sexta-feira, 31 de maio de 2013

Um copo de água fria

Durante uma longa viagem em estrada de ferro, estava eu há algum tempo, num dia de extenuante calor, em companhia dum oficial de cavalaria que tinha tomado parte em alguns combates na grande guerra. Contou-nos alguns episódios, mas nenhum me impressionou tanto como o que se segue:

– Foi, disse ele, no dia seguinte a uma vitória custosamente ganha com esforços e cansaço extraordinários. Tinham-me encarregado de levar uma ordem importante à retaguarda, quando, no momento de partir, o meu cavalo, estafado, recusou marchar. O animal mancava e não podia caminhar. Sem demora, eu fui buscar outro. Este era tão bravo e manhoso, que alguns minutos se passaram antes que me tivesse sido possível montá-lo e sujeitá-lo à obediência. Empinava, escoiceava e quando eu estava quase a vencê-lo, estacava ao menor obstáculo e continuava com os seus pinotes.

Entretanto, era preciso apressar-me, A mensagem de que eu era portador não admitia nenhuma demora e a estrada, obstruída com tropas e materiais, dificultava ainda mais a minha viagem. Era meio-dia e estava apenas no meio do caminho. O ar estava pesado e abafadiço. Nuvens de pó secavam-me a garganta. Estava esfalfado e o meu cantil estava vazio. Sentia-me desfalecer. Numa volta do caminho descobri uma fonte abundante, junto da qual alguns soldados descansavam e enchiam os seus cantis.

Desejava descer para fazer o mesmo, mas o cavalo, como que pressentindo a minha intenção, deu pinotes tão furiosos, que tive de renunciar à minha tentativa para não excitar os risos grosseiros do acampamento. Aborrecido com este contratempo, desatei o meu cantil e, dirigindo-me a um dos soldados, o único que parecia não se rir do meu infortúnio, pedi que me desse o enchesse. Era de mau aspecto, de sobrecenho carregado, mas ainda assim estava eu longe de esperar resposta tão cruel:
– Encha-o você! Diante destas palavras, a minha cólera não teve limites.
– Desgraçado! – gritei-lhe; – Tomara que um dia eu o encontre a morrer de sede e a pedir um copo de água fria, para eu ter também o prazer de lhe recusar!

Em seguida, dei de esporas ao cavalo e parti numa corrida desenfreada, sem fazer caso dos convites dos outros soldados, que me gritavam que voltasse. Uma légua depois, um rapazinho, compadecido, deu-me água, a mim e ao meu cavalo. Em troca dei-lhe um punhado de dinheiro, mas comparando a prontidão que ele teve em me servir com a conduta dos meus companheiros de armas eu senti como que uma onda de ódio a revolver-se dentro de mim. O rosto daquele soldado ficou gravado em traços indeléveis na minha imaginação e jurei procurá-lo – Deus me perdoe! – Até para vingar-me.

Durante dois anos, nos campos de batalha, entre os moribundos, continuei sem resultado esta busca ímpia. Enfim, chegou o dia. Em resultado de alguns ferimentos, eu fui levado para um hospital de guerra. Não estando ainda em estado de retomar o meu serviço, eu empregava o tempo a cuidar dos que estavam mais feridos que eu.

Nunca me senti tão compadecido para com os pobres soldados como no meio destas cenas de dor e de sofrimento, das quais os campos de batalha não dão ideia nenhuma. Tinha verdadeiro prazer em aliviar-lhes as dores e alegrá-los. No meio destas novas ocupações, esqueci o meu “inimigo”. Era assim que eu chamava ainda aquele que me tinha recusado o copo d'água fria.

Depois duma grande batalha, muitos feridos vieram para o nosso hospital. Todas as salas ficaram repletas. O calor era medonho e os doentes sofriam cruelmente de sede e da atmosfera abrasadora da sala. De todas as camas gritavam: Água! Água! Água! Peguei num copo e num balde d'água gelada e fui de fileira em fileira, distribuindo o líquido precioso a todos os que o pediam. Só o cair da água no copo já lhes fazia brilhar a alegria nos olhos abrasados pela febre.

Quando eu andava pelo meio das coxias, entre as camas, um homem deitado do outro lado da sala levantou-se de repente, gritando:
– Água! Água! Pelo amor de Deus!

Fiquei horrorizado. Tudo o que me cercava desapareceu aos meus olhos e não via senão a ele. Era o que me tinha recusado um copo de água fria! Aproximei-me, mas não me reconheceu. Caiu exausto sobre o travesseiro, com o rosto voltado para a parede. Então senti uma pressão na alma... Ouvi uma voz dentro de mim a dizer distintamente:
– Faze-lhe ouvir o barulho da água... Passa e torna a passar diante dele... Dê a todos os que o cercam e não a ele. Vinga-te!

Mas ao mesmo tempo ouvi o murmúrio doutra voz. Uns dizem que era a voz da minha consciência... Outros a de Deus... E outros ainda o resultado das lições de minha mãe. Fosse qual fosse, esta voz dizia:
– Meu amigo... Hoje é o dia propício e a hora de pagar o mal com o bem, de perdoar, como Jesus te perdoou. Vai e dá de beber ao teu inimigo.

Um movimento involuntário me arrastou para a sua cama. Amparei-lhe a cabeça com o braço e aproximei o copo dos seus lábios febris. Oh! Como bebeu! Nunca esquecerei sua expressão de alívio e o olhar que me lançou, sem pronunciar palavra. Vi que estava profundamente comovido. O pobre teve de sofrer amputação de uma perna e pedi ao médico autorização para o tomar sob os meus cuidados.

