segunda-feira, 15 de abril de 2013

Combate ao tráfico de drogas uma mentira promovida e estimulada pelo sistema

Flávio Azevedo

Semanalmente o jornal Folha da Terra nos trás notícias da prisão de esticas e supostos traficantes em vários pontos de Rio Bonito e região. Serra do Sambê, Praça Cruzeiro, Rio Vermelho, Mangueira, Basílio, entre outras localidades, sempre estão na mídia por conta desse modelo de criminalidade. Geralmente meninos muito novos, que enfeitiçados pelo ganho fácil enveredam por esse caminho, muitas vezes sem retorno. O noticiário frequente demonstra que embora esteja em número reduzido, a polícia está trabalhando e prendendo.

Contudo, às vezes, até para o próprio policial, o assunto acaba sendo irritante porque algumas perguntas não são feitas, alguns questionamentos não são respondidos e sempre ficamos com a impressão que às autoridades (e não estou falando da policia) não interessa a extinção desse problema, mas o controle dele. Como acontece com algumas espécies de medicamentos, que são baseados em “vírus atenuados” da própria doença que ele combate, o caso das drogas é atacado, mas a impressão que temos é que esse negócio (que movimenta bilhões) não pode acabar.

Todos nós sabemos que em Rio Bonito não existe plantação de maconha e coca; todos nós sabemos que a cidade também não conta com nenhum laboratório de refino; todos nós temos consciência que não fazemos fronteira com outro país, sequer temos um porto em nossa cidade. Aliás, a ferrovia que corta o município, há anos não funciona. Por aqui, o que nós temos são duas rodovias importantes (BR – 101 e RJ – 124), rota obrigatória para tudo que consumimos em nossa cidade.

É nessa hora que eu me pergunto se eu sou mais inteligente que os outros ou se os outros estão se fazendo de besta. É nessa hora que você é forçado a pensar que o tráfico de drogas é um negócio que as autoridades querem apenas controlar e não aniquilar. Mas por que não esse rentável negócio deveria ser extirpado, se alguém está lucrando com ele? Há anos eu venho dizendo que o tráfico de drogas é um setor comercial como outro qualquer.

Em Rio Bonito, por exemplo, além de não ser interessante o seu extermínio, ainda existe a questão do usuário que, por aqui, é o principal motor desse setor. De acordo com o chefe de investigação de determinado delegado que passou pela 119ª DP, a nossa cidade merece uma ‘curetagem’ bem feita em suas entranhas, “mas o resultado disso surpreenderia, ou não, muita gente”.
– Em Rio Bonito é mais fácil você investigar quem tem ficha limpa. Você terá menos trabalho, por que esses são muito poucos. Aqui é mais produtivo você procurar quem não está envolvido em sacanagem, quem não usa droga, quem não participa de ilegalidades, porque a grande maioria tem o rabo preso com alguma ilicitude e se a polícia for agir na forma da lei prende mais da metade da cidade – declarou aquele policial, acrescentando que não existe motivo para o pânico, porque essa é uma característica de todas as cidades de pequeno e médio porte.

Essa declaração me deixou pensando sobre os rumos que queremos dar para Rio Bonito. Você quando pensa está pensando para quem? Você quando defende a legalidade está fazendo isso para quem? Você quando prima pelos bons costumes... Zela moral, defende os valores, prega a importância da família e enfatiza que é preciso se abster daquilo que é nefasto... Está conseguindo ser ouvido? Está conseguindo ser entendido? Está conseguindo ser compreendido? Ou está se tornando um estraga prazeres?

O ator Wagner Moura interpretou o "Coronel Nascimento".
Tenho pensado muito sobre isso e descubro que o combate as drogas é uma falácia... Que a prisão dos esticas e traficantes é opcional, oportuna e faz parte de uma estratégia perversa de não deixar o garoto crescer o suficiente para tomar o poder da mão de quem realmente comanda “o movimento”... Isso é o que podemos entender como “SISTEMA”, uma das palavras mais usadas nos filmes, “Tropa de Elite”.

Aliás, como disse o fictício tenente coronel, Nascimento no segundo filme (certamente o melhor), “o sistema entrega a mão para salvar o braço... O sistema se reorganiza, articula novos interesses... Cria novas lideranças. Enquanto as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai resistir! Agora me responde uma coisa: quem você acha que sustenta tudo isso? É... E custa caro... Muito caro! O sistema é muito maior do que eu pensava! Não é a toa que os traficantes, os policiais, os milicianos matam tanta gente nas favelas! Não é a toa que existem as favelas! Não é a toa que acontece tanto escândalo em Brasília, que entra governo e sai governo e a corrupção continua... Para mudar as coisas... Vai demorar muito tempo. O sistema é foda! Ainda vai morrer muito inocente!”.

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