nós também poderíamos classificar como “intolerância religiosa”.

Aliás, “porque outras denominações, inclusive a Católica, não fazem a mesma coisa em outras praças e logradouros públicos?”. A verdade é que, hoje, os crentes (evangélicos e católicos) vivem trancafiados dentro de quatro paredes (igreja)... É crente pregando para crente... Talvez seja por isso que alguns estejam perdendo tempo criticando a imagem de Nossa Senhora, na Praça.

Esquecem que Jesus Cristo deu, aos cristãos, a seguinte missão: “ide por todo mundo, pregai o Evangelho a toda criatura” (S. Marcos 16.15). Mas essa pregação não consiste em criticar os signos religiosos de outra denominação. Seria muito bom se nós fossemos mais tolerantes em todos os setores da nossa vida.

Religião e Política

Também foi comentado na nossa postagem, que as lideranças evangélicas que apoiaram a atual administração não estariam satisfeitas com a imagem exposta na Praça. Essa é outra questão que merece uma profunda reflexão, já que sempre se soube que misturar religião e política é um perigo. O próprio catolicismo fez essa junção na Idade Média e por conta disse cometeu atrocidades que séculos depois forçaram o Papa João Paulo II pedir perdão ao mundo por erros do passado.

Apesar desse claro exemplo, os líderes evangélicos a cada eleição entram perigosamente na política. Não estamos falando daqueles que decidem disputar um cargo eletivo, mas da nítida prostituição que se percebe quando determinados líderes vendem (como se isso fosse possível) os votos dos seus membros em troca de reforma do templo, aquisição de aparelhagem de som, instrumentos musicais, móveis para o templo e até vultosas quantias financeiras.

Fica muito nítido que esses personagens (graça a Deus não são todos), estão enquadrados no que S. Paulo classifica como “mercadores da fé”. É claro que o líder religioso, que também é cidadão, deve conhecer as propostas de cada candidato, mas se prevalecer do volume de fieis da sua igreja para negociar apoio é um absurdo que vem se repetindo ano após ano.

Conselho de um líder

Sobre como deve agir um líder religioso, o apóstolo S. Paulo escreveu. “Se alguém deseja ser líder religioso, excelente obra deseja. Convém, porém, que ele seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não pode ser aprendiz, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho (não cause escândalos) dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo”. (1º Timóteo, capítulo 3, versos 1 a 7).

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