Tratava-o dia e noite. Durante muito tempo conservou o mesmo silêncio, até que um dia, quando me afastava de sua cama, agarrou-me pelo paletó e, puxando-me para bem junto de si, disse-me em voz baixa:
– Lembra-se você do dia em que me pediu de beber?
– Sim, camarada; mas o que lá vai, lá vai. Isso acabou.
– Para mim não, continuou. Não sei o que tinha naquele dia. O capitão acabara de me repreender... Tinha febre, estava encolerizado. Em instantes eu estava envergonhado, mas era tarde demais. Há dois anos que o procuro para lhe pedir perdão. Quando reconheci aqui, lembrei-me do que me tinha dito e tive medo. Diga-me: Você me perdoa?

Eu tinha-o procurado dois anos para me vingar... Ele me procurou para se humilhar e me pedir perdão. Qual dos dois tinha seguido melhor o espírito de Cristo? Certa confusão se apoderou de mim.
– Camarada, disse-lhe eu depois de uma pausa – você é muito melhor que eu. Não falemos mais nisso!

Eu estava presente quando lhe fizeram a amputação. Já o amava como a um irmão. Ele sabia que ia morrer, mas antes me confiou alguns objetos para mandar a sua irmã, juntamente com uma carta que me ditou. Perguntou-me se não haveria na Bíblia uma passagem que tratasse dum copo de água.
– Peço a você, disse-lhe eu, que não torne a falar nisso. Mas ele continuou:
– Você não sabe, meu fiel amigo, o bem que fez em não me recusar o copo de água.

Naquela noite a febre do doente aumentou e por vezes parecia delirar. Contudo percebia-se que a sua confiança em Jesus Cristo era completa. Tinha a certeza de estar salvo. Assim o mostrava nas suas orações. Pela madrugada, mexeu-se, acomodou a cabeça no travesseiro, e fechou os olhos para os não abrir mais neste mundo. Tinha adormecido para só acordar na eternidade.

Ao vê-lo morrer assim, tranquilo e consolado, que grande prazer senti em ter-lhe dado de beber... Em ter pagado mal com o bem! Lembrei-me então destas palavras de Jesus: “Todo o que der a beber a um daqueles pequeninos um copo de água fria, não perderá a sua recompensa”.

Fonte: livro Pérolas Esparsas

O guarda florestal e o chefe dos ladrões

Houve, anos atrás, um guarda-florestal chamado Grimez. Ele habitava em solitário retiro nas florestas montanhosas da Prússia. Sua família era composta da mulher, sua velha mãe e uma filha de aproximadamente doze anos. As senhoras eram cristãs devotas, mas ele era incrédulo. Não acreditava em Deus e zombava muitas vezes das orações de sua mulher, que ele dizia serem produto de uma “louca confiança em Deus".

Em uma noite tempestuosa de outono, o vento assobiava através das árvores. O guarda, que saíra de manhã, ainda não voltara. As duas mulheres estavam sentadas ao fogo. Por causa da sua demora, elas estavam já um tanto assustadas. Sabia-se que uma quadrilha de ladrões infestava o bosque, de forma que havia, de fato, perigo. O guarda era funcionário do rei da Prússia e era seu dever guardar a floresta apesar de todos os perigos.

Essa quadrilha, porém, já tinha sido presa, com exceção do chefe, que conseguiu fugir dos esforços do guarda. Agora, o grande perigo era esse chefe, que, irado contra o guarda que lhe destruíra a quadrilha, jurara vingança. E como aquelas mulheres sabiam disso, o temor era justo. Estavam, pois, ansiosas, sem poder falar de outra coisa, até que por fim a senhora mais velha disse:

– Não vale a pena estar assim falando e temer tanto a respeito do chefe de nossa família. Será muito melhor procurar consolo e paz na Palavra de Deus e pedir a proteção do nosso Pai que está no Céu, sem cuja vontade nem um cabelo cai de nossa cabeça – disse.

A mulher foi então buscar a velha Bíblia e leu o Salmo 71, em voz bem alta. As palavras deste Salmo lhes serviram de muito consolo, como a todos aqueles que em circunstâncias idênticas, lançam mão do apoio da Palavra Inspirada. "Em Ti, Senhor, confio; nunca seja eu confundido... Sê Tu minha habitação forte, à qual possa recorrer continuamente... Pois Tu és a minha rocha e a minha fortaleza. Livra-me, ó meu Deus, das mãos do homem injusto e cruel”.

Acabada a leitura do Salmo, leu ela um hino de acordo com as palavras de Davi. Dobraram então os joelhos em fervorosa oração, contando a Deus os seus temores e pedindo a Sua poderosa proteção, em favor delas e do seu amado que se achava em tamanho perigo. Oraram também pelos doentes e pelos pobres do lugar e não se esqueceram de pedir a graça de Deus em favor também dos malfeitores, especialmente daquele que jurara exterminar o chefe daquela família, para que Deus lhe mudasse o coração perverso e o desviasse do mau caminho.

Feito essa oração, desapareceu-lhes do coração, como por encanto, todo o temor e apreensão. Pouco depois ouviam elas os passos do guarda, que se aproximava de casa. Estava são e salvo. Todas ficaram muito satisfeitas e ele não menos, pois que enquanto elas estavam assim em oração, estivera bastante temeroso por elas, para que não sucedesse que em sua ausência, o perigoso ladrão as surpreendesse e matasse.

Antes de se deitarem, a mulher do guarda contou-lhe quão ansiosas tinham ficado em sua ausência, e da oração que tinham feito a Deus para que o guardasse no cumprimento do dever, incólume dos perigos, e para que as guardasse também. Ele sorriu como sempre fazia quando lhe falavam de Deus e disse que sua mulher era “louca, pois que as suas orações não tinham valor algum”. Pela sua parte, preferia confiar nas suas armas infalíveis e em seus cães fiéis. E assim se pôs a examinar as portas e janelas a ver se estavam bem fechadas, carregou a sua arma de fogo e soltou os cães, julgando então que podia dormir tranquilo, sem recear mal algum.

Uma hora depois, quando toda a família dormia, saiu de debaixo de um banco um homem de aparência rude e feroz. Era o temido ladrão. Esse homem havia penetrado na casa às ocultas, ao pôr do Sol, enquanto não havia ninguém em casa, ocultou-se debaixo daquele banco. Ali permaneceu ouvindo tudo o que se disse em relação à sua pessoa. Ele tinha vindo ali, como é de se imaginar, para tomar vingança, matando toda a família quando esta estivesse dormindo. Agora, pois, podia executar o seu plano. Ah! mas havia um empecilho. Ele foi quietinho à mesa e pôs sobe ela a faca afiada que trazia consigo, pegou a Bíblia que a mulher do guarda lera no culto da noite e que ainda estava aberta no Salmo que tinha sido lido.

Aquelas palavras tinham operado sobre ele um efeito prodigioso. Experimentou então lê-lo à fraca luz da Lua, mas não o conseguiu, e fechando o livro, perplexo, ao pé da mesa, não sabia que fazer, por mais que tentasse vencer o seu estado de vacilação. Duas ou três vezes pegou a faca para executar o tremendo desígnio que ali levara, mas punha-a outra vez sobre a mesa. Pensou nas palavras consoladoras do Salmo e temeu cometer o ato. Então, depôs outra vez a faca em cima da mesa e tomou consigo a Bíblia. Abriu de mansinho a janela e saiu silenciosamente, que nem os cães o pressentiram. Pulou depois a cerca e desapareceu na escuridão do bosque.

Quando de manhã o guarda e a família vieram do quarto e encontraram aberta a janela e a faca em cima da mesa, notando também o desaparecimento da Bíblia, ficaram deveras surpresos. A janela aberta era sinal de que alguém estivera em casa; a faca mostrava que o plano dessa pessoa era matar; a falta da Bíblia indicava que esse livro precioso tinha sido, de qualquer forma, o salvador da casa. Toda a casa foi examinada, nada faltando, porém, senão a Bíblia.

Eis aí um mistério que desafiava toda a argúcia para dar-lhe explicação plausível. A mulher do guarda dava larga à sua alegria e gratidão Aquele que os salvara. Até o marido incrédulo não podia negar que nem os cães nem as armas os tinham salvo. E deixou de rir da mulher, pensando que, de fato, alguma coisa profunda existe na religião. Depois daquela noite, não mais se ouviu falar do ladrão temível daquele bosque.

Quando rebentou, logo depois, a guerra entre a Prússia e a França, houve sanguinolentos combates. Entre os que caíram no campo de batalha, estava um capitão prussiano, que não era outro senão o guarda-florestal desta história. Os soldados prussianos, supondo-o morto, abandonaram-no no campo. Um pescador, que cautelosamente vinha passando por perto, ouviu os gemidos do pobre ferido e atracou o seu barco à praia. Achando ali, banhado de sangue, o capitão prussiano, o pescador chamou um companheiro e o transportaram para o barco, conduzindo-o para a outra margem do rio, onde havia grande número de cabanas.

Para uma delas dirigiram os passos em busca de socorro para o ferido. O pescador e sua mulher trataram cuidadosamente do capitão. O bom pescador, julgando que seria conveniente, escreveu à mulher do capitão, convidando-a para vir tomar conta de seu marido e, tendo ela vindo em companhia da filha, alojou-se numa cabana vizinha, cedendo a sua ao capitão com a família, até o seu completo restabelecimento.

Durante a sua enfermidade, o capitão pensou na maravilhosa salvação que Deus operara naquela noite memorável. Pensou também na maneira por que tinha sido tratado até ali dos seus ferimentos. Em tudo isso pôde ver a mão de Deus e começou a orar seriamente, tornando-se cristão.

Depois de restabelecer-se, tratou de preparar-se para voltar para a sua casa, mostrando então desejo de pagar ao pescador toda a sua generosa hospitalidade. Este nada quis aceitar. Contou então ao guarda que a sua dívida em relação a ele era muito menor do que a sua própria. "Sou-lhe devedor," disse, "de um grande tesouro que tirei de sua casa e agora quero devolvê-lo".  Foi então para dentro de sua cabana e trouxe de lá uma Bíblia.

A mulher do guarda reconheceu imediatamente naquela Bíblia, a que tinha desaparecido misteriosamente naquela noite, sem que se pudesse achar uma explicação possível. Ela apertou ao coração o velho livro amado, e o pescador contou a seguinte história. “Vejo que me não reconheceu”, disse ele, fitando o guarda-florestal. “Mas eu sou o ladrão que tanto trabalho deu até que foram apanhados os seus companheiros. Fiquei muito encolerizado contra o senhor e por causa disso jurei vingar-me. Entrei em sua casa uma tarde, ao escurecer, com o propósito deliberado de matar, o senhor e toda a família. Fiquei longo tempo oculto debaixo de um banco, esperando o momento oportuno para realizar o meu intento. Contra a vontade fui forçado a ouvir a leitura do Salmo 71, em voz alta, pela sua senhora. Esse Salmo exerceu uma influência maravilhosa sobre mim.

“Ao orar, essa influência aumentou... Parecia que uma mão invisível me detinha de cometer o ato que intentava. Formou-se em mim o desejo ardente de ler esse livro. Por muitas semanas guardei-o escondido perto de sua casa, no bosque. A Bíblia se me tornou excelente companheiro e com sua leitura pude ver quão grande pecador sou eu e que grande Salvador é Jesus Cristo. O mesmo Salvador que perdoou o ladrão na cruz teve de mim compaixão e me recebeu no Seu reino. Deixei então o teatro das minhas façanhas e encontrei aqui emprego de pescador”.

“Como Deus fez de mim uma nova criatura, desejo viver vida nova e minha mulher está-me ajudando a servir a Deus. Temos tudo o que desejamos em relação a esta vida e a bênção da esperança de uma vida futura. Tudo isso foi feito pela Bíblia que achei em sua casa aquela noite. O senhor, meu caro guarda-florestal, confiou nas suas armas e nos seus cães e eles absolutamente não o puderam guardar. Foi somente a Palavra de Deus que o guardou de embeber eu em seu corpo a lâmina de uma faca. Foi o mesmo Deus que o guardou aquela noite, que o salvou agora nesta guerra. Não me agradeça coisa alguma, mas dê louvores ao Deus misericordioso que por Sua Palavra nos salvou".

Fonte: Pérolas Esparsas

A mentira fatal

Que direção você pretende seguir?
Era inverno. O sol acabava de desaparecer no horizonte e as sombras da noite pairavam sobre a aldeia. Sozinha, numa poltrona antiga, próximo de um lume crepitante, uma senhora de certa idade, cabelos prateados, seguia, distraída, os últimos clarões do dia. Enquanto isso, o seu pensamento se embrenhava em recordações do passado.

De repente abriu-se a porta e ouviram-se passos rápidos.
– Então! Se divertiu, Bertinha? Disse a idosa senhora, pondo a mão afetuosamente nos louros anéis da menina que acabava de entrar.
– Oh!, tia Rute, respondeu esta, e agora venho pedir-lhe que me conte uma de suas lindas histórias.

Berta era filha única. Alguns meses antes perdera a mãe. Agora estava de visita em casa da tia, da qual soubera ganhar a afeição. Mas a tia Rute era muito perspicaz e por isso havia descoberto um grande defeito na sobrinha.

Para sua tristeza, ele percebeu que a criança não tinha escrúpulo nenhum em mentir. Aliás, mesmo descoberta, não corava com as suas mentiras. Ora, se tia Rute tinha horror especial por algum pecado, era por certo pela mentira. Sendo assim, ela resolveu corrigir a menina tanto quanto possível deste defeito. Prometeu fazê-lo nessa mesma noite, com a ajuda do Senhor, mostrando-lhe o perigo de seu pecado.

– Vamos, toma o teu crochê, minha querida, disse-lhe ela, e vem assentar-se ao pé de mim.

A criança obedeceu, e quando ficou bem instalada junto da tia, esta principiou a falar nos seguintes termos:
– Sabes, Berta, hoje eu estou velha, a memória começa a faltar... Mas apesar disso, eu me recordo muito bem duma história que vou te contar.

Na minha juventude, eu andava na escola com uma menina chamada Ana Clara. Ela era terna, amável, sensível, e ao mesmo tempo muito estudiosa. Ela tentou travar amizade comigo, mas eu resisti. Eu não lhe tinha nenhuma amizade pela razão de que ela era minha rival. Não fosse ela, eu seria a primeira na nossa classe. A pobre Aninha não sabia a que atribuir a minha frieza.

Eu, ainda que educada por pais cristãos, esforçava-me muitas vezes por fazer mal à minha companheira. Excitava as outras contra ela, e como ela era muito tímida para se defender, eu triunfava quase sempre. Um dia, na classe, estávamos nós a soletrar a palavra trouxe. Com a sua voz fraca e meiga, Aninha soletrou: t, r, o, u trou, x, e, xe, trouxe. A mestra, não tendo ouvido bem, exclamou: Mal! Adiante.

Mas, voltando atrás de repente, disse-lhe:
– Tu não soletraste: t, r, o, u, c, e? Não senhora, respondeu Aninha, eu disse: x, e, xe. A mestra duvidava ainda, e voltou para mim:
– Rute, como disse a Ana?

Atravessou-me o espírito um pensamento diabólico. Vi-me a primeira na minha classe, deixei-me arrastar pelo mal e pronunciei uma odiosa mentira.

– Ana disse c, e, ce, respondi eu sem hesitar.

A professora voltou-se para ela. Confusa com a minha acusação, a minha companheira baixava a cabeça em silêncio, enquanto um rubor súbito lhe dava toda a aparência duma culpada.
– Ana, disse a senhora severamente, eu não julgava que fosses mentirosa. Vai-te sentar naquele canto, e no fim, das aulas, espera-me.

Eu conseguira o que desejava. Ana caíra em desagrado, e eu fora proclamada primeira; mas não era feliz. Quando terminou a aula, eu fiz que tinha perdido alguma coisa e fiquei na sala. E ouvi a voz da mestra:
– Ana, vem cá.
Ouvi então o passo leve da minha companheira.
– Como pudeste mentir assim? Continuou a mestra.
– Eu não menti, minha senhora, respondeu a meiga criança. Mas o som da voz, o tremor que dela se apossou, parecia, desmentir as suas palavras.
– Dá cá a mão, disse a professora.

É necessário dizer-te, Berta, continuou a Tia Rute, que no meu tempo, as crianças eram mais severamente castigadas do que hoje. Por isso, eu não fiquei surpreendida por ouvir cair na mãozinha da inocente menina as repetidas pancadas da cruel palmatória. Ah! Bem podes olhar para mim com assombro, Berta. Cada pancada ia-me ao coração. Eu, porém, não tinha coragem de declarar a minha falta. Deslizei mansamente sala fora.

Ao voltar para casa, vi Aninha, que caminhava lentamente, e com uma mão segurava os livros enquanto com a outra limpava as lágrimas que lhe corriam das faces. Os seus soluços entrecortados penetravam até ao fundo da minha alma. Ela caminhava assim chorando, quando de repente, batendo com o pé em uma grande pedra, caiu, espalhando-se lhe os livros pelo chão. Eu apanhei-os em silêncio e entreguei-os a ela.

Os seus olhos azuis, úmidos de lágrimas, fixara-se sobre mim, e com uma voz meiga e amável, disse-me ela:
– Obrigada, Rute.

O meu coração pulsava violentamente; mas eu não me atrevi a falar-lhe. Entrei precipitadamente em minha casa. Quando cheguei em casa, pensei que, visto como todos ignoravam a minha falta, eu podia rir e tagarelar como de costume. Mas ai de mim! Isto não me tornava menos pesado o fardo que me oprimia o coração. Eu não tinha necessidade dum acusador humano, pois o olhar de Deus perseguia-me.

Mas quanto mais perturbada me sentia, mais me esforçava por parecer alegre, de tal modo que várias vezes durante o serão fui repreendida pela minha alegria ruidosa, quando eu muito a custo podia conter as lágrimas. Por fim retirei-me para o meu quarto. Não pude orar, bem depressa me deitei e fechei resolutamente os olhos.

Mas dormir era-me impossível! O velho relógio da casa fazia estremecer o meu pobre coração com as sua vibrações prolongadas, e quando soou meia-noite, pareceu-me ouvir dobrar os finados. Voltei-me, tornei-me a voltar sobre o travesseiro, mas parecia-me duro como pedra.

Aqueles belos olhos azuis inundados de lagrimas, estavam constantemente diante de mim e os meus ouvidos não cessavam de ouvir as pancadas repetidas da cruel palmatória... Enfim, incapaz de permanecer mais tempo neste estado, saltei abaixo do leito e fui-me assentar ao pé da janela. Tudo tinha um aspecto triste e sinistro, que me gelou. As árvores erguiam-se sombrias e imóveis, e pareciam-me duma altura desmedida. Nada havia, até nas grades brancas e nas aléias ensaibradas, que não me parecesse ter alguma coisa estranha.

De novo me dirigi para o meu leito e via a colcha branca que minha mãe me tinha dado no dia de ano novo, alguns meses antes de morrer. No mesmo instante veio-me à memória uma infinidade de pensamentos. Recordei-me daquela última súplica que minha mãe fizera em meu favor: “Ó Senhor! Desperta na minha querida Rute a sinceridade e a sabedora que vêm do alto!”. Esta recordação compungiu-me. Em vão tentei expulsá-la da memória. Ela me perseguia incessantemente. Desfiz-me em lágrimas, mas as lágrimas não me deram a paz.

Cada vez mais agitada, tomei por fim o partido de ir para o quarto de meu pai e, lançando-me sobre o seu leito, exclamei soluçando: Papai! ó papai...! Não pude dizer mais nada. Meu pai tomou-me nos braços, encostou-me a cabeça ao seu peito e procurou acalmar-me. Quando em parte o conseguiu, eu confessei-lhe o motivo das minhas lágrimas. Oh! como ele pediu ao Senhor que perdoasse a sua Rutezinha!
– Querido pai, lhe disse eu, quer acompanhar-me agora à casa da pobre Aninha?
– Agora?! – Repetiu ele muito surpreendido.
– Esperemos pela manhã, minha filha. 

Toda demora era para mim um verdadeiro suplício. Todavia esforcei-me por ter paciência e depois de ter abraçado meu pai, eu voltei para o meu quarto, mas as pálpebras fatigadas não podiam fechar-se. Eu ansiava por ir pedir perdão a Aninha. De todo o coração suspirava pelo dia. Depois de em vão ter esperado alguns minutos, que me pareceram longos como horas, foi-me impossível resistir mais tempo à voz da consciência. Então, precipitando-me de novo ao quarto de meu pai, eu supliquei-lhe que no mesmo instante me levasse à casa de Aninha.
– Ah! murmurei eu sem saber bem o que dizia, se ela morresse antes de me ter perdoado!

Meu bom pai olhou para mim com inquietação, colocou-me sua mão no rosto febril e depois de ter refletido disse: “Está bem, eu te acompanharei, minha filha”. Alguns minutos depois estávamos nós a caminho. Ao aproximarmo-nos da casa de Aninha, nos vimos várias luzes que se cruzavam em todos os sentidos na casa. Tremula, cheguei-me para meu pai.

Ele abriu a grade, sem ruído, e entramos em silêncio. O doutor, que nos conhecia, saía nessa mesma ocasião da casa. O seu assombro foi grande ao ver-nos ali a tal hora, mas como descreverei eu o que sofri, quando ele disse a meu pai que Aninha estava com um ataque cerebral!
– Sua mãe, continuou o doutor, disse-me que há alguns dias ela não andava bem, apesar disso quis ir à escola como de costume; mas parece que ontem à tarde ela voltou completamente mudada. Não pode cear, e sentou-se à mesa sem dizer uma palavra. Como parecesse triste, sua mãe tratou de descobrir o motivo; mas foi em vão. Por fim a pobre criança foi-se deitar, e cerca de uma hora depois, chamaram-me. Desde então não a deixei, e acho o seu estado muito grave.
– No seu delírio, pronunciou várias vezes o nome da Rute, ajuntou o doutor olhando para mim; com uma voz suplicante pedia-lhe que tivesse piedade dela e que a salvasse. 

Oh! Berta, que nunca sintas o pungente remorso que me repassou o coração ao ouvir estas palavras! À força de súplicas, consegui da mãe de Aninha licença para vê-la, por um instante. A viúva tomou-me pela mão e conduziu-me ao quarto da filha. Desde que a vi, perdi toda a esperança; as sombras da morte pareciam velar já a sua bela fronte e os seus olhos azuis. Consternada, trêmula, ajoelhei ao pé do seu leito, e murmurei palavras de arrependimento. Levantei os olhos para ela como para lhe implorar perdão, mais ai de mim! Não, Berta, dos seus lábios nunca mais eu devia ouvir uma palavra de perdão! Quando de novo tornei a ver Aninha ela dormia.

Suas faces não mais seriam coloridas desse vivo encarnado que as animava nos dias de saúde. As suas longas pestanas castanhas lançavam como que uma sombra fúnebre, sobre o seu rosto de mármore. Não mais havia delírio, não mais haveria palpitações de coração. Aquela mãozinha branca que ela apresentara às pancadas da palmatória estava junta a outra. O seus olhos não mais deviam encher-se de lágrimas, o seu seio, não mais devia arfar de aflição. Ela dormia o sono da morte!

A minha dor foi viva, o meu desespero imenso! Eu não podia me perdoar por ter contribuído para, pela minha indigna mentira, fazer descer ao túmulo tão meiga criança. Quão longo foi o inverno que se seguiu! A febre assaltou-me logo a seguir a estes sofrimentos morais. No meu delírio, eu chamava sem cessar pela pobre Aninha. Contudo o Senhor ouviu as orações de meu querido pai e me levantou do leito de dor. 

Quando a primavera semeou de flores a sepultura de Aninha, permitiram-me que fosse visitá-la. Eu não poderei dizer quão dolorosamente comovido ficou o meu coração quando sobre o mármore branco li estas palavras: ANA CLARA. Ajoelhei-me junto da sepultura, e orei durante muito tempo ao Senhor para que me perdoasse. Desde esse momento, Berta, eu fiquei aliviada, fortificada e consolada.

Pronunciando estas palavras, a tia Rute colocou ternamente a mão na cabeça da sobrinha. Desde há muito Berta se sentia comovida, e agora vertia lágrimas ardentes. Sua tia não tentou acalmá-la, porque esperava que estas lágrimas lhe seriam salutares.
– Peça por mim, querida tia, murmurou Berta. 
A tia fez subir ao Céu ardentes súplicas pela sua querida sobrinha. Berta nunca mais esqueceu aquele serão, porque um raio de luz divina acabava de penetrar-lhe na alma. 

A falsidade apareceu-lhe sob o seu verdadeiro aspecto, e ela sentia a necessidade de procurar o socorro de Deus. A tia Rute não se arrependeu de ter assim, evocado a mais triste recordação do seu passado, vendo o bem que dela resultou, porque esta encantadora menina, cuja boca fora tantas vezes manchada pela mentira, tornara-se, com o passar do tempo, um modelo de sinceridade, de veracidade e retidão, como o devem ser todos os meninos e meninas que querem servir a Jesus.

Fonte: livro Pérolas Esparsas

John Maynard, ele morreu por nós!

Num cemitério de Búfalo, nos Estados Unidos, eleva-se sobre um túmulo uma magnífica cruz de mármore. Em frente desse túmulo está assentado, em um banco, um velho de cabelos brancos. As mãos postas sobre os joelhos, ele tem os olhos fitos na cruz, enquanto pelas faces lhe deslizam abundantes lágrimas. Muitas vezes pode ser visto ali naquela atitude, rodeado de outros que também param comovidos.

Quando se lhes pergunta o que significa essa sua atitude, eles apontam para a laje de mármore sobre a qual se acha gravado em letras de ouro: “Ao timoneiro John Maynard. Os passageiros agradecidos do 'Schwalbe.' Ele morreu por nós!". Se insistirmos nos pormenores, com lábios trêmulos e olhos umedecidos ouvimos a seguinte e tocante história:

John Maynard era timoneiro num vapor que se dirigia de Detroit a Búfalo. Nós éramos passageiros. Corria uma bela tarde de verão e o convés regurgitava de gente, quando uma espiral de fumo começou a subir de dentro do vapor.

– Sympson, bradou o comandante, desce lá abaixo a ver o que há!
Sympson desceu e, tornado a subir, muito pálido, exclamou:
– Senhor comandante, o navio esta a arder. E imediatamente se ouviu de todos os lados o brado angustioso: "Fogo a bordo! Fogo a bordo!".

Toda a tripulação acudiu pressurosa, atacando vigorosamente o incêndio com poderosos jatos de água, mas tudo em vão. Havia, no carregamento, grande quantidade de resina e alcatrão, que frustravam todos os esforços para apagar o fogo. Os passageiros correram para o comandante e lhe perguntaram:

– Que distância nos separa de Búfalo?
– Uma milha e meia.
– Quanto tempo é necessário para vencer essa distância?
– Três quartos de hora (45min), se a marcha for mantida.
– Haverá algum perigo?
– Perigo? Vejam como a fumaça irrompe! Por Deus, refugiem-se na proa, se não querem perecer!

Todos se precipitaram para frente. Passageiros, marinheiros, homens mulheres e crianças. John Maynard, porém, se conservou ao leme. O fogo irrompia, despedindo chamas e negros rolos de fumo. O comandante, embocando o tubo acústico, brada:

– John Maynard!
– Às ordens, senhor comandante!
– Está ao leme?
– Sim, senhor!
– Qual é o rumo?
– Sul-sudeste!
– Aproe para sudeste.

A costa se aproximava, e outra vez bradou o comandante:
– John Maynard!

A resposta se fez ouvir muito fraquinha: Às ordens, senhor comandante!
– Resiste ainda cinco minutos?
– Resistirei com o auxílio de Deus!

O cabelo do velho timoneiro estava crestado até o crânio, o corpo queimado e a mão direita carbonizada. Firme, porém, como um rochedo em meio das águas, John Maynard carregou a esquerda sobre o leme e aproou a terra.

Todos estavam salvos, menos o timoneiro. Caindo na praia rendeu o espírito. Morreu por nós! Rodeamos o corpo, profundamente enternecidos e com os olhos rasos de lágrimas. Aqui está sepultado. Marinheiros e passageiros e quase toda a cidade acompanharam o seu sepultamento. Quando o corpo baixou à sepultura, fortes soluços e voz de choro se fizeram ouvir. Erigimos para ele este monumento, que passará, porque não resistirá à ação do tempo. A sua memória, porém, há de continuar em nossos corações – nunca o havemos de esquecer, porque ele morreu por nós.

“Prezado leitor! Dirija os teus olhos ao Gólgota, e verás ali três cruzes. Numa delas o “Varão de Dores” de quem testificou o profeta Isaías: ... Verdadeiramente, Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si... Foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades. O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele e pelas Suas pisaduras fomos sarados. Isaías 53:4 e 5.

Sua memória há de continuar em nossos corações. Nunca o havemos de esquecer, porque Ele morreu por nós!

Fonte: livro “Pérolas Esparsas”.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Os prefeitos de Rio Bonito desconhecem política econômica ou monetária

Flávio Azevedo

A minha reprovação aos governantes que nos últimos 20 anos, comandam e comandaram a nossa cidade, não é segredo para ninguém. Isso não quer dizer que nada foi realizado, mas uma análise fria e sem a influência do puxa-saquismo mostra que os prefeitos e os seus subalternos são arcaicos, usam e abusam do coronelismo e, consequentemente, são centralizadores ao extremo. Enquanto chega a Itaboraí um bilionário investimento (Comperj), os nossos comandantes insistem na política do revanchismo, do carrega gente, da obrinha eleitoreira e só pensam o futuro do município nos três meses de campanha eleitoral.

Durante um dos programas “Conta Corrente”, da Globo News, um economista afirma que o país para ser forte precisa oferecer bons salários e dar poder compra aos seu povo. Essa lógica serve para Estados e, naturalmente, para municípios. Contudo, analisando os fatídicos últimos 20 anos, não precisa ser um gênio para perceber que os nossos prefeitos não tiveram esse olhar. Individualmente, todos ganharam dinheiro, junto com aqueles que estavam em seu entorno, mas economicamente a população não cresceu. Diga-se de passagem, 98% dos nossos empresários precisam matar um leão por dia para manter os seus negócios funcionando.

Aliás, você sabia que a Prefeitura de Rio Bonito não conta com um economista em seus quadros? Então, quem orienta o chefe do poder Executivo? Só para refrescar a memória do nosso leitor, nós precisamos lembra-los que o poder riobonitense vem, ao longo dos tais 20 anos, se revezando nas mãos dum pecuarista e duma veterinária. Se não bastasse isso, no momento que se fala em valorização, fortalecimento do capital e aumentar o poder de compra, a prefeita tem a infeliz ideia de reduzir os salários de secretários e comissionados, o que é um retrocesso.

A verdade é que os salários deveriam ser aumentados e não reduzidos. Ela deve ter esquecido que para contar com bons quadros na sua equipe, os salários precisam ser bons. Quando a máquina pública paga bem, empresários e comerciantes lucram e são impulsionados a valorizar os seus colaboradores. Alguém pensou isso? Bem, ela não pensou e quem estava ao lado dela preferiu não dizer nada, porque poderia perder o lugar prometido. Aliás, não seria essa ampliação de cargos, que ela estaria pretendendo aumentar em 2014, uma estratégia para acomodar apadrinhados?

Sinceramente, você vê ou ouve debates onde o assunto Economia, criação de emprego, geração de renda e qualificação, sejam debatidos de maneira palpável e profissional? A busca real por uma universidade, por escolas técnicas e, sobretudo o fomento ao Ensino Fundamental, segmento que permite o futuro jovem chegar com base educacional no concorrido mercado de trabalho, é pensado por nossos prefeitos sem sensacionalismo político? Não, claro que não! Isso não dá voto e o que lhes interessa é o poder.


Como disse recentemente o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, ao comentar as siglas partidárias, uma fala que tranquilamente pode ser estendida aos políticos, “não existe consistência programática ou ideológica, querem o poder pelo poder”. Por outro lado, o cidadão não procura saber do candidato, quais são os seus projetos para o município. Pelo contrário, a busca é pelo que ele pode oferecer individualmente, “porque o meu voto ou o meu apoio não é barato”. Ou seja, é um círculo vicioso que não tem fim, porque boa parte dos que votam, “não tem ‘consciência’ programática, ideológica e querem o dinheiro pelo dinheiro”.

Falemos menos de política e mais de administração pública, mas é difícil!

Flávio Azevedo

Depois de defender a volta de Solange Almeida (PMDB) com unhas e dentes, o nosso glorioso Nadelson Nogueira está sendo taxado de “maluco” por reconhecer, publicamente, que ele se equivocou (eu não vou entrar nesse mérito). Por outro lado, num dos debates no Facebook, essa ferramenta fantástica, eu vejo o meu querido amigo Willian Teixeira defendendo o indefensável. Aliás, sempre converso com Willian sobre administração pública e sei que ele é inteligente o suficiente para perceber que Rio Bonito não está bem.

Aos meus amigos, eu devo dizer que em conversa com o vereador Edilon de Souza Ferreira, o Dilon de Boa Esperança (PRB), ele me disse que o material de construção para resolver o problema do “piolho de pardal”, na Escola do Chavão já está lá há duas semanas, mas até agora os operários necessários a execução do serviço não deram as caras. O vereador, inclusive, está com medo de que o cimento endureça e não possa ser utilizado. 

O problema é que segundo fontes, o primeiro escalão da Prefeitura não está satisfeito com a pequena vistoria que a população, a mídia local e os vereadores estão fazendo em algumas unidades escolares. Por conta disso, a determinação seria não executar o serviço, para “não dar moral” aos críticos. Sinceramente, se existe alguém que pensa dessa maneira, só pode ter comido cocô!

Eu devo deixar claro aqui, que as condições que o governo Mandiocão deixou as escolas, sobretudo as do interior, é, simplesmente pavorosa! Eu não consigo imaginar o que era feito com o recurso da Educação, diga-se de passagem, uma grana que não é pouca. Entretanto, até agora eu não vejo um antes e depois. Até março, a desculpa era o “rombo” que Mandiocão deixou. Como essa conversa já estava manjada, o argumento, agora, é de que o Orçamento em execução não foi planejado pela prefeita, mas pelo governo anterior.

E qual será a desculpa no ano que vem? Se o amigo leitor não sabe eu direi. Os secretários, essa garotada nova que entrou aí de cobaia... Eles serão demitidos sob o argumento de que a coisa precisa andar e que eles não entenderam a filosofia do trabalho pretendido (eu já vi esse filme!).

Sigo de cabeça erguida.
Por fim amigos, eu não preciso de perfil falso em rede social para falar o que penso sobre A, B ou C; tão pouco eu elogio o que está ruim para enganar quem está governando mal. Isso é sórdido! Eu sei que eu pago um preço alto por ser assim, mas prefiro ser autêntico. Qual é o preço? Não ser bem vindo a determinados lugares; ser olhado de cara feia em eventos públicos; e ser vítima de execráveis articulações que pensam estar fazendo sob minhas costas.

Mas a luta continua... E eu sigo de cabeça erguida, pois além de ter sido essa a postura e a profissão que eu escolhi para mim, eu aprendi com papai e mamãe que a honradez, a honestidade, a seriedade e a credibilidade valem mais que ouro. Eles ainda me ensinaram: “você nunca será aceito por quem não cultua esses valores”!


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Aumento salarial somente para os médicos pode representar um tiro no pé

Flávio Azevedo

Durante 15 anos da minha vida eu atuei como técnico de enfermagem em vários setores da área de Saúde, entre elas o SAMU.
Nessa terça-feira (28/05), os vereadores de Rio Bonito aprovaram, mensagem da Prefeitura, aumentando o salário dos médicos do SAMU, UPA e PSF. Recupero aqui a minha vida de técnico de enfermagem para fazer alguns questionamentos a chefe do poder Executivo da cidade.

A Unidade de Suporte Avançado (USA) é composta por motorista, enfermeiro e médico. Tire os dois primeiros, deixe só o médico dentro da ambulância e eu duvido que ele consiga atuar. Já a Unidade de Suporte Básico (USB), que conta apenas com técnico de enfermagem e motorista, funciona bem.

Na UPA, deixe o médico sem refeição e um quarto limpinho, serviços executados por copeiras e auxiliares de serviços gerais, e duvido que ele dará o plantão. Tire o técnico de enfermagem da enfermaria, deixe ela por conta do médico, logicamente com a obrigação de trocar o paciente, medicar, alimentar, mudar de decúbito... E duvido que a coisa ande. Por outro lado, eu já trabalhei 12h inteiras sem que o médico entrasse, uma única vez, na minha enfermaria.


Portanto, sem essa de que o médico é mais importante que as outras categorias, porque “todos somos necessários ao bom funcionamento da máquina da Saúde”. Aliás, privilegiar um segmento e esquecer o outro pode acabar em boicote, corpo mole e falta de vontade por parte daqueles que não foram valorizados!

Pediatra do Hospital Darcy Vargas é agredida por suposta demora no atendimento

Flávio Azevedo

A vereadora Rita de Cássia narrando os acontecimentos da última segunda-feira (28/05), no HRDV.
Durante a sessão itinerante dessa terça-feira (28/05), realizada na Escola Municipal Antônio Lopes Campos Filho, no Basílio, enquanto a mensagem que prevê o aumento do salário dos médicos da UPA, dos PSFs e SAMU era debatida, a vereadora Rita de Cássia (PP) disse que uma pediatra do Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV) teria sido agredida, na última segunda-feira (27/05), por uma mãe que estaria esperando atendimento, no Pronto Socorro, por cerca de seis horas (12h30min às 18h).

Segundo a vereadora, ela chegou ao hospital por volta das 18h, tomou conhecimento da espera e quando estava saindo viu agitação entre os médicos, a presença de policiais e soube da agressão.
– A justificativa era que o volume de pacientes era grande. De que lado nós iremos ficar? Quem nós iremos defender? De um lado a médica está sobrecarregada... Do outro lado, porém, essa mãe está desde 12h30min querendo socorro para o seu filho. Lá fora tinham outras oito mães reclamando da mesma espera – revelou a vereadora.

A parlamentar afirmou que esse é o momento dos políticos locais descerem do palanque, “porque acabou o período eleitoral e precisamos trabalhar”. O aumento do recurso, da Prefeitura para o HRDV, também foi comentado pela vereadora. Ela acrescentou que os vereadores precisam pensar essa questão junto com a prefeita Solange Almeida (PMDB) e com a diretoria da unidade. “Às vezes, é uma questão de acolhimento, porque a mãe está lá fora, mas o pediatra está no berçário, fazendo um atendimento interno”, ponderou a vereadora, acrescentando que “com a reformulação da equipe de recepção, a inexperiência dos novos profissionais pode ter contribuído para isso”.

O vereador Aissar Elias afirma que os médicos devem ser fiscalizados para saber se realmente estão rendendo o que se espera deles,
Funcionário do HRDV há cerca de 40 anos, o vereador Aissar Elias (PTN) disse que “é preciso apurar com muito cuidado essas questões”. Ele também comentou que o HRDV dispõe de uma Ouvidoria, que deve ser acionada nesses momentos. O parlamentar também comentou que “o protocolo da unidade é que quando o paciente chega grave o acolhimento tem que ser imediato”. O vereador ainda criticou a classe médica, abordou os altos salários e comentou a questão da produtividade.
– O médico, hoje, não quer trabalhar no hospital. Ele prefere os consultórios, porque ganha mais e evita esse tipo de situação. No hospital ele fica totalmente a mercê dessas situações, processos... E não querem ganhar R$ 8 mil não. Eles querem R$ 15 mil! O município está pagando bem e eles precisam render. Será que eles comparecem todos os dias no Posto de Saúde da Família? A comunidade tem que denunciar se eles estão estiverem trabalhando todos os dias – disparou Aissar, acrescentando que “se as crianças fossem atendidas no Posto de Saúde do bairro, as filas no hospital e na UPA seriam menores”.

O vereador comentou também que todos os profissionais deveriam ser valorizados, porque todos são importantes para o bom funcionamento da Saúde. O médico salva vidas e, na ausência deles, outros profissionais, que também têm as suas responsabilidades, podem salvar. O vereador disse ainda que os médicos de família não atuam como prevê o Programa de Saúde da Família, mas a comunidade precisa ficar atenta e denunciar. “Hoje o médico diz que só atende 10 pacientes. Já alguns médicos parecem que já estão com a receita pronta na gaveta. Eles nem olham para a pessoa que está necessitando de atendimento”, criticou Aissar.